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Reportagens

O Ceará em Hollywood

The Morgue, de Halder Gomes, teve premiere no 17º Cine Ceará

Por Luiz Joaquim | 15.06.2007 (sexta-feira)

17º Cine-Ceará, quinta-feira, 7 de junho de 2007. Após a projeção da mostra competitiva naquela noite, um outro longa-metragem hors-concours, projetado em digital, tomava conta do Espaço Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro e chamava a atenção dos fortalezense. Era “The Morgue” (EUA, 2007), suspense no melhor estilo hollywoodiano, rodado há poucos meses, em plena Califórnia, pelo cearense Halder Gomes (na foto acima, segurando o roteiro).

No elenco, ele comandou Heather Donahue (de “A Bruxa de Blair”), Brandon Quinn (do seriado “O.C.”) e Bill Cobbs (um dos vigias aposentados de “Uma Noite no Museu”). Cobbs, um gentil senhor afro-americano, como os ianques gostam de chamar, estava presente na projeção do Cine Ceará e foi ovacionado pelo público quando apresentado pelo seu diretor.

A façanha de rodar um filme orçado em um milhão de dólares em plena Hollywood, com equipamentos sofisticados, numa câmera Panavision em Super 16mm não é para muitos, mas Halder é conhecido pela versatilidade e, principalmente, pela facilidade de transitar no mercado cinematográfico, marcando pontos pela sua simpatia e ótimo humor. Foi assim que consegui vender para 13 países, incluindo os EUA, seu primeiro longa-metragem “Sunland Heat” (2004): uma espécie de “Kill Bill” nordestino, divertido, rodado no Ceará e totalmente falado em inglês. No Recife, o filme pode ser encontrado em algumas boas locadoras.

É dele também o curta-metragem satírico “Cine Holiúdy – O Astista Contra o Caba do Mal” (2004), que há duas semanas era exibido no UCI/Ribeiro do Recife, dentro do projeto Curta Petrobrás. Com ele, Halder rodou por 45 festivais, incluindo internacionais, e recebeu 20 prêmios.

A história de “The Morgue” teve início em novembro, quando o realizador estava na maior feira do mercado audiovisual, que acontece anualmente em Los Angeles. Lá, ele soube que a produtora Reef Pictures, do carioca radicado há 14 anos nos EUA Gerson Sanginitto, tinha o projeto de rodar quatro longas para 2007. Antes, a Reef fez “Beyond The Ring” (2007), dirigido pelo próprio Gerson, e teve Halder como assistente de direção.

Uma vez qualificado para dirigir “The Morgue”, em janeiro Halder se trancou por duas semanas para pensar no roteiro e, após sete tratamentos, o tinha pronto. “Eu também sou artista plástico e tenho muita influência da pintura no que faço, seja na composição, nas cores, na luz. A intenção do roteiro era que houvesse um contexto abstrato e que você tivesse interpretações novas a cada nova vez que visse o filme”, explicou.

Ele preferiu ver poucos filme do gênero como inspiração, “vi apenas para ter referências de atuações e não errar a mão. Mas não queria me deixar contaminar. Queria ir com a cabeça virgem. Um referência boa, apesar de não ser um filme sobrenatural, foi “O Maquinista”, que é muito impactante psicologicamente”, revela.

Na seleção de elenco o problema foi atrair concorrentes, não por “The Morgue” ser um projeto modesto, mas pelo teste ter acontecido no mesmo período, janeiro, de casting das séries para TV nos Estados Unidos. “Todos os atores se concentram nestes testes. De qualquer forma tivemos a sorte da Donahue aceitar o papel e Cobbs também. Achavamos que ele não toparia, mas por ser muito religioso se interessou pelo roteiro”, relembra.

O resto do elenco veio por teste de elenco até chegar a protagonista Lisa Crilley. “No teste, entre outras coisas, pedimos para ela fazer uma interpretação do quadro ‘O Grito’, de Edward Munch, e para externar a sensação de ter recebido uma notícia maravilhosa dentro de um avião, ou seja, num lugar fechado e público. A idéia era ver o alcance emocional do ator até chegar ao ponto de simular a sensação de estar dentro de um caixão imaginário”, revelou.

O caixão tem forte relação com “The Morgue” (necrotério), uma vez que acompanha o trabalho noturno da jovem Margo (Crilley) num afastado mortuário de luxo californiano. Lá ela receba a visita de uma família que pede ajuda pelo carro quebrado na estrada, e também de dois outros rapazes envolvidos num acidente. Em meio a pesadelos, Margo vai no final perceber que a fronteira entre o real e o sobrenatural ficou enevoada naquela noite.

Satisfeito com o resultado, Halder vai trabalhar agora para distribuir o longa e já pensa em “Loucos de Futebol”, seu novo projeto. Um curta sobre a caótica sociedade brasileira pela perspectiva do que acontece num estádio de futebol. Torcedor do time Fortaleza, Halder adianta “vai ser o primeiro documentário tendencioso, e vou ter como espectador interessado todos que gostam de futebol, exceto aqueles que torcem pelo Ceará”, diz sorrindo.

A idéia surgiu quando indicou um advogado brasileiro para um amigo norte-americano. Depois da reunião séria, o cliente gringo e o advogado brasileiro entraram no elevador para ir embora. Ao chegar no térreo e abrir as portas, um ‘flanelinha’ começou a bater com um pano no terno do advogado e dizer ‘Cadê teu bucho, filho de uma égua! Teu time perdeu ontem!’. E o que havia de sizudo no encontro encerrou ali. “Só no Brasil mesmo”, concluiu Halder.

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