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Entrevistas

Trabalhar Cansa

Rojas e Dutra: Queremos te levar a caminhos inesperados

Por Luiz Joaquim | 08.12.2011 (quinta-feira)

Demorou para chegar ao Recife, mas hoje, (às 18h30, com reprise na terça-feira, mesmo horário) o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco promove na mostra “Expectativa 2012 / Retrospectiva 2011” a exibição de um dos mais comentados filmes brasileiros do ano. “Trabalhar Cansa”, primeiro longa-metragem dos jovens paulistas Juliana Rojas e Marco Dutra.

Tendo exibido na conceituada mostra “Um Certo Olhar”, do Festival de Cannes 2011, a produção aparenta contar a história simples de uma dona de casa (Helena Albergaria) que aluga um imóvel para montar um mercadinho. Ao mesmo tempo, ela contrata uma empregada doméstica para tomar conta da filha pequena, enquanto seu marido fica desempregado.

Só que nada é simples assim. Muito organicamente, Marco e Juliana vão nos colocando na dinâmica de funcionamento do mercadinho e, principalmente, nas relações empregatícias entre Helena e seus funcionários. Só que, nesse processo, situações incomuns e misteriosas vão pouco a pouco surgindo no imóvel e transfigurando a protagonista.

Após a primeira exibição de “Trabalhar Cansa” no Brasil, dia 12 de julho no 4º Festiva Paulínia de Cinema, a dupla conversou com a Folha de Pernambuco sobre intenções e efeitos do filme. Um dos pontos da conversa foi se eles lembravam de algo parecido na filmografia brasileira que abordasse a classe-média de forma tão crua e assustadora.

Marco lembrou que há algo assim na obra e Walter Hugo Khouri (1929-2003), cineasta que ele sua parceira
sempre prestaram atenção ainda na faculdade de cinema. “Lembro que vimos ‘O Estranho Encontro’ (1958) numa aula e percebemos algo muito legal já ali, enquanto a turma nem se interessava”.

Mas, e de onde vem o interesse em lidar com o universo da classe média? Juliana diz que a inspiração é o próprio ambiente doméstico em que vive. “E tem também as relações de trabalho. É algo que é tenso pro patrão, pro empregado. E no Brasil há um subtexto aí que não é bem configurado. Que se mistura com hierarquia social, racismo e outras coisas. Nosso desafio era representar isso com sutileza no filme”, destaca.

E continua: “apesar de ninguém falar mal do filme, alguns aceitam bem a história social que o filme propõe em mistura com o algo sobrenatural na atmosfera, mas na sessão de Paulínia”, De fato, Marco relembra que em Cannes, o filme recebeu criticas elogiosas em revistas importantes como a Variety e Hollywood Reporter,entre outras, dizendo que ninguém sai indiferente da sessão e que a história fica na sua cabeça após o fim do filme.

De qualquer forma, na sessão de Paulínia, estava claro que alguns espectadores pareceram ter assimilado o suspense sem exigências maiores, enquanto outros se viram frustrados. “Mas nessa mistura, as pessoas percebem o trabalho dos atores, e que há uma direção por trás. Entendo que frustre algumas pessoas. Porque se a gente usa códigos de um filme de suspense, é natural que você crie expectativas. Mas a gente quer outra coisa. A gente quer que você tenha prazer vendo o filme e ao longo dele que você seja levado a outros caminhos que você não esperava”, resume Juliana.

E Marco complementa: “Só chegamos a uma forma satisfatória na construção destes elementos quando saímos do esquemático e entramos nas próprias questões do mercado, que foram incorporadas no clima do suspense. A gente queria que tudo reverberasse para a outra situação”, encerrou.

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