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Reportagens

A metamorfose da beleza sob a luz de Hollywood

Como a referência de beleza mudou ao longo de 70 anos

Por Luiz Joaquim | 01.01.2012 (domingo)

Ninguém parece duvidar que os padrões de beleza para homens e mulheres estão vinculados à época em que se situam, mas o interessante é observar como o cinema, em particular Hollywood, foi determinante na definição destes padrões ao longo das últimas sete décadas. Se no século 16 os artistas renascentistas, como o italiano Ticiano, elegiam senhoras rechonchudas como musas para suas pinturas, no século 20 foi o cinema que desenhou a referência para o ideal de feminino e do masculino no século 20. E continua.

Sem a longevidade do período renascentista, as beldades hollywoodiana reinam uma, no máximo duas décadas de beleza na tela. Esse reinado não só reflete a sociedade vigente, mas também aponta tendências que o resto do mundo costuma seguir. E não é difícil de comprovar a hipótese de que, passado o reinado da beleza, sobrevive apenas o talento.

ELES

Nos anos 1940, por exemplo, entre eles, era Cary Grant e Gregory Peck quem davam as cartas a partir do modelo de um homem dinâmico e elegante mas, acima de tudo, cavalheiro. A elegância, no caso, estava acima do corpo perfeito. Assim como seu contemporâneo James Stewart, Grant e Peck eram alto mas não musculosos. Músculos perfeitamente desenhados só viriam fazer diferença 40 anos depois.

Mas, já nos anos 1950, o período de ouro de Hollywood, os estúdios reproduziam muitas das questões bélicas da Segunda Guerra, além de recriar épicos bíblicos, históricos e westerns. Assim sendo, a força tomou seu lugar, ficando Kirk Douglas como uma das mais ricas referências de masculinidade deste período. Sendo, entretanto, a década mais prolífera dos grandes estúdios, havia espaço também para os homens confusos, alternando-se entre a brutalidade e delicadeza (Marlon Brando, James Dean, Montegomery Cliff).

E a lógica da força prosseguiu na década seguinte. O herói americano, entretanto, que melhor encarnava este modelo era Charlton Heston. Era uma figura cuja beleza servia para encarnar tanto um escravo romano quando um astronauta. Até aí, à referência de força para o homem moderno não se desvinculava do respeito a mulher. O homem era seu protetor natural e a força era usada para cuidar, não agredir.

Nos anos 1970, o volume da população nas metrópoles explode e a violência urbana cresce. No cinema, Clint Eastwood encarna o modelo do polícial macho, que resolve tudo com uma pistola Magnum 44 em San Francisco, ou com uma espingarda no Velho Oeste. Nesse contexto, Clint representa a última geração cuja beleza estava lá independente de malhar ferro para ter seu espaço no mainstream.

Chegando os 1980, o modo brucutu estava ativo e o volume de músculos contava como reforço para a identidade masculina. No topo desse cenário, Sylveste Stallone num ringue de box (“Rocky”) ou no meio do mato atirando contra vietâmitas (“Rambo”) era a maior referência. Seu descendente, Arnold Schwarzenegger, assumiu o trono e extendeu o mesmo modelo para os anos 1990. A truculência mandava, mas agora em cenários diversos, muito deles embaladas pela paranóia contra o terrorismo (“True Lies”).

Chega os anos 2000 e com ele o politicamente correto. A massa muscular passa a não ser o suficiente. Além de precisar tê-la modelada, o homem do novo século tem de usá-la com estilo. Nada de guerras ou vinganças, os músculos têm uma função estética de emoldurar o homem de atitude. Aqui Brad Pitt, astro que circula bem em diversos gêneros, foi o rosto mais lembrado. Para a década que começa, o jovem Ryan Gosling (“Amor a Toda Prova”) desponta como promessa de novo Adônis hollywoodiano. Junto ao seu perfil físico minusciosamente talhado, ele constrói o perfil do homem sensível, mas também impetuoso, destemido e vencedor. Vejamos se esse será então o novo homem.

ELAS

Enquanto Gregory Peck e Cary Grant enlouqueciam as moças nos anos 1940, os homens babavam por Katherine Hepburn. Mas as meninas também olhavam com admiração para a mulher que, mesmo estabanada, conseguia permanecer linda, além de sua capacidade de combinar fragilidade com emancipação feminina. Ninguém podia esperar que dez anos depois, o sex appeal iria se impor de forma tão determinante na definição do conceito de beleza feminina para o mundo. A responsável por isso foi a menina Norma Jeane Mortenson, ou apenas Marylin Monroe.

A década de 1950 foi deste furacão loiro que mudou para sempre os padrões de beleza para a mulher. Na verdade, Marylin tornou-se um ícone atemporal com suas diversas versões fora de Hollywood. Versões igualmente potentes pelo aspecto sexual (Briggit Bardot na França, por exemplo, e Norma Bengell no Brasil uns anos depois). Mas, de forma curiosa, para os anos 1960, os mesmos da liberação sexual, Hollywood elegeu como referência uma menina magrinha, frágil e elegante que ia na contramão da extravagância do corpo. Era Audrey Hepburn.

Se Marylin impos suas voluptosas e naturais curvas como referência feminina aliadas a um tipo constantemente indefeso, Audrey representava a mulher sem firulas, simples, discreta e frágil, mas sempre elegante. Essa elegância se manteve nos anos 1970, mas agregada a emancipação sexual e social, que finalmente aparecia personalizada na beleza clássica de Faye Dunaway.

A década seguinte foi, em Hollywood, essencialente masculina. Demorou para seu ícone feminino de beleza aparecer com a força que surgiu Kim Basinger em “9 1/2 Semanas de Amor” (1986). Seguindo o espírito desta década no cinema, pelo qual a mulher era um personagem secundário, a própria passagem de Bassinger por Hollywood foi (é) discreta. Os anos 1990 foram mais promissores e já no início estava definido o rosto e o perfil da mulher daquele período.

Quando Julia Roberts mergulhou numa banheira em “Um Linda Mulher” (1990), e surgiu da água com o cabelo bagunçado, mais ainda bonita com seu sorriso largo, estabeleceu-se que a nova mulher seria aquela que conseguisse manter-se atraente em qualquer circunstância. Essa “qualquer circunstância” passou a incluir situações de extremo perigo nos anos 2000.

Agora a mulher deixava de ser a mocinha para ser a heroína agente da salvação. Protagonizava a violência, se necessário, para salvar o mundo e Angelina Jolie incorporou como ninguém esse papel. Para os anos 2010, a delicadeza e beleza natural parece estar tomando seu lugar novamente visto que Scarlett Johansson é um dos nomes mais respeitados quando o assunto é a associação entre beleza e feminilidade em Hollywood

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