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Críticas

O Sal da Terra

Fé sobre quatro rodas

Por Luiz Joaquim | 07.12.2009 (segunda-feira)

Quantas vezes pode-se dizer que tivemos, nos cinemas, um retrato de um padre mais próximo do humano, com sofrimentos pessoais, e longe do santo ou pecador como é habitualmente mostrado não só nos filmes, mas na mídia de um modo geral. E de um caminhoneiro? No cinema brasileiro, em particular, talvez apenas o longínquo “Jorge, Um Brasileiro” (1989), de Paulo Thiago, tenha passeado por essa seara audiovisual no cinema, e tão visual e dramaticamente rica. Pois “O Sal da Terra” (Bra. 2009), filme do paranaense Eloi Pires Ferreira, em cartaz no Cineteatro do Parque oferece esses dois universos numa mesma obra. E oferece bem.

Na verdade, é o cuidado que Eloi impõe para a persona do padre católico Miguel (interpretado pelo preciso ator Edson Rocha), que faz de “O Sal da Terra” um filme singular na cinematografia brasileira, nos dando um desenho, acima de tudo, humanista. O usual é encontrarmos padres santificados ou demonizados pelo cinema, o que é uma pena.

O Pe. Miguel é um homem que mais escuta do que prega. É um homem que lembra da mãe que nunca teve perto de si, e lamenta, em função do ofício, a distância de sua irmã, que o criou no lugar da mãe. Por mais inusitada que seja, a história desse homem que celebra missas num caminhão, que ele próprio dirige, solitário, pelo interior do Brasil, foi inspirado num caso real, conhecido pelo diretor através de uma reportagem de TV. Na época da origem do projeto, há cerca de dez anos, apenas três padres faziam sua “pastoral rodoviária”, contou Eli ao CinemaEscrito durante a estréia do filme na tarde de hoje.

“Inscrevemos o filme em apenas dois festivais, o Cine-PE e o Festival de Brasília mas, tudo bem, porque logo depois de concluir esse longo projeto, quisemos lançá-lo informalmente no circuito de exibição”, explicou o cineasta. Apesar do lançamento discreto, “O Sal da Terra” ganhou a Margarida de Prata da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Trouxe, também para o Brasil, um título, muito provavelmente, inédito da Europa: o troféu do 2ø European Spiritual Film Festival, que foca atenção para filmes que, direta ou indiretamente, abordam religiões de todo o mundo.

Vendo “O Sal da Terra”, lembra-se imediatamente de “Bezerra de Menezes: O Diário de Um Espírito”, que teve um grande impacto na comunidade espírita. No filme de Eli, se católicos e não-católicos lhe dessem uma chance, teríamos um outro grande sucesso de público.

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