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Críticas

Amor sem Escalas

No solitário mundo dos adultos

Por Luiz Joaquim | 22.01.2010 (sexta-feira)

Em poucas linhas, “Amor sem Escalas” (Up in The Air, EUA, 2009), de Jason Reitman (de “Juno”, “Obrigado por Fumar”), fala de uma homem que não acredita em compromisso sentimental. Até que encontra uma mulher que o faz repensar o assunto e…

É claro que você já viu essa história. E mostrar homens frágeis, sofrendo de amor no cinema, parece ser o novo nicho do cinema norte-americano. A própria coqueluche da crítica ano passado no Brasil, “Amantes”, é um exemplo disso. A coqueluche juvenil “(500) Dias com Ela” vai pelo mesmo caminho. Mas, se você já viu ou não essa história não deve ser o critério para definir sua opção em ver “Amor sem Escala”. Até porque a merecida fama de bom filme corresponde exatamente porque ele extrapola essa fórmula.

Quando Clooney interpreta Ryan, o funcionário de uma prestadora de serviço que o faz viajar por toda a América para informar às pessoas que elas foram demitidas, temos nessa figura empertigada em seus objetivos a imagem obscura de uma falsa felicidade, pautada por uma “liberdade” que desconsidera o outro. Isso na verdade é seu combustível, que o alimenta em seu trabalho. Dar a pior notícia da vida para as pessoas não é algo que lhe afeta, em absoluto, e assim é porque seu prazer particular está sempre na frente de qualquer questão que diga respeito ao outro.

Como alicerce da estrutura dramática, para realçar essa carcaça dura de Ryan, temos o personagem de Natalie (Anna Kendrick, ótima). Ela é sua nova colega na empresa, que quer implantar uma espécie de videoconferência para demitir as pessoas à distância. Inexperiente, aos 23 anos, Natalie é o extremo oposto de Ryan no que diz respeito ao cuidado com o outro. Um terceiro pilar na estrutura do enredo desenhando para nos fazer ver este homem rever sua filosofia de vida vem na pessoa de Alex (a deslumbrante Vera Farmiga, de “Os Infiltrados”, de Scorsese). Madura e bem resolvida, Alex parece ser a cópia de Ryan, mas com uma “vagina”, como ela própria se define.

Apesar dos aparentes inevitáveis maneirismo num filme hollywoodiano (que lembra até a telenovela global “Por Amor”), Reitman, aqui, parece ter acertado mais no alvo que fora dele. Por exemplo, a idéia de morrer sozinho parece não fazer sentido na cabeça do seco Ryan, mas ver um idoso chorando através da tela de um PC, encarando a perda do emprego como a própria morte, é situação que não precisa de palavras. Funciona como o melhor cinema.

Há também um senso de oportunidade aqui impressionante captado por Reitman no que se refere a desemprego e à grande depressão econômica pela qual os EUA foram um dos maiores atingidos em 2009. Voltando ao solitário Ryan, numa das mais belas composições estéticas do filme, é triste quando o vemos como um pontinho solitário por trás de janela enorme em algum hotel perdido pela América. Por fim, é preciso reafirmar o talento de Clooney como excelente ator, que convence bastante a cada papel que assume.

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