
Animais Perigosos
Talento australiano, como de costume, em função do bom horror
Por Luiz Joaquim | 18.09.2025 (quinta-feira)

É sempre inteligente ficar atento aos filmes australianos “pequenos” que conseguem chegar ao circuito exibidor mainstream comercial brasileiro. Não raro, eles indicam novos talentos que, no futuro, se tornarão fichinhas carimbadas com muitas estrelas.
Se voltarmos 36 anos, por exemplo, teremos Terror à bordo (1989), de Phillip Noyce, apresentando ao mundo Nicole Kidman e Billy Zane como a heroína e o vilão, respectivamente, isolados num barco em alto mar compondo um thriller “eletrizante”, como gosta de anunciar o seu marketing (e, desta vez, ele estava sendo honesto).
A partir de hoje (18), o Brasil conhecerá nos cinemas Animais perigosos (Dangerous Animals, Oz., 2025), de Sean Byrne, apresentando ao mundo Hassie Harrison e Jai Courtney como a heroína e o vilão, respectivamente, isolados num barco em alto mar compondo um thriller “eletrizante”, como gosta de anunciar o seu marketing (e, desta vez, ele está sendo honesto).

Zephyr (Harrison), um espírito livre que esbarra num psicopata
Não que possamos garantir Harrison como a “próxima Kidman”, muito embora a moça já esteja aprovado pelo critério “talento + beleza” por este Animais perigosos. A mesma lógica avaliativa aqui serve também para Courtney, que nos entrega um vilão odioso e irritante, em seus silêncios com expressões faciais quase indecifráveis.

Courtney, violão de eloquência silenciosa
A premissa no enredo escrito por Nick Lepard é simples, mas eficiente conforme aquele que esteja comandando o filme e atores à frente das câmeras. Harrison vive a surfista Zephyr, um espírito livre, que faz de sua van sua própria casa, para estar sempre em movimento em busca das melhores ondas.
Aqui um parênteses, a música Dancing with myself, de Billy Idol, acompanhando os créditos de abertura, ajudam a apresentar a moça. A escolha musical acertada, em melodia e letra, é só mais um índice da coerência que cerca o todo de Animais perigosos.
E, dentro dessa liberdade, a heroína topa com o serial-killer Bruce (Courtney), obcecado por tubarões, que a sequestra mantendo-a em cativeiro no seu barco. Ela não é a primeira sequestrada, na coleção do serial-killer, mas é a mais inteligente. Começa então, o jogo de gato e rato tradicional mas, aqui sob os cuidados do diretor Byrne, sendo muito bem administrado em suas tantas reviravoltas.
A classificação indicativa de Animais perigosos é 18 anos, ou seja, não é algo levinho o que temos aqui, como toda boa obra dodói da cabeça que chega da Austrália. O vilão Bruce não se contenta apenas em jogar sua vítimas ao mar para os tubarões as dilacerarem. Bruce quer é apreciar, repetida vezes, o preciso momento em que as vítimas deixam de estar vivas para estarem mortas.

Iscas-vivas: a brincadeira é bruta, aqui.
E, repetindo, o ator Courtney, aproveita muito bem seus vários momentos para compor o doente Bruce. Desde os silêncios, já comentados aqui acima, como também nos momentos de alegria. Sua dança solitária pelo jubilo de ter massacrado uma vítima é uma sequência marcante, e que poderia ser banal se por um ator banal.
Na verdade, a dupla Courtney / Harrison está numa afinação bonita de ver em tela. Se é da moça a fala mais marcante do filme, quando a heroína Zephyr resume em uma frase a síntese psicológica que explica a estupidez que move um serial killer como Bruce, a reação do vilão é, na mesma medida, assustadoramente eloquente.

A dupla Harrison / Courtney: ótima química no jogo do gato x rato
Para concluir, falamos do início: o prólogo de Animais perigosos é um primor. Poderia funcionar como um curta-metragem independente ou mesmo ser exibido como trailer do longa-metragem.
O tal prólogo, antes dos créditos, desenha com cuidado e precisão o vilão com quem iremos conviver na próxima hora e meia. É uma mistura de atração e repulsa na medida certa, com direito a cantoria descontraída do infantil Baby shark para contrastar com o bizarro que vem logo logo na sequência. Coisa boa, esse prólogo.
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