X

0 Comentários

Reportagens

Revendo 2005

O ano 2005 pelo cinema

Por Luiz Joaquim | 26.12.2005 (segunda-feira)

Entre tantos tópicos que possa fazer de 2005 um ano
memorável para o cinema mundial está um forte:
cineastas já consagrados e adorados fizeram deste
período uma época para ser lembrada como a de
lançamentos importantes, com títulos que lhes darão
orgulho ao lerem sua filmografia. Um destes é Oliver
Stone, que logo em janeiro nos deu “Alexandre”. É
verdade que Stone amargou um fracasso de bilheteira
aqui, mas também provocou alvoroço entre a crítica,
dividindo-a, é verdade, mas isso não deixa de ser um
elogio.

Em fevereiro, um duelo de gigantes se fez acontecer e
público, além da crítica, saiu ganhando. Era Martin
Scorsese de um lado com seu “O Aviador” e, do outro, o
septuagenário Clint Eastwood com a obra-prima “Menina
de Ouro”. Talvez o melhor de todos os filmes lançados
no Brasil em 2005. Em maio, uma gigantesca comunidade
mundial de fãs da quase balzaquiana série “Guerra nas
Estrelas” parou para assistir um episódio (o terceiro)
crucial da saga: “A Vingança dos Sith”. A despeito da
má expectativa que George Lucas criou com o filme
anterior, este novo trabalho agradou tanto que até foi
comparado a uma ópera.

Steven Spielberg não também ficou por baixo. Com a
missão de refazer com competência um clássico do
imaginário da ficção-científica, se superou ao lançar
em junho “Guerra dos Mundos”. Nos mês seguinte, foi a
vez de Tim Burton adaptar para uma nova geração “A
Fantástica Fábrica de Chocolate”, um clássico que mexe
até hoje com muitos marmanjos. Não tão conhecido, mas
não menos talentoso é George Romero, que retomou em
agosto, com “Terra dos Mortos”, o filão dos zumbis,
que criou nos anos 1960 revolucionando os filmes de
horror para sempre. E por fim, Peter Jackson nos dá
prova, agora em dezembro, com seu “King Kong”, que ele
é atualmente ‘o senhor do cinema’.

Por outra mão, o circuito alternativo no Recife
conheceu em 2005 uma dinâmica que merece atenção.
Enquanto o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco fechava
as portas em janeiro para uma reforma estrutural que
durou oito meses, o Box Guararapes e o Grupo Severiano
Ribeiro arrefeceram suas ‘sessões de arte’. Esta
última empresa até criou um novo seguimento dentro da
programação: a “Faixa Nobre”, na qual, de segunda a
quinta-feira, sempre às 19h30, o espectador ainda tem
chance para ver alguns títulos que antes se restrigiam
a três horário: um na sexta-feira, outro no sábado
pela manhã e outro na segunda-feira.

Com a principal sala de lançamentos alternativos da
cidade em reforma, as ‘Sessões de Arte’ dos multiplex
ganharam força, trazendo títulos inesquecíveis, mas
mal aproveitado pelos programadores. Entre eles, em
março, “O Lenhador”, em maio “Para Sempre na Minha
Vida” e “Um Coração Para Amar”, em junho “Tentação”,
em agosto “Contra a Corrente” e “Bom Dia, Noite”, em
outubro “Jornada da Alma” e “Irmãos”, e em novembro
“Manderley”.

O Cine Apolo também ganhou força com sua programação,
com destaque em outubro para “Vera Drake”. Além de
suas tradicionais mostras anuais – como a de
documentários (em maio, com destaque para
“Mondovino”), e a itinerância do Festival
Internacional de Curtas de SP (este no Cinema do
Parque, em setembro) – a curadoria das salas da
Prefeitura do Recife agregou, em março, a Mostra
Francófona, e trouxe títulos curiosos como “Pequeno
Senegal” e “A Culpa É de Voltaire”.

Em setembro, o Cinema da Fundação reabriu as portas
com admirável infra-estrutura e prometendo bilheteria
eletrônica, um novo café bistrô e projeção digital.
Este último item já pôde ser conferido, há duas
semanas, por ocasião da mostra “Expectativa 2006”,
quando aconteceram as dez primeiras projeções neste
sistema no Recife. Entre os filmes estava o, delicado
e polêmico, “The Brown Bunny”. Título que só chegou
agora a cidade porque não há cópias em película no
Brasil.

A “Expectativa” da Fundaj, a propósito, ganhou, em
novembro, um concorrente de peso. Com a ‘Mostramundo”,
a Faculdades Integradas Barros Melo (Aeso), antecipou
alguns filmes que vão fazer e acontecer em 2006. A
mostra foi um presente mal recebido pelo público dos
multiplex UCI/Ribeiro que, despreparado para filmes
como “Cachê”, “O Filho” ou “O Fim e O Princípio”, não
soube explorar o evento em toda sua dimensão.

