Guerra dos Mundos (2005)
O fim do mundo… de novo
Por Luiz Joaquim | 19.07.2018 (quinta-feira)
– publicado originalmente em 29 de Junho de 2005 no jornal Folha de Pernambuco
É intimidante, e quase patético, tentar descrever o que se vê em Guerra dos Mundos (War of the Worlds, EUA, 2005), superprodução de Steven Spielberg em exibição nos cinemas. Intimidante porque a história da civilização sendo dizimada por alienígenas deriva para uma tonelada de analogias com o universo sócio-político em que vivemos no passado e no presente. Analogias, diga-se de passagem, já estudadas à exaustão por especialistas. Tentar descrever o filme é quase patético pois durante os 116 minutos há um sem-número de informações visuais espetaculares que remete não só a velhos pesadelos de infância como a novos pesadelos que ainda nem conhecemos. Qualquer tentativa, enfim, de descrever o filme será pobre.
Há ainda o nome poderoso de Spielberg por trás da produção que dá toda uma nova dimensão a Guerra dos Mundos, cujo roteiro foi adaptado por Josh Friedman e David Koepp a partir do romance homônimo, escrito em 1898, por H. G. Wells. Spielberg, é preciso lembrar, já criou obras na faixa máxima da emoção envolvendo criaturas alienígenas. Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977) e E. T.: O Extra-Terrestre (1982) são obras que já se embrenharam pelo consciente coletivo quando se tenta vasculhar uma memória de imagens para esses bichos.
A diferença em Guerra dos Mundos é que os alienígenas não vieram fazer amigos, mas sim exterminar a tudo e a todos. Não seria necessário muito mais além dessa informação para estimular o público a ir a cinema assistir esse enredo se Hollywood não tivesse provido o mundo com tantas bobagens pirotécnicas a respeito, como Independece Day (1996) e Homens de Preto (1997/2002) entre outros.
Em seu novo filme, assim como em Contatos… e E.T., Spielberg privilegia a perspectiva dos humanos e é daí, aliado a sua maestria em harmonizar tensão sentimental com efeitos especiais, que Guerra dos Mundos voa milhas a frente de filmes antecessores com o tema “extraterrestres do mal”.
A propósito de tecnologia, o diretor usualmente é um lançador de moda. Talvez seu último legado nesse campo tenha sido em O Resgate do Soldado Ryan (1998), na seqüência realista do ataque à Normandia. Em Guerra dos Mundos Spielberg nos presenteia com mais um delírio visual que poderá passar despercebida pelo público mas, sem dúvida, é determinante para reforçar o desespero de Ray (Tom Cruise) e seus filhos Robby (Justin Chatwin) e Rachel (Dakota Fanning), quando estão em fuga num automóvel. Eles são o núcleo dramático da história, que é bastante próxima a da primeira versão cinematográfica do livro, rodada em 1953 (e disponível nas locadoras) por Byron Haskin.
Em termos políticos, talvez o que mais salta aos olhos aqui, seja a coragem e audácia de Spielberg em rodar e lançar um filme tão virulento no que diz respeito a era pós 11 de setembro. Depois da tragédia que atingiu as Torres Gêmeas, o público passou a ver produções hollywoodianas esquivando-se em mostrar uma tragédia de proporção global como entretenimento. O mais próximo disso feito nos últimos três anos foi O Dia Depois de Amanhã (2004), mas ali o inimigo era a natureza. Algo impessoal e sem personalidade de “mal” além de impossível de atingir com armas.
É arrepiante a seqüência em que Cruise chega em casa mudo, de olhos arregalados e coberto de poeira. Soa como um déjà vu que os norte-americanos conhecem muito bem. Pior que o sofrimento do ator no filme, só mesmo o dos jornalistas que tentam, em vão, traduzir as emoções de Guerra dos Mundos em poucos linhas.
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