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Festivais

50º Gramado (2022) – “O Pato”

Lição de cinema vinda da Paraíba 

Por Ivonete Pinto | 20.08.2022 (sábado)

– na foto de Edison Vara/Agência Pressphoto, Antônio Galdino apresente seu O Pato.

Ainda escrevendo sem conhecer o resultado do júri oficial e na impossibilidade de revelar o prémio da crítica, urge um registro rápido sobre O pato.

O curta-metragem de Antônio Galdino, da Paraíba, foi um consenso sobre seu poder de síntese. Todo filme nesta  metragem deveria ser, em tese, conciso. Nem todos conseguem. Principalmente quando o tema envolve questões como a violência contra as mulheres, é comum nos defrontarmos com discursos e teses.

O pato, a despeito de seu título pouco feliz, cujo significado somente o diretor conseguiu explicar, em poucos planos distribuídos em 11 minutos conhecemos toda a situação da protagonista, sua filha e seu marido.

Filmado num ambiente rural, vemos ao longe um trator  em uma plantação. O ponto de vista é da casa, onde entram em cena uma mulher negra e sua filha.

O plano que apresenta a casa mostra um varal de roupas rente à parede frontal e outro  varal ao fundo, com lençóis estendidos.

Para um espectador mais atento, com uma mínima experiência de estender roupas em varais, vai perceber que tem algo estranho ali. Primeiro porque as roupas na frente da casa estão rentes à parede, ou seja, roupas não secam assim; segundo porque são peças de vestuário masculino, diferente das ao fundo do pátio. Assim, temos uma sugestão que se confirma ao final do filme. O marido não poderia estar junto à alva roupa de cama.

Mas o filme se detém mesmo na ação da esposa que, enquanto a filha brinca, prepara o almoço, matando, depenando, temperando e cozinhando uma galinha (não um pato).

A entrada do marido em cena se dá pelo canto do quadro, sem que vejamos seu corpo. Apenas um braço de homem branco pode ser notado.

Há um outro plano intermediário sobre o qual não se pode falar pois seria spoiler, mas ele até nem seria imprescindível para entendermos o que acontece na sequência.

Em meio a tudo, o olhar cansado  carrega a dor de uma mulher espancada, que tenta curar um ferimento com ervas caseiras.

A atriz Norma Góis tem no semblante toda opressão que a sinopse descreve como “ciclo de violência doméstica”.

O curta de Galdino nem precisaria de sinopse, nem de titulo, e acertou em cheio ao abdicar de qualquer diálogo.

O poder da imagem está todo ali.

O pato é um trabalho de fim de curso da Universidade de Utah, EUA, onde Galdino está se graduando. Mais do que um TCC, é já uma aula de cinema.

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