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Críticas

2012

Vocação para a catástrofe

Por Luiz Joaquim | 13.11.2009 (sexta-feira)

No apagão de terça-feira, 60 milhões de pessoas ficaram sem luz em 800 cidades brasileiras. Ou seja, não precisa muito para o “mundo se acabar”. Basta cortar a energia elétrica. Algumas produções no cinema já experimentaram brincar com o tema (vem à mente “Efeito Dominó” – The Trigger Effect, 1996), de David Croepp, mas Hollywood tem uma vocação para a catástrofe. Ela arrefeceu um pouco logo após a realidade dar um patada furiosa no mundo em 11 de setembro de 2001, é verdade, mas se Hollywood tem essa vocação, ela tamém tem seu operário mor, o mais empertigado neste ofício, que se chama Rolando Emerrich. A partir de hoje, o diretor destrói o planeta (ou o cinema) pela terceira vez com o filme “2012” (EUA, 2009).

Ver “2012”, ou qualquer Emmerich, é como entrar num carrinho de montanha russa. Você fica tenso, enjoa, e no final sai sorrindo e tonto da brincadeira para, minutos depois, logo pensar em que outro brinquendo você vai se divertir. Isso significa que, ao entrar num cinema para ver algo assim, a dosagem do sal que será posta na pipoca deve ser uma preocupação mais válida do que querer encontrar algum sentido no filme. Em outras palavras, Emmerich significa, abra os olhos e ouvidos e desligue o cérebro.

Se você for encarar “2012” assim, vai se divertir e até rir com as piadas rasteiras que seu enredo propõe a partir da idéia de que uma explosão inesperado no sol afetou a temperatura interna da Terra, pondo em curso o deslocamento brutal das placas tectônicas. Esse fenômeno provoca terremotos, maremotos, tsunamis colossais (o mar chega a Washington e um navio destrói a Casa Branca).

Como a questão geológica é sofisticada, mas o filme não, o ator Woody Harrelson aparece aqui (coitado) como uma espécie de hippie retardatário, fazendo um programa de rádio pelo qual já pregrava o fim do mundo para 21/12/2012. Na verdade, a real validade de seu personagem existir no filme é para explicar, pelo seu blog, o que está acontecendo com o planeta através de uma animação, de modo que até um espectador de seis anos de idade entenda o que se passa. Há espaço ainda para dizer que os Maias já nos alertava, lá do século IV a.C.

Mas o protagonismo aqui é dividido entre John Cusack (o civil, com quem o espectador pode se identificar, e vítima do militarismo norte-americano) e o ator negro Chiwetel Ejiofor (de “O Gângster”, 2007). O papel de Ejiofor é o do geólogo. O porta-voz da ciência que vai levar a notícia ruim para “o homem mais importante do mundo” – papel que Emmerich já deu para Bill Pulmann em “Independence Day” (1998), Perry Blake em “O Dia Depois de Amanhã” (2004) e em “2012” dá para um Danny Glover tão negro e ‘gente fina’ quanto Barack Obama.

Por fim, “2012” é nada mais que uma adequação pros dias de hoje para uma catastrófica passagem da Bíblia. Adequação que vem com a típica mão pesada de Emmerich para elevar a soberania e liderança norte-americana no planeta. É tão bobo que só pode provocar riso.

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