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Reportagens

Salas alternativas no Recife (em 1998)

Em 10 anos, pouca coisa mudou

Por Luiz Joaquim | 22.08.2008 (sexta-feira)

Escarafunchando meus velhos arquivos, encontrei um exercício ainda do tempo de estudante de jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco. O foco, claro, era cinema. O tema era as salas alternativas de cinema no Recife. A reportagem foi escrita em 19 de novembro de 1998 para a disciplina de Técnica de Reportagem, ministrado por Idelfonso Fonseca.

Vejamos…

19-novembro-1998

O alternativo é a maior diversão

Recife é a cidade nordestina mas expressiva na sétima arte, ao menos em termos de casa de projeção. Além de dois Multiplex, recém inaugurados, com qualidade que não fica atrás de nenhum complexo de salas internacional, a capital do Frevo é a que mais oferece espaços para projeção de películas alternativas.

São três cinemas correndo por fora do circuitão nacional. Cada um deles dentro de um perfil particular, mas com uma coisa em comum. Todos já foram, e ainda são, utilizados como Teatro. O Cineteatro do Parque é o mais tradicional e atrai um público cativo. O Cineteatro da Fundação Joaquim Nabuco é o mais bem equipado e o Cineteatro Arraial, o mais acessível.

O Teatro do Parque possui 1.034 poltronas, mas o cinema, apenas 800. É que nos camarotes, das seis cadeiras existentes, apenas quatro permitem enxergar a tela com relativo conforto. Outros assentos nas primeiras filas também podem deixar qualquer espectador com torcicolo. Isso acontece porque o prédio não foi projetado para funcionar como uma sala de cinema.

Outra interferência que acontece nos filmes projetados no Parque por conta da arquitetura do prédio, é o vazamento de luz que passa pelas frestas da persianas na ‘parede’ da sala. Geraldo Pinho, coordenador do cinema desde 1993, diz que, quando assumiu, não havia sessões as 16h30. “Criei esse horário no parque, assim como as exibições na quarta-feira”.

Geraldo diz que prentende promover sessões às 14h30, mas vai depender da conclusão de um projeto de climatização para o cineteatro, financiado pela Unesco e Ministério da Cultura. Além da disponibilazação de ar-condicionaldo para o local, a futura reforma inclui uma película revestindo o teto (impedindo também a entrada de luz), a suspensão da cabine de projeção em 90 centímetros (ampliando a a abrangência do facho de luz do projetor), e promete ainda uma melhor disposição dos altos falantes espalhados pelo recinto, dando uma maior sensação de envolvimento com o filme.

A sala já se firmou no gosto do público. Além perpertuar o costume de trazer o espectador, ao preço módico de um real, para a exibição de um boa fita (na maioria das vezes, reprise de um filme que teve passagem meteórica na cidade), o Parque mantém uma agenda com três programas alternativos ao ano.

Nas proximidades do dia internacional da mulher, 8 de março, Geraldo escolhe, em conjunto com o Forum de Mulheres de Pernambuco, um vídeo que expõa a situação da mulher contemporânea. “São compromissos sociais que o Parque tem com o público” diz Geraldo.

Entre setembro e novembro, acontece o Festival de Cinema Iraniano. Graças a uma parceria com o Consulado Iraniano, em Brasília, o cinema da rua do Hospício permite que os recifenses vejam uma mostra do trabalho audiovisual que é produzido no oriente. No início de dezembro, é a vez do Mix Brasil. São produções “subterrâneas” em destaque. O Mix é composto por vídeos abordando, prioritariamente, o sexo e suas derivações.

Entre os sucessos de bilheteria da casa está o campeão “Central do Brasil”, de Walter Salles Jr. O filme, que ficou por três semanas em cartaz, chegou a atrair 1.500 pessoas, com apenas três sessões num só dia. Resultado difícil de se conseguir até mesmo para a super-estrutura da maior empresa brasileira da área, o Grupo Severiano Ribeiro.

