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Críticas

O Curioso Caso de Benjamim Button

Sobre as dores e mazelas do rejuvenescimento

Por Luiz Joaquim | 16.01.2009 (sexta-feira)

Tempo. Um filme que conta a história de um homem que rejuvenesce ao invés de envelhecer com o passar dos anos não poderia iniciar de outra forma que não fosse com uma fábula sobre o tempo. E não há melhor símbolo para isso que um relógio que “anda” para trás. Em “O Curioso Caso Bejamim Button” (The Curious Case of Benjamim Button, EUA, 2008), de David Fincher, o relógio que funciona invertido serve como uma poética para dar conta da saudade daqueles que amamos e já se foram.

Esse talvez seja o principal problema com o qual Benjamim (Brad Pitt) é obrigado a conviver por conta de sua “doença” especial. Não que aqueles que envelheçam normalmente não sofram com a partida dos que amam, mas há uma sabedoria na natureza, chamada maturidade, que educa a administração das dores causadas por perdas assim (e de outro tipo). No caso de Benjamim, ele fica sempre mais jovem, e apesar do físico ir ganhando vigor e beleza, a mente é obrigada a viver sob essa perspectiva juvenil, mesmo abrigando anos de sabedoria de vida.

Saindo um pouco do personagem e refletindo sobre a realização cinematográfico, é curioso como Fincher (“Zodíaco”, “Clube da Luta”) deixa algumas marcas na película em alusão a passagem do tempo. A primeira fica clara quando a velhinha Daisy (Cate Blanchett, com impressionante maquiagem), moribunda num hospital nos dia de hoje, resgata seu passado para a filha (Julia Ormond) e volta para 1918, ano em que Button nasceu. Um bebezinho com aparência e problemas (catarata, artrite, etc.) de um senhor de 85 anos.

Nas imagens do passado, Fincher inaugura algumas técnicas de envelhecimento de imagem que dialogam bem com a sensação da deteriorização da vida, que acontece também para Benjamim. Apesar de rejuvenescer, ele tem o mesmo fim de todos. Uma pequena e insistente história de um velhinho do asilo onde Benjamim vive até os 17 anos (com aparência de 72), cuja cabeça foi atingida sete vezes por um raio, ajudam a imprimir essa sensação.

Apesar de uma diversidade de qualidades técnicas – atenção para os primeiros anos de Button, com Pitt envelhecido num corpo com estatura de um menino, atenção para a direção de arte, para a fotografia e trilha sonora -, “O Curioso Caso….” traz em si uma carga tão pesada de sugestões sobre a brevidade da vida, que muitos desses efeitos técnicos ficam no seu devido lugar.

Na verdade, o fato dos efeitos ocuparem no filme sua devida proporção, não chamando mais atenção para si do que o próprio enredo, é mérito da condução de Fincher em levar o roteiro de Eric Roth e Robin Swicord sob uma performance na medida certa de Pitt e Blanchet.

Para Pitt, em particular, é um desafio excepcional. Viver um velho num corpo de um menino, e ficar jovem enquanto adquire sabedoria. À primeira vista, isso pode parecer o paraíso para aqueles que querem ser jovens para sempre (e não são poucos), mas o exemplo de “Benjamim Button” mostra que seu caso nem é tão diferente assim, e que, de uma forma ou de outra, sempre vamos precisar de alguém para cuidar de nós.

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