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Críticas

Coisas que deixamos pelo caminho

Para curar uma viúva e um drogado

Por Luiz Joaquim | 04.01.2007 (quinta-feira)

A estrela maior em “Coisas que Perdemos Pelo Caminho” (Things We Lost in Fire, EUA, 2007), que estréia hoje, é a oscarizada Halle Berry (por “A Última Ceia”), mas quem brilha mesmo é o porto-riquenho, e também oscarizado, Benicio Del Toro (por “Traffic”). Dirigido pela dinamarquesa Sussane Bier, a obra parece buscar a atenção para mais estatuetas, contando o drama da recente viúva Audrey, feita por Berry, que resgata das drogas Jerry, vivido por Del Toro, o melhor amigo do falecido.

O curioso é que apesar do tema sério e comovente, o tamanho do drama não parece alcançar uma dimensão universal a ponto de agradar a Academia, ou a atender ao padrão Hollywood. Curioso também é que a boa performance dos protagonistas, descontraída e desprendida, é exatamente a responsável por empurrar o filme para fora deste padrão de plástico do mainstream norte-americano. O bom efeito só é quebrado pela trilha sonora melosa do sueco Johan Söderqvist que acaba por nos lembrar que ali temos um filme melodramático, onde a música ressalta o que não é preciso.

Nos primeiros 30 minutos, Bier nos dá elipses no tempo onde acompanhamos passado distante, recente e presente para saber como o bem-sucedido Brian (David Duchovny), marido de Audrey, perdeu a vida tentando apartar um casal brigando na rua, e daí entender como Jerry, seu amigo de infância e hoje viciado em drogas, foi morar com a fragilizada família da viúva Audrey, com seus dois filhos, de dez e seis anos.

Há uma troca mútua entre os dois personagens. Enquanto Audrey precisa de Jerry para parar de pensar na perda. Jerry precisa de Audrey para se sentir importante e não retornar à sarjeta; um papel salvador que antes era de Brian, único amigo de Jerry, a quem “nunca desistiu” de ser um amigo presente.

Mais um vez, vale o registro que o grande mérito por manter o filme num nível respeitável – e conseguir fugir do estigma de “filme-ajuda”, anti-drogras, é a presença segura e precisa de Del Toro como um junkie. Delicado, mas sem medo, babando e tremendo de abstinência quando assim pedem dele. Há ainda uma curiosidade etinica neste filme. Para olhos que querem assim olhar, é uma negra e um latino que triunfam aqui, enquanto o anglo-saxão saí cedo da história. Deve existir uma razão.

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