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O que É o Cinema?, de André Bazin

O velho testamento da crítica de cinema

Por Luiz Joaquim | 06.07.2014 (domingo)

Nos últimos 20 anos, quem quisesse ter na mão “O Cinema: Ensaios”, de André Bazin (1918-1958), precisava recorrer aos sebos e contar com a sorte de se deparar com algum exemplar em bom estado do livro que esteva fora de catálogo nestas duas última décadas. Essencial para conhecer um dos mais influentes pensamentos que permeiam as teorias do cinema, os textos do crítico francês voltam às livrarias por uma nova e caprichada edição da Cosac Naify, agora com o título “O que É o Cinema?” (416 págs., R$ 49,90).

O novo título traduz literalmente a versão original em francês da série “Qu est-ce que Lé Cinéma?”, publicada postumamente pela Éditions du Cerf em quatro volumes, entre 1959 e 1961, sendo os três primeiros organizado pelo próprio Bazin e o o último editado pelo crítico e cineasta Jacques Rivette (86 anos). O que temos no livro brasileiro é, no entanto, o que a Cerf fez a partir de 1975, quando passou a republicar num só volume sem subdivisões no índice uma seleção de 27 dos 64 ensaios relacionados nos quatro volumes originais da série.

Nos três primeiros volumes originais franceses de “O que É o Cinema?” foi Bazin quem escolheu e corrigiu os textos escritos a partir de seus 25 anos de idade até sua morte, e que antes estavam espalhados em publicações de cineclubes, jornais e em revistas. Assim como a Cahier du Cinéma, que ajudou a fundar e foi seu editor-chefe do número 2 ao 90.

Para os quatro volumes, o teórico pensou seu escritos em torno de quatro temas: 1) Ontologia e linguagem; 2) O cinema e as outras artes; 3) Cinema e sociologia; 4) O neorealismo italiano.

Além de elaborar teses de gigantesco arco teórico, Bazin também pensou a natureza do cinema relacionando-se com a história, com a vida social e com as outras artes. Graças as suas perspectivas, Bazin inaugurou uma escola de crítica cinematográfica moderna que até hoje influencia praticamente todo o exercício analítico sério de nossa cultura.

Dentre tantas contribuições para nos fazer perceber o cinema como uma arte de peculiaridades únicas, como sua capacidade de gerar no espectador a mesma fruição da passagem do tempo próximo à vida real, o crítico também elaborou reflexões sobre o cinema clássico e o cinema moderno pós-guerra, particularmente o neoralismo italiano, do qual encurtou o caminho para as teoria da Nouvelle vague francesa e que depois foram levadas adiante pelos seus pupilos, Rivette, Truffaut, Godard, Chabrol e Rohmer, entre outros.

Diferente da última publicação do compêndio aqui no Brasil – em 1991 pela Editora Brasiliense -, a brochura da Cosaf Naif traz nove textos da série original: Do volume 1: “O mito de Stálin no cinema soviético”; “Sobre Why We Fight”. Do volume 2: “Entomologia da Pin-up”; “Jean Gabin e seu destino”; Morte de Humphrey Borgat”. Do volume 4: “Due soldi di speranza”; “De Sica e Rossellini”; “Sedução da Carne”; e “A profunda originalidade dos vitelloni”.

A nova edição ainda apresenta uma nova nota do professor Ismail Xavier, além do prefácio já publicado em 1991, e ainda oferece um presente. Um texto inédito, também de Xavier, intitulado “Bazin no Brasil”. Nele, o professor desenvolve vários aspectos sobre a influência do francês na teoria e crítica de cinema por aqui, com especial foco sobre a figura de Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977).

Inéditos – Entre palestras, apresentações de filmes e incontáveis artigos escritos em revistas menos conhecidas nos 15 anos de atividade como crítico de André Bazin, diversos textos ainda estão a espera, mesmo na França, de serem reunidos em livros. Há, inclusive, atualmente uma mobilização de estudiosos de diversos lugares empenhados em torna essa pesquisa novos compêndios.

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