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Críticas

Tron: O Legado

Entrando no jogo

Por Luiz Joaquim | 17.01.2010 (domingo)

Vamos resumir: Quando foi lançado em 1982, sob direção de Steven Lisberger, “Tron: Uma Odisséia Eletrônica” não era tão diferente, no quesito ‘argumento baboseira’, das dezenas de ficções científicas tipo ‘B’, que se produziam na época embaladas pelo sucesso de “Guerra nas Estrelas” (1977) e o então recente “O Império Contra Ataca” (1980). Entretanto, do ponto de vista técnico, “Tron” diferenciava-se por um cuidadoso tratamento visual que sugeria como seria a vida no interior de um fliperama (alguns leitores talvez nunca tenham lido a palavra ‘fliperama’).

Esse cuidado, e seu bom resultado, transformou o filme num sucesso imediato entre a molecada do mundo inteiro que, naqueles tempos, não saía de uma loja Playtime (outra palavra estranha para uma loja?). O resumo é que “Tron” virou um clássico quando assunto passa a ser videogames (ao lado de “Jogos de Guerra”, feito um ano depois por John Badham), e sua sequência que estreia hoje, “Tron: O Legado” (Tron Legacy, EUA, 2010), de Joseph Kosinski, segue a mesma linha: argumento baboseira / visual encantador.

Vamos expandir: Havia outra inteligência no primeiro “Tron”, e que foi reaproveitada aqui no seu “O Legado”. O que moldava a ação na produção de três décadas atrás eram as lutas entre combatentes virtuais, ou, mais adequadamente, combatentes eletrônicos. As lutas eram nada mais que adaptações de batalhas entre gladiadores romanos (historicamente bem vendidas pelo cinema) para o visual dos jogos eletrônicos de então. Sendo as principais armas o frisbee (disco de arremessar) energizado ou os rastros sólidos deixados nas corridas de moto.

No novo filme o homem que entrou no jogo em 1982, Kevin Flynn (Jeff Bridges), aparece em 1989, com seu filho de seis anos, Sam. Na verdade, é a última vez que Sam vê seu pai, dado, a partir dali, como desaparecido. Já em 2010, a Encom, empresa criada por Kevin, tornou-se multimilionária e segue sem o interesse de Sam (Garrett Hedlund), a não ser para boicotá-la. Este, por uma sugestão do melhor amigo de seu pai, resolve visitar seus antigos fliperamas. Reativando o computador 511 da Encom, Sam vai parar dentro do sistema e encontra o velho Kevin aprisionado por lá e em atrito com um clone eletrônico chamado Clu (Bridges, impressionantemente rejuvenescido por efeitos digitais).

Uma vez lá dentro, “Tron: O Legado” oferece tudo o que se espera de sua sequência: mais do original, só que visualmente atualizado. Dessa forma, estão lá as lutas com roupas fluorescentes – só que não mais lembrando circuitos eletrônicos, como em 1982 -, assim como a perseguição de motos. Com a tecnologia evoluída e pegando carona em técnicas que nasceram ao longo dos últimos 30 anos, a ação oferece perspectivas de 360 graus dos lutadores seja quando montam na moto virtual ou quando lutam. A propósito, as lutas aqui são também um reflexo do que interessa a Hollywood hoje, ou seja, movimentos marciais do oriente. São balés que foram uma vez celebrados por “Matrix” e nunca mais esquecidos pela indústria.

Ironicamente, podemos dizer que “O Legado” está pegando de volta o que “Matrix”, um de seus filhotes, pegou em 1999. Atenção na trilha sonora assinada pela dupla francesa “Daft Punk”, que, em sintonia com o filme, resgata um espírito musical do início dos anos 1980, mas mantém o ritmo interessante mesmo para os anos 2010.

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