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Reportagens

Fernando Spencer filma o ‘urso’

Cineasta gravou primeiras imagens de seu novo curta-metragem em pleno carnaval

Por Luiz Joaquim | 06.02.2008 (quarta-feira)

O Carnaval 2008 não passou despercebido pelo cinema pernambucano. Muito pelo contrário. O mais nobre olho cinematográfico a contemplar a cultura carnavalesca do Estado, o de Fernando Spencer, acompanhava a captação das primeiras imagens de seu novo curta-metragem, “Nossos Ursos Camaradas”, realizada nas tardes de segunda e terça-feira passada na avenida Nossa Senhora do Carmo, no bairro do Santo Antônio, Recife.

Ali acontecia o desfile do encontro de Ursos de Carnaval, e era o cenário perfeito para registrar as cenas dramatizadas que Spencer pensou para acomodar neste documentário que irá resgatar a história do urso, um animal polar, mas que veio se tornar uma figura comum nas brincadeiras populares do carnaval recifense.
“Em 2001, num conversa com Mário Souto Maior, pedi que ele me explicasse a origem da brincadeira. Ele, então, me preparou um texto contando que na década de 1920, chegou aqui no Recife um italiano com um urso domado e desafiou as pessoas para lutar com o bicho. Quem vencesse, levaria 500 reis de prêmio. O único que se candidatou foi Floriano Peixoto Filho, filho do marechal, que, a época, era campeão de luta romana. Mas a luta com o urso nunca aconteceu”, explica Spencer.

Para contar essa história no filme, o cineasta das três bitolas vai utilizar a possante voz, em off, de Renato Phaelante “cobrindo” imagens que remetem a esse caso do passado. “Quando eu era criança em Casa Forte (bairro recifense), tinha medo do urso, do maracatu e do caboclinho. De certo modo, acabei fazendo filmes sobre todos estas manifestações. Fiz ‘Caboclinho do Recife’ (Super-8, 1974), fiz ‘A Santa do Maracatu’ (16mm, 1980) e agora ‘Nossos Ursos…”, reflete o octagenário.

No novo filme, de forma alternada, Spencer anima o enredo com a encenação de um amante que foge, de cuecas, quando o márido traído volta para a casa da esposa. Na fuga, o amante acaba caindo no meio de um desfile carnavalesco de ursos, e ali fica a vontade.

Amaro Filho, da produtora Página 21, e assinando a assistência de direção do curta, explica que originalmente a cena previa o personagem pelado, “mas ponderamos e vimos que o desfile traz muitas crianças e não dava para colocar Domingos correndo totalmente nu entre elas”, diz.

Domingos Leão, o ‘urso pé de lã’, é recifense mas mora há seis anos fora da cidade. Quatro deles passou em Londres e lá conheceu Fernando Meirelles, de quem tornou-se amigo. Tanto que, em setembro, todo o Brasil verá Domingos em “Ensaio sobre a Cegueira” (Blindness), longa que Meirelles acaba de rodar a partir da obra de Jose Saramago.

“Recebi o papel do pregrador, que aparece no final do filme, quando contracenei com Julianne Moore, na Igreja da Consolação, em São Paulo”, adianta Domingos sobre Blindness. Na próxima segunda-feira, o ator volta para a paulicéia, onde fará teste de elenco para “400 contra 1”, filme de Caco Pereira de Souza sobre o Comando Vermelho.

Quem escalou Domingos para “Nosso Ursos…” foi Manoel Constantino. Após trabalhar com Luís Fernando Carvalho em “A Pedra do Reino”, o diretor de elenco passou a ser bastante procurado, recebendo vários books de atores. “Havia selecionado três atores, mas o perfil de Domingos era o que melhor casava com o personagem. Demos a sorte de ele estar no Recife durante o Carnaval”, conta.

RECURSOS
O pontapé inicial para “Nossos Ursos Camaradas” finalmente sair do papel – o projeto já havia sido apresentado, e rejeitado, em 2000 pelo sistema de incentivo a cultura do Recife – veio com o apoio da Petrobrás. No edital 2006/2007 de ‘Preservação e Memória’, o diretor pernambucano foi lembrado ao lado de nomes como o do carioca Paulo César Saraceni e o do baiano Geraldo Sarno.
O prêmio de 80 mil reais ainda está em processo de liberação, mas pelas contas da Página 21, a finalização em película deve totalizar um custo de 135 mil reais. “Como é ano eleitoral e nossos profissionais são requisitados neste periodo, queremos concluir tudo até maio”, declara Amaro, enquanto a produtora Cláudia Moraes adianta que até lá a empresa vai buscar apoio para o complemento dos recursos, como o da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), com a qual já teve uma conversa inicial.

Orlando Silva é o próximo alvo de Spencer

O jovem Fernando Spencer, de 81 anos completos no último dia 17, mal começou a gravar “Nossos Ursos Camaradas” e já adiantava seu próximo plano cinematográfico: contar em filme a visita que Orlando Silva (1915-1978), o cantor das multidões, fez ao Recife no final da década de 1930.

“Ele esteve aqui para uma apresentação e atendeu ao pedido de um jovem de 15 anos, sua fã, que sofria de uma tuberculose galopante. Silva foi cantar ‘Lábios que Beijei’ só para ela, em sua casa”, relata Spencer, que chegou a visitar recentemente a irmã, uma senhora de 92 anos, da já falecida jovem da história.

A casa, conta Spencer, onde tudo aconteceu ainda está de pé na rua do Lima, número 170. Para tocar o projeto, o cineasta deve ter a colaboração de Nelson Sampaio, que recentemente lançou o vídeo “A Última Diva”, sobre Mazil Jurema, estrela do Ciclo do Recife.

Simião Matiniano vai filmar novo projeto

A produtora Página 21 vai trabalhar com outra figura emblemática do audiovisual pernambucano: Simião Martiniano Nos dois últimos domingos de fevereiro e março, serão captadas as imagens de “Show Variado”, no qual serão reunidas seis esquetes dirigidas pelo nosso ‘camelô de cinema’ A produtora planeja lançar o trabalho em DVD, disponibilizando num mesmo pacote outros dois longas-metragens anteriores do diretor.

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