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Críticas

Verônica Guerin: O Custo da Coragem

Filme entrou em cartaz no Recife com atraso, podendo também ser encontrado nas videolodadoras.

Por Yuri Lins | 08.02.2023 (quarta-feira)

– texto originalmente publicado no jornal Folha de Pernambuco, caderno Programa, em 24 de julho de 2004, sábado 

Pode soar injusto exibir sombras de ambiguidade moral num filme que reconstitui a verdadeira história da incansável jornalista Verônica Guerin, assassinada enquanto investigava as altas negociatas do tráfico de drogas em Dublin, Irlanda, de 1996. Por outro lado, pode ser justo não exigir uma obra-prima dentro do gênero “filme jornalístico investigativo”. Entre uma coisa e outra, está Verônica Guerin: O custo da coragem (Verônica Guerin, EUA, 2003) em cartaz no Cine Apolo a partir de amanhã [25/7/2004].

Neste filme de Joel Schumacher (diretor de Por um fio; Batman & Robin), a narrativa começa pelo atentado fatal que a repórter e articulista do The sunday independent (respeitado jornal irlandês) sofreu em 1996, para, imediatamente depois, levar o público dois anos atrás. Guerin, casada e mãe de um garoto, acabara de desbaratar escândalos da igreja quando começa a se entusiasmar com informações sobre o submundo da droga.

Pelas mãos de Schumacher, o filme apresenta sua protagonista como uma espécie de santa da imprensa, com o dever acima do amor próprio. Cate Blanchett (Paraíso; Elizabeth) faz Guerin, o que ajuda bastante. O potencial da atriz é capaz de converter o espectador para a delicadeza da condição humana mesmo se ele estivesse atuando como figurante. Mas a estrutura amarrada na ação de O custo da coragem não ajuda a atriz a desenvolver esse lado muito provavelmente conflitante que a verdadeira jornalista deva ter sofrido.

Blanchett: capaz de converter o espectador para a delicadeza da condição humana mesmo se atua como figurante.

Veronica é jogada, todo o tempo, contra a brutalidade dos bandidões do tráfico, como se não houvesse ai um meio termo. A complexidade como Schumacher direciona o desenrolar da violência aqui, lembra seu antigo trabalho 8mm (1999), com Nicolas Cage, quando negocia a doente pressão social dos snuffs movies (vídeos reais que mostram pessoas sendo torturadas até a morte).

Exemplo disso está na sequência de abertura e em outra posterior, quando Gilliam, o mais poderoso em temidos dos traficantes (o muito bom Gerard McSorley) resolve assustar um de seus capangas, sobrando ira inclusive para sua própria esposa. A cena, quebrando a investigação de verônica, aparentemente não tem função no roteiro, a não ser adicionar um pouco de violência extra ao público.

Também no elenco: Colin Farrell

De qualquer modo, O custo da coragem pode soar interessante a estudantes de jornalismo, ou ainda a pretensos estudantes de jornalismo, pela carga informava e rememorativa sobra a figura heroica (louca?) de Verônica Guerin. Como cinema, entretanto, o filme soa um pouco eufórico demais.

Observação: o filme estreia no Recife com quase cinco meses de atraso. Não estranhe se já vir o filme numa prateleira de locadora.

 

O filme pode ser visto na íntegra, dublado, gratuitamente, pelo YouTube, clicando aqui.

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