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Reportagens

Multiplex procura erros para acertar (2000)

Uma avaliação feita, com poucos mais de um ano de funcionamento, dos dois primeiros multiplex de PE

Por Luiz Joaquim | 23.03.2018 (sexta-feira)

— publicada originalmente em 5 de janeiro de 2000 no Jornal do Commercio (Recife)

Quando o Recife ganhou o seu primeiro complexo de cinema, em 17 de agosto de 1998, houve uma exultação por parte daqueles que concordam com o slogan nacional “cinema é a maior diversão”. Razões não faltavam para tamanha excitação. Com a chegada das dez salas no Shopping Center Recife, da parceria entre a United Cinema International (UCI) e o Grupo Severiano Ribeiro, chegava também toda uma estrutura de tecnologia, conforto e serviço diferenciados que há muito não se tinha na região.

Passado o deslumbramento inicial, o público recifense começa a perceber e a se queixar de alguns problemas técnicos ou operacionais durante certas projeções. A maior parte das falhas são constatadas nas primeiras exibições das cópias quando elas estão estreando na cidade. A sessão inaugural, em maio, de Studio 54, dirigido por Mark Christopher, talvez tenha sido a ocorrência mais grave durante o ano passado.

O público não entendeu nada quando assistia à pré-estréia do filme que tem como mote a boate mais famosa de Nova York da época Disco. Transcorridos uns 75 minutos de projeção de Studio 54, os espectadores viram novamente as mesmas imagens de 25 minutos atrás. É que a cópia destinada ao Recife chegou com a quarta parte do rolo repetida. A terceira lata de filme, que deveria ter vindo ao Nordeste, foi parar no Sul, nos cinemas de Curitiba. Na ocasião, a gerência distribuiu convites para que o público voltasse em outra data, quando a confusão estivesse resolvida.

Neste caso específico, o problema não estava relacionado diretamente com a casa de projeção, e sim com a distribuidora. “Verificamos que boa parte das ocorrências aconteceram por conta da inadequação da cópia com o equipamento de projeção, que é muito sensível”, explica José Carlos de Oliveira, Diretor Geral da UCI/Brasil. Ele diz que a distância entre o Recife e as distribuidoras de São Paulo ou do Rio de Janeiro acaba atrasando a entrega das fitas.

“A montagem do filme é um processo demorado. Antes de exibi-lo, é preciso fazer uma verificação e uma sincronização minuciosa de toda a extensão de sua película e unir as quatro (ou mais) partes no carretel do projetor. Para executar essa tarefa, o operador precisa de, no mínimo, um espaço de tempo entre duas e três horas. Muitas vezes, algumas cópias chegam em Pernambuco a menos de dez minutos da primeira exibição”, conta.

A instalação, sem a devida revisão, de Além da Linha Vermelha, de Terrence Malick, provocou um momento desagradável em uma das sessões no Shopping Recife, em fevereiro. Por cerca de dois ou três longos minutos durante a projeção, os potentes alto-falantes ficaram totalmente mudos. A presença das legendas na tela era a prova de que o acontecido não se tratava de nenhum devaneio saudosista de Malick pela época pré-sonora do cinema.

O que aconteceu é que não foi feita uma correta sincronização em uma emenda do rolo e o sistema não leu a banda sonora do filme. É também por esse motivo que, por mais de uma vez, o som original do filme já foi anulado para dar espaço à uma das quatro estações de Vivaldi enquanto os refletores acendiam gradativamente em plena projeção.

“Nesses casos, o sensor que `lê’ o som entende que o filme acabou. Como o equipamento é todo automatizado, as luzes são imediatamente acionadas. O problema dura cerca de dois minutos. É o tempo para que um dos operadores identifique o ocorrido e altere o comando das máquinas para a posição manual”, esclarece José Carlos.

DOLBY – É graças a sofisticação dos equipamentos do Multiplex que, num mesmo local, podem ser oferecidas até 18 salas de projeção com programação distinta. O problema é que essa mesma sofisticação pode retardar a correção de algum eventual defeito, uma vez que a média de operadores nos complexos de cinema é de três pessoas.

No segundo dia de exibição de O Sexto Sentido, no Shopping Tacaruna, o espectador de audição mais sensível que estava na sessão de 21h percebeu que o som no filme de M. Night Shyamalan, embora realizado em Dolby, não provocava o mesmo impacto que o das outras salas.

“O causador do incidente foi a queima de uma placa magnética que diferencia o tipo de sistema sonoro do filme: se Mono, Dolby, Dolby Stereo, Dolby DTS ou SDDS. Com o defeito, a peça deixou o equipamento operando em mono. Ao mesmo tempo, um alarme sonoro foi disparado para alertar o técnico a respeito da reposição da placa”, defende José Carlos.

Mesmo com toda a tecnologia a serviço da otimização da projeção, os modernos complexos de cinema não estão livres de problemas que acontecem com qualquer projetor comum. A cópia de Corra Lola, Corra, do alemão Tom Tykwer, chegou ao Recife com quebras nas perfurações dentadas do filme. Resultado: a fita “patinou” no dente de tração (peça dentada que encaixa nas perfurações da fita), e fez o enquadramento descer da tela. A falha, por alguns minutos, impediu que as legendas fossem lidas, limitando, àqueles que dominam o idioma germânico, a compreensão da conversa entre os personagens.

RENDIMENTO – Mesmo apresentado algumas imperfeições, a direção da UCI pode se orgulhar do rendimento técnico oferecido pelos seus dois complexos de cinema no Estado. Segundo José Carlos de Oliveira, durante 365 dias, apenas 12 ocorrências foram registradas. “Mas não estamos satisfeitos. O objetivo é atingir o grau zero de complicações técnicas”, adianta.

Para encurtar esse caminho até o resultado ideal, José Carlos alerta que o público precisa, ao identificar algum problema durante a projeção, informar a gerência exatamente o que aconteceu. “É imprescindível que seja salientado em que sala e sessão a deficiência aconteceu. Só tendo conhecimento desses detalhes é que podemos identificar o erro e evitar um novo equívoco”.

Independente dos equívocos técnicos, o recifense pode se considerar afortunado. Desfrutando de salas com projeções cristalinas, qualidade sonora límpida, poltronas confortáveis e climatização correta, o público local aproveita as mesmas benesses oferecidas por semelhantes complexos espalhados pelo mundo. E com um detalhe, o preço local é, proporcionalmente, um dos mais baixos do planeta.

QUANTO CUSTA IR AO CINEMA (em janeiro de 2000)
Recife – R$ 10
Nova Iorque – R$ 17
Paris – R$ 14
Madrid – R$ 8,50
Roma – R$ 11
Sydney – R$ 14
Londres – R$ 20

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