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Críticas

Podecrer!

Viagem ao planeta 1981

Por Luiz Joaquim | 01.11.2007 (quinta-feira)

Curioso e perigoso ver um filme brasileiro de época de uma época que não parece tão distante para quem tem mais de 30 anos. É assim com “Podecrer!” (Brasil, 2007), a estréia em longa-metragem ficcional de um dos fundadores da Conspiração Filmes, Arthur Fontes, 44 anos, que transporta o espectador para o Colégio São Jorge, de classe média no Rio de Janeiro de 1981.

Apresenta três amigas – Carol (Maria Flor), Melissa (Fernanda Paes Lemos), Silvinha (Liliana Castro) – e quatro amigos – João (Dudu Azevedo), Marquinhos (Gregório Dudvivier), Pp (Sílvio Guindane), Otávio (Marcelo Adnet). Elas se divertindo com as paqueras na praia e nas discotecas da Zona Sul carioca. Eles empolgados com a possibilidade de fazer do rock’n’roll um meio de vida, e excitados com as possibilidades do sexo que se apresentam. E todo o grupo junto dividido entre o momento de começar a encarar a vida adulta, com o vestibular batendo à porta, e a possibilidade de continuar sonhando com a liberdade juvenil.

O enredo, adaptado do livro homônimo lançado por Marcelo Dantas em 2001, poderia servir de mote dramático para envolver jovens de qualquer época, pois as dúvidas e conflitos que se abatem sobre estes seres são, no fundo, as mesmas de ontem, de hoje ou amanhã, apesar de se diferenciarem pela gíria, pelo modo de vestir e pelas músicas que escutam.

Dito isto a partir de um filme de época, pode-se considerar que “Podecrer!” triunfou sobre um problema que recai sobre muitas produções do gênero no cinema brasileiro. O de o figurino e a direção de arte gritar mais alto que a alma do filme, ou seja, do que os personagens e seus dramas. E em se tratando dos anos 1980, isto seria muito fácil de acontecer. Muito tentador, considerando a década do visual exagerado.

O curioso e perigoso aqui é que figurino, cenários e costumes ainda estão muito vívidos na memória dos espectadores trintões em diante. E uma penca de filmes feitas no período, também retratando dramas semelhantes aos da turma de “Podecrer!”, ajudam a tornar nossa percepção visual e social mais apurada ainda. Nosso critério analítico com o filme tende a ficar atrofiado por conta dessa facilidade sensorial em reconhecer como funcionou aquela época.

Para quem tem memória curta, basta revisitar filmes como “Marcelo, Zona Sul” (filme de 1970, no qual Xavier de Oliveira lança Sterpan Nercessian no cinema, ator que participa de “Podecrer!”); Sábado Alucinane (1979, de Cláudio Cunha); “Menino do Rio” (1981, clássico de Antônio Calmon, reverenciado em “Podecrer!”); e “Rio-Babilônia” (1982, de Neville D’Almeida).

Mesmo diante de analogias injustas, “Podecrer!” sai ileso exatamente pela combinação de equilíbrio na parte técnica (traz imagens em Super-8 feitas na época, dando o mesmo tom e textura às imagens dramatizadas de hoje), por ser honesto com seus personagens e por contar com um roteiro afiado, despretensioso, e dito por atores à vontade.

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