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Críticas

Os Anjos Exterminadores e 2:37

Sobre o prazer sexual feminino e os dramas da adolescência

Por Luiz Joaquim | 01.11.2007 (quinta-feira)

O Cinema da Fundação finalmente estréia “Os Anjos Exterminadores” (Les Anges Exterminateurs, Fra., 2006), do belga Jean-Claude Brisseau. Esta refinada investigação sobre o prazer sexual feminino, acaba oferecendo além do que sua sugestão inicial propõe. Mostra não só o martírio de um artista (Frédéric Van den Driessche) que esbarra no preconceito dos outros enquanto tenta dar partida na produção de seu filme, como também traz à tona questões como a associação ou desassociação de sexo e paixão entre as mulheres.

Brisseau ainda consegue inflar na trama aspectos psicológicos, como sugere a figura paterna refletida na pele de seu protagonista, o diretor de cinema que observa suas atrizes se masturbarem e masturbar a outras atrizes no set. A certa altura uma delas, bem mais jovem e após uma cena explícita, diz, “me sinto segura com você”. Esta mesma se diz também ser, literalmente, possuída pelo demônio, o que Brisseau depois nos mostra numa encenação que incomoda (no bom sentido). No contexto, a possessão pode afiliar o sexo, ou o prazer feminino, ao pecado. Que é para o onde o filme desemboca, para o desencanto do protagonista.

Há ainda a presença do espectro de duas mulheres (os anjos exterminadores?) que observam todos os passos do diretor. Aqui, as duas figuras, e o que elas dizem, ganham um sentido extra quando se sabe que Brisseau fez “Os Anjos Exterminadores” como uma espécie de resposta para o que sofreu ao dirigir seu anterior “Choses Secrètes” (2002, inédito no Brasil), tendo sido quase preso por, mais uma vez, mostrar o sexo feminino como uma fria ferramenta de manipulação social. “Anjos Exterminadores” merece ser visto com “Sexo, Mentiras e Videotape” (1989), de Steven Soderbergh.

ADOLESCENTES
É interessante fazer uma sessão dupla de “Podecrer!” com “2:37” (Austrália., 2006), filme de Murali K Thalluri em cartaz no Cine Rosa e Silva. Juntos, pode-se reforçar a noção de que os problemas adolescentes permanecem quase que intactos, independente do período histórico ou local onde se manifestem.

No caso do filme australiano, vamos para uma escola secundarista, onde conhecemos intimamente os problemas de um homossexual recém-assumido, de um jogador de futebol “machinho”, de um tímido com problemas de formação biológica, de um crânio nos estudos e os de sua sua irmã (foto acima). Alguns problemas ganham a dimensão inflada que a idade dos 17 anos inflige. Outros são problemas barra-pesada mesmo.

O caso é que “2:37” funciona em dois níveis. Logo em sua abertura, sabemos que uma pessoa é encontrada morta às 14h37. À medida em que Thalluri vai apresentando seus personagens na narrativa dramática (com uma estética que lembra “Elefante”, de Gus Van Sant), auxiliado pela inserção também do depoimentos dos jovens num estilo documental (onde revelam segredos para a câmera), vamos tentando perceber qual deles cederá a tentação de cometer um suicídio ou homicídio.

Ao final, “2:37” mostra um belo exercício sobre solidão e, principalemente, aparências e vaidades. Algo que persegue os seres sociais durante toda sua existência e que, na adolescências destes seres pode ganhar tons trágicos.

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