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Metáfora para um casamento em crise

Valdir Oliveira filma o curta-metragem “Por uma Tecla” no Recife (2007)

Por Luiz Joaquim | 08.05.2007 (terça-feira)

Noite de lua cheia na última sexta-feira, e a vista no 16º andar de um edifício na Rua da Aurora, Recife, é estonteante. Mas as cerca de 15 pessoas que trombavam entre si num pequeno apartamento dali não estavam muito interessados na privilegiada perspectiva aérea da cidade. A reunião tinha uma meta a cumprir: a gravação do curta-metragem “Por uma Tecla”, projeto do Valdir Oliveira, premiado pelo Sistema de Incentivo á Cultura da Prefeitura do Recife (SIC) em 2006 com R$ 30 mil, e que agora ganha corpo com a produção de Diogo Balbino e a D7 Filmes.

A história de “Por uma Tecla” vem do livro “Depois do Desejo”, reunindo seis contos e três roteiros do próprio Oliveira. A idéia é lançar o livro junto com o vídeo no final do próximo mês. O enredo investiga mais uma vez a relação criador x criatura, desta vez na pele de Amadeu (Júlio Rocha), um escritor apaixonado e fechado no próprio mundo que criou em sua literatura, e em particular pela personagem Dalina (Hilda Torres). Ela surge como um sedutor fantasma de feminilidade na vida de Amadeu, em detrimento da relação desgastada com sua esposa, Carmina (Sônia Bierbard).

Este artifício metafórico e psicológico no qual um autor digladia emocionalmente com sua própria criação não é nova. Esteve no francês “O Magnífico” (1973), de Philippe de Broca, na pele do escritor Bob Saint-Clair (vivido por Jean-Paul Belmondo), como também em “Lugar Comum”, curta do pernambucano Leo Falcão.

Na fusão da personalidade das duas figuras femininas dentro da cabeça de Amadeu em “Por uma Tecla”, as grandes janelas de vidro no apartamento escolhido para o set de filmagens ganhavam uma função preponderante. “Amadeu transcende o plano do real e do ficcional. Ele espera Dalina, enquanto Carmina espera por ele”, explica Oliveira. Nas primeiras tomadas feitas para o curta, registradas com uma câmera digital HG HXV 200 da Panasonic, a captação do reflexo na janela das duas mulheres recebia um cuidado extra na direção de fotografia de Maria Pessoa.

Séphora Silva, na direção de arte, explicou que, no set, as centenas de livros que cercam Amadeu, o posicionamento de sua mesa de trabalho (também de vidro) voltada de costas para a paisagem externa, e o tom azulado suscitando frio, e o amarelo suscitando o intelecto formam uma combinação para reforçar a postura introspectiva do protagonista.

Rocha e Bierbard, profissionais respeitados no teatro pernambucano, lembravam – após repetir por oito tomadas a mesma cena – que, enquanto no palco você (o ator) vai crescendo aos poucos, no cinema é preciso chegar pronto. “O espetáculo no cinema é do diretor, no palco, do ator”, dizia Bierbard. Para “chegar pronto”, a produção chamou o preparador de elenco Manoel Constantino, que em dezembro último trabalhou com Luiz Fernando Carvalho na adaptação de “A Pedra do Reino” para a TV Globo (com previsão de estréia em 12 de junho).

Na versão Global para a obra de Ariano Suassuna, a atriz Hilda Torres viveu Genoveva, e foi pelo seu desempenho que Constantino a indicou para encarnar a sedutora Dalina em “Por uma Tecla”. “Dalina carrega com ela a essência da feminilidade. Tem uma meiguice, é doce e frágil. Ao mesmo tempo ela é independente e a única que diz ‘não’ a Amadeu. Isso o seduz, entre outras coisas”, finaliza, a respeito de seu personagem.

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