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Festivais

47o Brasília 2014 – noite 3

Sem ordem e sem progresso

Por Luiz Joaquim | 20.09.2014 (sábado)

BRASILIA (DF) – Que bom que existe um cineasta como Marcelo Pedroso (de “Pacific”) no Brasil para nos oferecer outras perspectivas sobre a nossa sociedade e suas prioridades. Pelas imagens e sons imaginados e realizados por Pedroso em “Brasil S/A”, seu novo longa-metragem lançado quinta-feira no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, somos colocados diante de aspectos hostis que disfarçadamente alicerçam a ideia de progresso no nosso País.

Conduzido num tom operístico, a deslumbrante (não há outra palavra) trilha sonora de Mateus Alves é em boa parte responsável pelo contexto iminentemente trágico de uma sociedade movida pela ideia desenvolvimentista desarticulada que o filme ressalta, ora pela sátira, ora pelo trágico.

Por uma conjunção de possibilidades imagéticas e sonoras grandiloquentes que precisam ser vivenciadas numa sala de cinema com alto e bom som para a percebemos em sua real força, “Brasil S/A” aborda várias gamas de leituras a partir de seus diversos esquetes e a poesia nelas trabalhadas.

Juntos, episódios como o do catador de caranguejo no mangue violentado pelo navio que o atravessa, ou o da garota que sem poder deslocar-se em seu carro pelo engarrafamento decide embarcar numa cegonha (caminhão transportador de veículos), eles reforçam o discurso da linha central narrativa no filme.

Essa linha é a trajetória de Edilson, o cortador de cana-de-açúcar que se vê obrigado e assimilar um projeto no qual as máquinas, em seus aspectos bestiais, impulsionam uma modernidade cega. E onde está o humano nesta sociedade? Ele não importa. Evapora-se sob a ausência da Ordem e do Progresso que a oca bandeira brasileira hasteada por Pedroso, pairando sobre a cidade e fazendo sombra acima do bom senso, consome a todos.

Outra peça delicada criada em Pernambuco foi destaque na quinta-feira em Brasília. Falamos de “Sem Coração”, curta-metragem de Nara Normande e Tião. Nele, Nara reconta uma história que ouvia na infância, no litoral norte de Alagoas, sobre uma menina apelidada de “Sem Coração”.

No roteiro, um garoto da capital que vem veranear na casa do primo na região envolve-se afetivamente com Sem Coração em pleno processo de brutalidade, marcado pelas incertezas, medos e receios próprios de quem está descobrindo a sexualidade.

Pontuado por uma precisa decupagem (as definições específicas sobre enquadramento das cenas, posição de atores e seu tempo de exposição), além de uma montagem ágil e desenho de som grandiloquente, “Sem Coração” segue uma narrativa linear. E por estas opções técnicas, temos fundidos no filme a beleza estética com a potência lúdica de um primeiro amor juvenil.

ESTRUTURA – A linearidade narrativa do curta “Som Coração”, contextualizou Tião em entrevista ontem, foi pensada para manter o mesmo impacto no espectador, tal qual Nara Normande lhe contou no passado, ajudando o crescente dramático que a história propõe.

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