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Entrevistas

Entrevista: Fernando Meirelles (360)

A globalização sentimental de Meirelles

Por Luiz Joaquim | 16.08.2012 (quinta-feira)

GRAMADO (RS) – O diretor do filme “360” (Áus., Fra., Bra., Ing., 2012), que estreia em todo o Brasil amanhã (17/08), é conhecido pela simplicidade, objetividade e simpátia nos encontros com a imprensa. Acompanhado de uma das atrizes de seu elenco, Maria Flor, o cineasta Fernando Meirelles esteve aqui no 40o. Festival de Cinema de Gramado no final de semana passado para a première nacional do filme e conversou com os jornalistas reforçando esta fama.

Falou, junto com Flor, sobre diversos aspectos que o levaram a encarar este novo trabalho que é, como ele mesmo apresentou na sessão de abertura do Festival, “um filme pequeno”. Feito com US$ 14 milhões de dólares, Meirelles não se referia a termos de custo de produção, nem minimizava seu elenco estelar que inclue Jude Law, Anthony Hopkins, Rachel Weisz, entre outros, além do brasileiro Juliano Cazarré (de “Febre do Rato”) formando par com Maria Flor.

Meirelles falava do aspecto intimista de “360”, algo incomum na temática de sua filmografia deste seu quarto filme lançado como diretor solo, sendo este o terceiro com produção estrangeira. Na nova obra, ele debruça-se sobre o roteiro de Peter Morgan (“Além da Vida”) para falar de encontro e desencontros de casais em crise ou em reconciliação, de um pai alcóolotra, de uma prostituta de luxo, de u guarda-costa deprimido, além de um mulçumano em conflito, entre outros dramas em que a sutileza e o silêncio são mais eloquentes que a ação e o barulho.

“A possibilidade de trabalhar com um elenco como esse me fez topar encarar o projeto. O primeiro nome que tinha na cabeça era o de Jamel Debbouze [de ‘Amélie Poulain’]. Sempre quis trabalhar com ele pelo carisma. Seu olho parece ter uma gelatina de tanto brilho. A gente nem precisa usar o eyelight [iluminação que suaviza a luz nos olhos] com ele. Mas todos os atores tem um passado riquíssimo em seu país. O Vladimir Vdovichenkov [o guarda-costas], por exemplo, é uma espécie de Wagner Moura da Rússia”, destaca.

Sobre a direção de fotográfia, Meirelles deu uma dica aos jornalistas sobre seu fotógrafo. Aqui, o Adriano Goldman. “Ele hoje é o brasileiro que mais filmou no exterior. E ao lado de gente que tá no topo como Robert Redford, Meryl Streep. É preciso prestar atenção no que o Adriano faz”, avisa.

Sobre a concepção de “360”, um “filme-coral”, com diversos personagens igualmente importantes, ele diz que foi quase como fazer nove filmes diferentes num só. “Foi um prazer enorme, mas teve seu lado frustrante, pois eu tinha personagens excelentes mas não dava
tempo para desenvolvê-los”.

A Laura, de Maria Flor por exemplo, é uma figura que interage com três outros personagens: o de Juliano Cazarré (seu ex-namorado), o de Ben Foster (ex-detento pertubado sexualmente), e o de Hopkins (um pai em busca da filha). Indagada sobre como foi o desafio de atuar em ingles ao lado do eterno Dr. Hannibal Lecter, Flor fez revelações.

“Eu pensava: num quadro em que estou com o Hopkins, todo mundo vai olhar para ele. Então eu tinha que me esforçar para fazer seu personagem conquistar o meu em cena. Ele chegou muito desarmado, e disse que ia interpretar ele mesmo, isso porque ele também é um alcoólatra e sempre foi um vencedor. Sua atuação é muito econômica, e seu jogo é mais com a camera do que com quem contracena. Cresci muito depois dessa experiência”, disse.

A entrevista encerrou com uma provocação: estaria Meirelles se refugiando nos filmes estrageiros por que “perdera a mão” para fazer filmes no Brasil como “Cidade de Deus”? Tranquilo, o cineastas fez uma comparação objetiva: “Olha, se o New York Times te oferece o triplo do que você ganha para fazer um texto, você vai negar?”.

“Não tem nada disso de refúgio”, continuou, “Tenho mais um filme no estrangeiro a fazer, o ‘Nemesis’ [sobre o magnata grego Aristótales Onassis], com roteiro meu e do Bráulio Mantovani que devo filmar em Budapeste e Croácia com US$ 30 milhões. Desde ‘Cidade de Deus’ que eu não me envolvia totalmente com um filme e eu estou extretamente orgulhoso com o resultado do roteiro. Depois disso faço um filme no Brasil”, concluiu.

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