FUNDAJ – Reinaugurado em março último, com o projeto ‘Todos com o cinema’, do governo estadual, o Cineteatro José Carlos Cavalcanti Borges, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), é a sala mais bem equipada da cidade.

São 322 lugares em um espaço climatizado por um ar-condicionado central. Sua aparelhagem de som foi a primeiro a apresentar ao recifense o verdadeiro efeito que o formato Dolby Digital Spectral Recording pode produzir no espectador. Com duas caixas acústicas localizadas nas laterais da tela, uma outra, de baixa frequência, embaixo do palco e outras mais espalhadas ao redor da platéia, o público pode até sentir estremecer seu assento, se for o caso.

O projetor, o americano Strong, utilizando o sistem Simplex, dispõe de objetivas cristalinas projetando imagens tão claras quanto as dos intenacionais Multiplex.

Início – Desde o final da década de setenta, a Fundação Joaquim Nabuco já disponibilizava ao público o chamado ‘cinema de arte’. As exibições aconteciam no prédio da Fundaj, em Apipucos, para depois vir a ocupar a Casa da Cultura. Em 1988, a sala José Carlos Cavalcanti Borges começou a exibir películas; além de peças teatrais e outros eventos.

A nova cara do cinema no Derby se deu graças a criação do Instituto de Cultura da Fundaj, e a aprovação do seu projeto de re-aparelhamento, pelo Ministério da Cultura, no valor aproximado de R$ 50 mil.

Uma característica do espaço é a de inserir o Recife no circuito nacional de cinema alternativo. A Fundação, em parceria com o Estação Botafogo (grupo detentor de salas no Rio de Janeiro e São paulo com o mesmo perfil do cinema da Fundaj, trouxe, em agosto, a mostra ‘O Homem que Amava as mulheres’. Foram 16 filmes do mestre François Truffaut, a maioria inédito na cidade.

Em setembro, o cinema trouxe, em parceria com o Sociedade Cultural Brasil-Espanha, uma jornada de cinema espanhol, passando a frente até das capitais de cinema alternativo do país (a mesma mostra começou a ser exibida somente nesta semana em São Paulo).

ARRAIAL – Localizado na rua da Aurora, o cineteatro Arraial está sob administração do Governo do Estado. Seu coordenador é o cineasta e jornalista Celso Marconi, que já dirigiu o extinto cine Ribeira, no Centro de Convenções.

Com sua atividades iniciadas em abril último, o cinema tem entrada franca e disponibiliza 97 poltronas para quem quiser rever clássicos do cinema nacional e internacional. A programação do Arraial geralmente é atrelada à filmoteca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que emprésta algumas cópias para a Secretaria de Cultura de Pernambuco.

Tentando driblar as dificuldades de conseguir filmes sem dar retorno financeiro ao distribuidor, uma vez que não cobra pela entrada, Celso mantém o espaço pulsando através de projeção de vídeos, como a recente mostra em homenagem a Akira Kurosawa.

O primeiro sucesso de público aconteceu com a exibição dos filmes de Louis Malle. A Secretaria de Cultura liberou recursos para que 7 filmes do diretor francês viessem do grupo Estação Botafogo, no Rio de Janeiro. É o Recife mostrando que o cinema alternativo também tem seu espaço.

SERVIÇO – (em 1998)

Cinema do Parque
Rua do Hospício, s/n -Fone-423.6044
De Segunda a Quarta-feira
Horários: 16h30;18h30 e 20h30
Ingresso – R$ 1,00

Cinema da Fundação
Rua Henrique Dias, 609 -fone 421.3266
Sábado – 20h00 e 22h00
Domingo – 18h00 e 20h00
De Segunda a Quinta – 19h30
Ingressos
Normal – R$ 5,00
Etudantes e maires de 65 anos – R$ 2,00

Cineteatro Arraial
Rua da Aurora, s/n
Fone: 231.2716
Sexta a Domingo: 17h e 19h
Entrada franca

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