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Críticas

Missão Impossível 3

Pela lógica do impossível

Por Luiz Joaquim | 04.05.2006 (quinta-feira)

Mesmo que você não queria, você irá assistir “Missão
Impossível 3” (Mission: Impossible-3, EUA, 2006). Ao
menos é isso que a distribuidora UIP vai tentar fazer
aqui no Brasil, e as distribuidoras do filme no resto
do mundo também com a estréia mundial de hoje. E como
conseguirão fazê-lo? Basta dar uma olhada na grade de
cinema e verificar que, só aqui no Grande Recife, das
40 salas comerciais existentes, o filme entra em 15
delas. Isso significa que quando você for ver qualquer
outro filme num multiplex, e a lotação estiver
esgotada, é na sala exibindo a nova aventura com Tom
Cruise que você vai entrar para não perder a viajem.

Como não poderia ser diferente, a terceira parte da
franquia “M:I” não exige muito do cérebro do
espectador. Pelo contrário, o filme dirigido pelo
estreante no cinema J. J. Abrams (produtor e criador
das séries “Lost”, “Alias” e “Felicity”), e
co-roteirizado por ele com Roberto Orci (de “A Ilha”)
e Alex Kurtzman, explora ao limite a teoria
hitchcockiana do “MacGuffin”.

“MacGuffin” era como Alfred Hitchcock chamava qualquer
coisa no filme que não tem a mínima importância para o
espectador, mas que é a coisa mais importante do mundo
para o protagonista da aventura. Em “M:I-3”, o
“MacGuffin” chama-se “Pé-de-Coelho”, ou seja, é algo
(nunca revelado) que o arqui-vilão Owen Davian (Philip
Seymour Hoffman, oscarizado por “Capote”) trafica.
Sabe-se que, se o tal “Pé-de-Coelho” for parar em
“mãos erradas”, o mundo pode ser devastado, conforme
teme o especialista em tecnologia da IMF (Impossible
Mission Force), a agência onde trabalha Ethan Hunt
(Cruise).

A prólogo de “I:M-3” é eletrizante. Dá, em rápidos
minutos, o tom do quem vem adiante e, entre outras
coisas, realça o talento de Hoffman. Com uma arma
apontada para a amordaçada esposa de Ethan (Michelle
Monaghan), também preso diante dela, vemos Hoffman
tranqüilamente explicando ao desesperado agente que,
se em 10 segundos ele não revelar onde está o “Pé-de
Coelho”, ela morre ali.

A seqüência reaparece posteriormente mas, até chegar
lá, voltamos no tempo é descobrimos Ethan em sua festa
de noivado, onde todos, inclusive a noiva, acredita
que ele trabalha como controlador de tráfego urbano.
Essa relação familiar, envolvendo confiança e
desconfiança, é o elemento que diferencia o novo filme
dos anteriores. Agora, Ethan quer largar a vida de
agente e ser um pacato pai de família.

Se levarmos em conta a recente superexposição da vida
do galã Cruise com sua nova esposa, Katie Holmes, e
seu recém-nascido bebê, não é de se admirar que a
atmosfera “família” tenha inebriado o terceiro filme
desta série tradicionalmente oca de relações amorosas.
E a última imagem que o filme mostra parece não deixar
dúvidas sobre isso.

Não se engane em pensar que Cruise não tenha
interferido nesse projeto tão pessoal chamado “M:I-3”.
Em 1996, o diretor Brian Di Palma foi responsável pelo
resgate desta marca nascida numa telesérie dos anos
1960, mas em 2000, “M:I-2” já tinha a assinatura de
Cruise, ao menos na produção, junto a sua colega Paula
Wagner. Ali, eles confiaram a continuação aos cuidados
do chinês John Woo, e não foram decepcionados. O filme
arrecadou US$ 215 milhões só nos EUA.

O novo filme custou cerca de US$ 150 milhões e também
deve agradar o mesmo público que deu meio bilhão de
dólares, seis anos atrás, a Cruise, a Wagner e a
Paramount Pictures. Mesmo porque, todos os
ingredientes antigos estão aqui novamente, e agora com
uma pitada de romantismo.

A produção do filme alardeia que Cruise, 43 anos, fez,
ele mesmo, todas as cenas de ação. A informação,
verdadeira ou não, é própria para estimular as fãs do
ator a irem conferir como ele em Xangai, Berlim, ou
mesmo no Vaticano, consegue saltar de pára-quedas de
um arranha-céu, ou escapar de carros explodindo em
pontes bombardeadas sob rajadas de bala, e sair apenas
com um estratégico e charmoso arranhão no nariz ou na
bochecha. Enfim, comprar um ingresso para “M:I-3” é
como comprar um bilhete para ter acesso a uma
roda-gigante luminosa e colorida num parque
barulhento. O que não é nada mau, se você não sofre de
labirintite.

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