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Entrevistas

Entrevista: Edgar Navarro (Eu me Lembro)

Navarro: Eu estou em delírio

Por Luiz Joaquim | 01.03.2007 (quinta-feira)

Com baixa probabilidade de erro, é bem possível que
ele seja o mais irreverente cineasta em atividade no
Brasil. O baiano Edgar Navarro é também de longe o
melhor cineasta de sua geração daquela terra que deu,
entre outros, Glauber Rocha. Autoral sem ser
hermético, Navarro está hoje no Recife para uma
pré-estréia (às 19h) no Cinema da Fundação de seu “Eu
Me Lembro”.

Vencedor de sete Candangos no Festival de Brasília
2005, a obra traz um verniz autobiográfico e faz uma
tocante viagem sentimental entre os anos 50 e 70.
Aqui, atores, fotografia, roteiro e, principalmente,
trilha sonora estão a serviço, sem se interpor, de uma
obra brilhante. “Eu me Lembro” (2006) é seu primeiro
longa-metragem e coroa um leque de peças suas já
clássicas no cinema brasileiro, como os curtas e
médias, “O rei do cagaço” (1977), “Lin e Katazan”
(1986), “O Superoutro” (1989), entre outros.

Nesta entrevista, realizada em junho do ano passado no
16º CineCeará, Navarro fala da idéia de uma trilogia a
partir de “Eu me Lembro” e da composição protagonista
do filme, o personagem Guiga (o ator Lucas Valadares).

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– Você precisou fazer algum tipo de concessão para
realizar o filme?

Nenhum tipo de concessão. A única era o orçamento
apertado. O roteiro tinha 120 sequências, no meio do
caminho a gente precisou cortar para chegar na
quantidade de negativo que tínhamos. Enxugamos e
favoreceu.

– Qual foi o orçamento do filme?

Inicialmente foi de um milhão de reais. Prêmio do
governo de Estado (da Bahia). Por conta disso fizemos
um esforço de produção compondo o orçamento. O
orçamento era apertado. É um filme de época, tínhamos
um elenco numeroso – ao todo são 55 personagens com
fala – fora a figuração, beira a 100 pessoas. Então.
Considere também o figurino para esse povo. O edital
era restritivo a gente não podia captar mais. Então
assumimos fazer o filme com esse arroxo. Tínhamos o
filme editado em vídeo, precisamos esperar um tempo
por mais de um ano para complementar e fazer a
finalização. Rodamos em 2002, e concluímos em 2005.
Foram mais 400 mil (Reais) do BNDES, e 380 (mil Reais)
da Ancine. Perfaz um total de produção de 1,7 milhão,
por que 80 mil (Reais) era para gastar na
distribuição.

– Você rodou em 2002 mas “Eu Me Lembro” já era um
projeto que existia há muto tempo na sua cabeça,
certo?

Até que não. Eu tinha projetos mais antigos. Eu tinha
dois projetos mais antigos. Um deles é o “Eu Pecador”,
que já está redigido. Na realidade eu brinco com essa
idéia de um trilogia que seria composta pelo “Eu Me
Lembro”, “Eu Pecador” e um outro que não está escrito
mas já tem título que é o “Eu Sei Tudo” (risos). Este
é o último filme da minha vida – Nesse momento, um fã
circulando pelo hotel, interrompe a entrevista
elogiando “Eu Me Lembro”, enquanto Navarro responde
com um grito: “Rá! Eu esto em delírio, delírio,
delírio extremo”. E continua a entrevista – O “Eu Me
Lembro” é mais recente que o “Eu Pecador”. Este último
não tinha sido contemplado no prêmio do governo do
Estado. Tinha concorrido, e perdido, com outro projeto
antigo também chamado “O Homem que Não Dormia”. Ai
pensei, não vou mais concorrer com uma história que
seja tão umbilical, tão pessoal. O “Eu Me Lembro” é
bem pessoal mas estende algo para o interesse
coletivo. São gerações, sobre fatos históricos e sobre
coisas que aconteceram a várias pessoas.

– O Guiga (protagonista de “Eu Me Lembro”) é uma
coletânea de personagens?

Sim. Tem coisas que aconteceram com irmãos, amigos.
Por exemplo. Minha família tinha oito pessoas. A de
Guiga tem três. Então, aglutinei personagens. Fatos
que aconteceram numa vida inteira, fiz acontecer numa
tarde pois esse era o tempo dramático. E não com
flores tão fortes. Eu inventei coisas que tornaram o
filme mais tensionado, porque tensão dramática é o
destino do entretenimento (risos). É lição primordial
de Aristóteles: terror e piedade (mais risos).

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