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Entrevistas

Entrevista: Alê Abreu

O Garoto Cósmico

Por Luiz Joaquim | 12.01.2007 (sexta-feira)

Autor de premiadas animações em curta-metragem, Alê Abreu, 36 anos, fez seu debut num longa-metragem com o lúdico “O Garoto, Cósmico”, em cartaz em todo o país. Com um proposta de resgatar o autêntico espírito da liberdade infantil para as crianças, Alê nos lembra em seu filme que a criança precisa descobrir o mundo, e não ser um prisioneiro dele. Ele nos falou por telefone de São Paulo sobre a moda das animação direcionadas apenas aos adultos, do cuidado pedagógico (mas sem ser didático) de seu filme, e das participações especiais fazendo as vozes dos personagens.

Como decidiu que faria um filme infantil?

Não sei se houve uma momento de decisão tão clara. Meus primeiros trabalhos “Cirius” e “Espantalho” já apontavam para uma preocupação com a perda da inocência. Quando me dei conta, estava fazendo um longa-metragem para crianças. Foi natural, quase da mesma forma como eu iniciei no desenho e depois nos quadrinhos, nos estudos sobre animação, e nos curta-metragens.

Há uma faixa etária definida de público para seu filme?

Durante o processo de confecção, um arte-educador comentou que o filme falava para crianças de seis anos. Quando ficou pronto, disseram, era um bom filme para as idades entre cinco e oito anos. Depois de exibidos em sessões no cinema, disseram que ele foi otimamente aceito entre aqueles de nove a 11 anos. Mas o fato é que quando filmo, nunco penso num público específico. Penso apenas que meu trabalho vai funcionar como um bate-papo com eles na sala bem cheia. Não sou expert em pedagogia, e não sabia onde o filme ia parar. Foi um projeto que durou sete anos. Revisei muito valores e agreguei idéias de vários profissionais. Quando Gustavo Kurlat entrou na equipe, mudou detalhes como palavras fundamentais no roteiro. Trocar ‘criança’ no lugar de ‘moçada’ é um exemplo dessa sutileza rica.

Numa animação é essencial um bom trabalho de edição de som. Como foi o trabalho de Ricardo Reis e Miriam Biderman aqui?

Nas nossas conversas eu dizia que queria construir dois universos sonoros o do ‘circo’ e do ‘programação’. O primeiro contemplava passarinhos, alguém assobiando numa garrafa. No segundo, motores, barulhos que lembrassem ficção científica. Isso dialogou muito bem com o filme. O Gustavo (Kurlat) desde sempre disse que uma boa música precisa ter sobrevida ao filme, além de ser orgânica. Ele e os outros músicos (Ruben Feffer, Renato Lemos) começaram pelas canções do Arnaldo (Antunes), Vanessa (Damata) e Raul (Cortez). Era o esqueleto da composição. Depois desdobrou em trilhas incidentais, dando consistência ao filme. Tínhamos já a vértebra aí.

Quais cuidados pedagógicos teve na pré-produção do filme?

A animação virou coisa para adulto. Pouco importa ‘o que se diz’ e ‘como se diz’. O que se olha hoje com as diversas animações é o mercado. A megaproduções buscam a qualquer preço o retorno do capital. Em momento algum pensei nisso. Queria ser sincero comigo. Era uma opção estética e política. Sempre levantei o seguinte: ‘que questionamento quero fazer?’. Nós temos andado anestesiados com as urgências do cotidiano, e as crianças também. Se o homem não sonhar, que faremos no futuro? Legal e crescer alimentando e correndo atrás do sonhos.

Tenho a impressão que “Garoto Cósmico” tem uma boa sobrevida pós-circuito comercial.

Nosso foco agora é no lançamento. Trabalhamos cinco meses com a Downtown (distribuidora) e sua Assessoria de Imprensa. Tudo que foi captado para divulgar o filme teve um estudo para sua aplicação. Vamos esperar até julho para exibir filme no Animamundo e daí quero ter um DVD na mão. Antes disso, já soube que a editora FTD quer lançar o livro do filme, mas ainda temos que descobrir quem vai fazer a adaptação. Durante a produção do filme, há anos, o MEC estava disposto a distribuir 25 mil cópias do filme em DVD. Cerca de um milhão de pessoas seriam contempladas, mas esse apoio expirou. Há uma instituição no Canadá que trabalha com uma cartilha pedagógica para filmes infantis que as crianças a utlizam antes, durante e depois da projeção da obra. Essa é uma experiência interessante que pretendemos aproveitar.

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