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Reportagens

Filmagens de Amigo de Risco, no Recife

Um filme de Risco

Por Luiz Joaquim | 17.11.2005 (quinta-feira)

Senso de oportunidade e muita competência estão por
trás de “Amigo de Risco”, projeto inicialmente pensado
para ser um curta-metragem mas que agora está sendo
concebido como um longa-metragem. Quem dá corpo ao
filme é a produtora Símio Filmes, quem dá alma é um de
seus sócios, o diretor Daniel Bandeira. A produtora
Sarah Hazin explica que a obra será a primeira da
empresa, atuando desde 2001, a ser finalizado em 35mm.

Na madrugada do último domingo, a Folha de Pernambuco
acompanhou uma noite na captação de imagens dessa
audaciosa e necessária ficção pernambucana, que
promete uma incursão pelos subúrbios recifenses. As
filmagens iniciaram em 30 de setembro e terminam no
próximo domingo, mas é provável que apenas poucas
pessoas tenham flagrado e equipe da Símio em ação nas
ruas de Afogados, Jardim São Paulo e Boa Viagem –
bairros escolhidos para locação.

Isso porque “Amigo de Risco” é um filme inteiramente
rodado madrugada adentro. No enredo, tudo se passa em
uma noite, quando os amigos Nelsão (Paulo Dias) e
Benito (Rodrigo Riszla) encontram Joca (Irandir
Santos), velho amigo que chegou do Rio de Janeiro, e
resolvem sair a noite para se divertir. Até que uma
fatalidade atinge Joca e os outros dois têm de
carregar, sem dinheiro ou transporte, o corpo
desacordado do amigo pelas vielas da cidade.

“O longa é dividido em duas partes”, explica Bandeira.
“Quando decidimos estender o roteiro para um longa,
fizemos da primeira parte um espaço para desenvolver o
perfil dos personagens”. O ator Irandir Santos,
selecionado pela Símio a partir de um teste que fez
para atuar em “A Vida É Curta”, de Leo Falcão, explica
que o seu personagem, Joca, é um inconseqüente. “Ele é
um cara que tem boas intenções, mas sempre busca o
método mais fácil e acaba prejudicando os outros”.

Joca, diz Paulo Dias, é um pouco como o Nelsão.
“Interpreto um cara brincalhão, muito influenciável,
que normalmente fica em cima do muro, mas quando pisam
no seu calo ele grita alto”. Já Benito é o
politicamente correto da história. “Ele fica censurado
tudo. Dos três personagens é o mais psicologicamente
organizado”, adianta Riszla.

Diretor de alguns curtas e editor de dezenas de
outros, Daniel Bandeira vem amealhando diversos
prêmios, como aconteceu com “A Menina do Algodão” ,
co-dirigido com Kleber Mendonça Filho, assim como
“Vinil Verde”, por ele montado, e que o levou ao
Festival de Cannes, o mais prestigiado do mundo, onde
foi exibido na mostra paralela “Quinzena dos
Realizadores” em maio último.

Um outro curta que dirigiu, “Contratempo”, deu a
Bandeira o prêmio de R$ 14 mil em serviços pela
empresa Casablanca – Teleimage, quando venceu, com o
filme, a mostra Cinema Digital da Fundação Joaquim
Nabuco, em 2004. “Esse prêmio garantia a finalização
de meu próximo projeto em curta-metragem com até 20
minutos. Resolvemos aproveitar a oportunidade para
levantar verba e completar o serviço para um
longa-metragem”, revela o diretor.

Com uma equipe abnegada pelo que faz, o orçamento
apertado de “Amigo de Risco” (R$ 280 mil, dos quais já
conta com R$ 49 mil aportado pela Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco – Chesf) faz deste um
projeto corajoso, mas que não abre mão da qualidade
técnica. Apesar do baixo custo que representa gravar
imagens com uma câmera digital (no caso, o modelo
AG-DVX100A, 24p, da Panasonic, da própria Símio)
existe uma perspectiva estética em questão.

Pedro Sotero, diretor de fotografia, conta que tudo
está sendo registrado com iluminação natural, ou seja,
com a luz dos postes de rua e as lâmpadas dos recintos
fechados. “Nesse sentido, a orientação foi para que na
primeira parte fizéssemos imagens num tom mais frio, e
à medida em que os problemas vão surgindo na história,
a fotografia vai esquentado a ponto de ficar quase
vermelha”. Sotero revela que a direção de arte e o
figurino acompanham a mesmo desenvolvimento nervoso.

Para a pergunta sobre que cuidados tomar em rodar um
filme inteiramente com luz natural da noite, o
fotógrafo explica: “Não posso sub-expor ou sobre-expor
a imagem, pois não dá pra corrigir na finalização”.

Tendo recentemente trabalhado como assistente de
fotografia, no Rio de Janeiro, do ainda inédito “Os
Desafinados”, de Walter Lima Jr, Sotero diz ainda que
apesar de vários planos fixos em “Amigo de Risco”,
tudo está sendo captado, por opção estética, com a
câmera na mão, sem tripé.

Entre as instituições que trabalham junto a Símio para
tornar “Amigo de Risco” numa realidade, é importante
ressaltar a Policia Militar de Pernambuco, CTTU,
Quanta, os restaurantes Salamaleque, Papaya Verde,
Macunaíma, Porto Ferreiro, Alphaiate, UK Pub,
Arriégua, a gráfica Microart, o MetroRec, posto
Ipiranga Ouro Preto, do Shopping Center Recife, da
Fundação Joaquim Nabuco, da Rec Produtores Associados,
da Água Cerra Branca e Gelos Iduna.

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Um filme de risco

Por todo o histórico de talentos que envolve a equipe
técnica de “Amigo de Risco”, o projeto promete chamar
bastante atenção por ocasião de seu lançamento (ainda
sem data definida). Mas, também por optar rodar a
maior parte das seqüências na periferia pobre do
Recife, os bastidores da produção guardam histórias
tão interessantes quanto a que estará impressa na
tela.

Na madrugada de 13 de outubro, quando filmavam numa
rua por trás da estação do metrô de Afogados, a equipe
escutou disparos de tiros ali próximo. A escolta
policial que acompanha a Símio Filmes durante as
filmagens foi logo acionada, mas o ocorrido só
amplificou a tensão que vinha cercando o grupo durante
o trabalho.

Dois dias antes, numa seqüência filmada numa boate no
Recife Antigo, os atores Paulo Dias, Rodrigo Riszla e
Irandir Santos encenavam uma situação tensa, dentro de
um quarto, ate que ouviram uns berros de xingamento
vindo de outro recinto. “Alguns gritos pareciam até
com o que dizemos em nossas falas”, comentou Riszla já
mais tranquilo, quando o ocorrido já tinha virado
história e engrossava o folclore dos bastidores.

O que aconteceu, explicou o ator, é que um grupo de
quatro estrangeiros queria entrar na boate a todo
custo. Mediante a impossibilidade, para não atrapalhar
as filmagens, os estranhos discutiram com a segurança
do local, resultando num conflito; atingindo,
inclusive, o carro de um jornalista, que havia
emprestado seu automóvel como suporte para a produção.

Nas filmagens feitas na madrugada de domingo, tudo
correu tranquilo. Numa seqüência em que Paulo Dias e
Rodrigo Riszla arrastam e carregam Irandir Santos
desacordado, apenas um cachorro vira-lata, que passava
por ali, encrencou com os atores. Mais aí a equipe só
fazia comemorar, pois o pulguento acabou emprestando
realismo a toda situação.

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