Do Cine-PE 2005, em abril, a lembrança mais marcante é
a de que títulos captados e projetados em digital
ganharam espaço no horário nobre, ao lado dos curtas
em película de 16mm e 35mm. Na área de home-vídeo,
Pernambuco viu surgir, também em abril, um projeto
audacioso de Ricardo Carvalho e Ernesto Barros chamado
“Aurora DVD”. Com uma catalogo do qual todos os
títulos merecem reverência, a empresa colocou o Estado
no circuito brasileiro das sérias distribuidoras de
DVD.

2005 poderá ainda ser lembrando com um ano das
refilmagens. Além de “Kong” tivemos “O Massacre da
Serra Elétrica”, “Alfie”, “Assalto a 13ª DP”, “A
Feiticeira”, e uma especial dedicação de Hollywood ao
gênero J-Horror com “O Grito”, “O chamado 2”, “Visões
2” e “Águas Negras”. Entre os filmes que 2005 poderia
ter passado sem eles, lembramos de “O Amigo Oculto”,
“Constantine”, “Procura-se Um Amor que Goste de
Cachorro”, “A Lenda do Zorro” e “Coisa de Mulher”, só
para citar os equivocados.

DOIS SERTANEJOS CONQUISTARAM O CINEMA
O Brasil não teve representante na festa do Oscar
deste ano, e isso não teve a menor importância se
considerarmos que 2005 foi o ano mais ‘internacional’
do cinema brasileiro nos últimos anos. Com o detalhe
de que a produção de Pernambuco, em particular,
brilhou mais que qualquer outra. Se tivéssemos que
eleger o melhor do ano, este seria “Cinema, Aspirinas
e Urubus”, de Marcelo Gomes. E quem atesta não é um
crítico recifense, mas a mostra Un Certain Regard, de
Cannes, e a Mostra Internacional de Cinema São Paulo,
que pela primeira vez , em 29 anos, deu o título
máximo a um filme nacional.

Curioso que esse respaldo não teve oportunidade de ser
verificado pelo público. Até o momento (o filme
continua em cartaz), apenas 57 mil pessoas conferiram
“Aspirinas”. Por outro lado, “2 Filhos de Francisco”
fez história junto ao espectador – cerca de 5,3
milhões deles – que fez deste trabalho de estréia de
Breno Silveira o de maior bilheteria nacional desde o
início da Retomada, em 1995.

O desempenho do filme da dupla sertaneja foi realmente
impressionante, se considerarmos que as 40 produções
brasileiras lançadas em 2005 levaram apenas 11,1
milhões de pessoa às salas. Mesmo com as pesquisas
mostrando a refração do público em 2005 aconteceu em
esfera mundial, não se pode negar que o fraco apelo de
boa parte destes 40 títulos nacionais também ajudou a
afastar a platéia dos cinemas. É o caso de “O
Casamento de Romeu e Julieta”, “Casa de Areia”,
“Gaijin 2” e, o mais decepcionante de todos “O Coronel
e O Lobisomen”. Por outro lado, títulos como
“Redenção”, “Quase Dois Irmãos”, “A Pessoa É Para o
Que Nasce” e “Cidade Baixa” não serão facilmente
esquecidos.

Ainda no quesito internacional, dois lançamentos
estrangeiros eram aguardados com expectativa pelo
brasileiros: o norte-americano “Águas Negras”,
dirigido por Walter Salles; e britânico “O Jardineiro
Fiel”, dirigido por Fernando Meirelles. Quem também
ganhou as luzes da mídia estrangeira, a italiana, mais
precisamente, foi outro pernambucano: Lírio Ferreira,
no Festival de Veneza, com “Árido Movie”, ainda
inédito no circuito brasileiro.

PERNAMBUCO – Além de Gomes e Lírio, outro nome
pernambucano foi notícia no exterior: Kleber Mendonça
Filho. Com seu curta “Vinil Verde”, participou do Un
Certain Regard e mais duas dúzias de festivais. Com o
novo “Eletrodoméstica”, Kleber também chamou atenção
no Festival do Rio e em Santa Maria da Feira,
Portugal, onde mostrou um primeira edição do
documentário que prepara sobre a relação da crítica
com cineastas e vice-versa. Fechando o ano,
“Eletrodoméstica” foi selecionado para Clermont
Ferrand, França, o mais importante festival de curtas
do mundo.

No circuito brasileiro de festivas, o curta
pernambucano mais comentando foi “Entre Paredes”, de
Eric Laurence, tendo amealhado mais de 30 prêmios em
diversos festivais. No festival de Brasília, em
novembro, Camilo Cavalcanti também brilhou com
“Rapsódio para Um Homem Comum”, devendo brilhar ainda
mais em 2006. Daniel Bandeira e sua produtora “Simio”
também deu um passo histórico e corajoso em 2005, ao
iniciar “Amigo de Risco”, longa-metragem rodado
totalmente em digital no Estado. Paulo Caldas, por sua
vez, viajou a Petrolina para dar início ao novo
trabalho “Deserto Feliz”, e Kátia Mesel deu mais um
passo a frente quando filmou seqüências para “O
Rochedo e A Estrela”, no Mercado da Ribeira.

Mais Recentes

Publicidade