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Críticas

Shrek para Sempre

Amor verde em fuga

Por Luiz Joaquim | 09.07.2010 (sexta-feira)

Depois que Andrew Adamson, principal cabeça por trás da criação de “Shrek”, saiu de cena, logo após finalizar a primeira sequência em 2004 (o primeiro filme é de 2001), a franquia levou um baque, por opiniões generalizadas, em 2007 com “Shrek Terceiro”. Este último sob a direção de Chris Miller e Raman Hui. Foi, portanto, bastante acertada a definição agora não de um animador, mas a de um diretor de cinema, Mike Mitchell (de “Gigolô por Acidente”, 1999) para tocar a primeira versão 3D-Digital do famoso ogro.

Mitchell soube converter bem o tempo das piadas de filmes com gente de carne e osso para o ritmo da animação em “Shrek para Sempre” (Shrek Forever After, EUA, 2010), sem com isso comprometer o tempo necessário da sedução que as imagens em digital já possuíam e, agora, ganham um aditivo na tridimensionalidade.

Assim sendo, este quarto filme funciona bem além do apelo 3D, que é sua razão principal de existir. Mas, de forma contraditória, “Shrek para Sempre”, assim como a maioria de filmes que insistem nesta tecnologia, começam com força no efeito ‘saindo da tela’, para arrefecer no meio do caminho. Na verdade, poucos trabalhos chegaram no quesito competência nesse aspecto. “Avatar” entra para a história nesse sentido.

Para nossa sorte, o roteiro do novo filme, apesar de “chupar” a idéia de um dos maiores clássicos de Hollywood, “A Felicidade Não se Compra”, rodado em 1946 por Frank Capra, é divertido o suficiente para nem nos darmos conta da quase ausência do entretenimento tridimensional na segunda metade do filme. A diversão está exatamente no fato de “Shrek Para Sempre” resgatar o espírito do primeiro “Shrek”, quando o monstro verde precisou repensar seu solitário espírito de vida para compartilhar do interesse de Fiona e da amizade do Burro e do Gato de Botas (este tendo aparecido no segundo filme).

Como no clássico de Capra, “Shrek” só vai entender o valor da família e amigos quando se vê num mundo onde ele não existe, ou seja, Fiona, o Burro e o Gato não reconhecem o bicho verde. Ele vai parar lá nesse lugar por conta de um acordo com o mágico pilantra Rumpelstilskin. Figura que, se a animação ganhasse uma versão humana, provavelmente teria o Matheus Nachtergaele interpretando-o.

No acordo, Shrek troca uma dia longe da rotineira e entediada atual vida de casado, para um dia num lugar onde volta a exercer sua natureza de ogro, como por exemplo assustar as pessoas e tomar banho de lama tranquilo. Acontece que Rumpelstilskin é um vigarista e nesse acordo, a própria existência de Shrek, como a conhecemos, é ameaçada.

A correria do monstro é, assim, não apenas para resgatar o amor da esposa e amigos, mas também para salvar a própria pele. Nesse sentido, pode-se lembrar da luta de Marty McFly para não desaparecer em “De Volta para O Futuro” (1985). Do ponto de vista, vá lá, existencial, o novo Shrek lembra uma outra saga, esta francesa dirigida por François Truffaut e protagonizada por Jean-Pierre Leáud nos filmes “Os Incompreendidos” (1959); “Antoine e Colette” (1962), “Beijos Roubados” (1968), “Domicílio Conjugal” (1970) e “O Amor em Fuga” (1978), neste quando Antoine Doinel (Léaud) está separado da esposa.

Uma última observação está na qualidade cada vez mais realista nos efeitos da animação. Shrek parece cada vez mais humano em suas expressões e, alguns poderão perceber ao olhar para ele como o bicho verde está bem mais parecido com aquele seu vizinho que você tem medo.

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