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Críticas

Django Livre

O anjo, o mau e o esperto

Por Luiz Joaquim | 18.01.2013 (sexta-feira)

É como se fosse um parque de diversão, mas é cinema. Bom cinema. “Django Livre” (Django Unchained, EUA, 2013) é o sétimo longa-metragem dirigido para a tela grande por Quentin Tarantino, e entra em cartaz hoje com seus rápidos 165 minutos de duração. O título reforça o talento do cineasta americano, mas também realça ainda mais seus maneirismo. Talvez o fato deste ser o primeiro filme de Tarantino que a montagem ficou a cargo de Frank Raskin, e não pela tradicional Sally Menke, falecida em 2010, esteja relacionado por estes reaces.

Mas, talvez, seja uma injustiça responsabilizar Raskin pelas pistas tão mais claras aqui das estratégias do diretor para nos entreter. A própria história construída na indústria cinematográfica por Tarantino desde 1992, com “Cães de Aluguel”, veio fortificando diante de nossos olhos a sua assinatura. Não são muitos realizadores contemporâneos tão populares que fazem/fizeram seu nome virar adjetivo ou raiz para um advérbio.

Essa sua assinatura passa obrigatoriamente pela tríade violência, sangue, vingança. Isto do ponto de vista temático e conteudístico. Pelo caminho da estética, Tarantino não dispensa sangue (muito sangue jorrando), música pop, uma construção elíptica do roteiro e, principalmente, referências explícitas a clássicos do cinema, particularmente antigos filme B. Atenção para o uso do zoom aqui, trazendo em si humor para as situações.

Há ainda os diálogos rápidos (igual ao seu jeito de falar) e as conversas aparentemente estúpidas, mas que ajudam a dimensionar seus personagens. A discussão que precede uma emboscada promovida por um grupo que parece ser o antecessor da Ku Klux-Klan em “Django Livre” é belo exemplo aqui.

Na nova e bem dosada salada tarantinesca, a homenagem está já no título, em referência a “Django”, produção italiana dirigida por Sergio Corbucci em 1966 com Franco Nero protagonizando também um western spaghetti na fronteira do méxico que vai vingar a morte da esposa. Nero, à propósito, tem uma amigável participação em “Django Livre” ao lado de Leonardo DiCaprio (o fanzendeiro do Mississippi, Calvin) e do ex-escravo Jamie Foxx (Django Freeman).

E se no anterior, “Bastardos Inglórios” (2010), os alemães eram os vilões, agora eles são herois. No caso o Dr. King Schultz (o excelente Christoph Waltz) é dentista estrangeiro nos EUA de 1858, dois anos antes da Guerra Civil, que desistiu da profissão para virar caçador de recompensa. Ou seja, ele procura foras-da-lei, os mata, entrega às autoridades e recebe muito dinheiro.

A abertura hipnótica de “Django Livre” – outro trunfo habitual da inteligência de Tarantino, capturando o espectador logo na primeira situação do filme – apresenta Schultz tentando comprar o escravo Django para ajudá-lo na identificação de três irmãos procurados. Após a missão cumprida, Schultz ajuda Django a ir ao Mississippi, estado norte-americano historicamente radical na crueldade contra os negros – em busca de sua esposa Broomhilda (Kerry Washington, que foi a esposa de Foxx em “Ray”).

Broomhilda é escrava na fazenda de Calvin, e vive sob o domínio do velho Stephen (Samuel L. Jackson, envelhecido para parecer ter 79 anos). A insolência do velho escravo feito por Jackson rende os mais divertidos momentos, assim como são os responsáveis por mais indignação, pois o negro Stephen é mais racista que alguns brancos. Stephen resgatada no inventivo roteiro de Tarantino, era uma figura mais comum do que se imagina, naqueles tempos.

Embalado pelo luxo da trilha sonora feita por Ennio Morricone, 84 anos, o mesmo autor das melodias inesquecíveis dos western spaghetti, o cineasta tem agora seu próprio faroeste estilizado, resgatando mais um gênero do passado, ao lado dos filmes de artes marciais (“Kill Bill”) e os Blaxpotation (“Jackie Brown”). Expressões antes consideradas menores pela crítica e hoje elevadas ao patamar de arte com a ajuda do tempo e do reprocessador de cinema chamado Quentin Tarantino.

Em tempo: sobre as queixas feitas pelo cineasta Spike Lee dizendo que “Django Livre” era ofensivo contra a história de seus ancestrais escravizados, o melhor e não fazer nenhum comentário.

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