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Críticas

Click

Vivendo no automático

Por Luiz Joaquim | 27.08.2018 (segunda-feira)

– publicado originalmente em 11 de Agosto de 2006 no jornal Folha de Pernambuco

Adam Sandler, conhecido pelas suas comédias paspalhonas e fáceis de esquecer, acerta agora com Click (EUA, 2006), filme que produziu e entregou a direção para Frank Coraci – com quem já havia trabalhado em Afinado no amor, 1998. A premissa em Click é simples. Como seria sua vida se a pudesse administrar com um controle remoto?

Numa época cada vez mais estigmatiza pela fugacidade da imagem em movimento, nada mais sugestivo que pensar quais os seus benefícios com o controle remoto de sua vida nas mãos. Seriam muitos: avançar as brigas com a esposa [ou com o marido], pular os momentos entediantes, “pausar” os chatos e se vingar deles sem que percebam, diminuir o volume do cachorro irritante, ajustar câmera lenta quando passa uma pessoa bonita, e por aí vão.

Mas toda balança tem seu contrapeso. É a lei da natureza. E esse é o ponto interessante em Click, que é impregnado de humor (do bom e inteligente), mas revela-se um drama que se abate sobre qualquer ser contemporâneo que coloca o trabalho acima da família, mesmo que pela boa causa de oferecer o melhor para ela.

A família no caso é a de Michael (Sandler), um arquiteto obstinado em virar sócio da empresa onde trabalha sem parar. Para isso, releva os detalhes que fazem uma família ser uma família. Certo noite, encontra um homem estranho (melhor não revelar muito sobre esse personagem de Chistopher Walken, bem à vontade) que lhe vende o tal controle remoto universal.

Há, aqui, uma carga psicanalítica que fará alguns professores de psicologia sorrirem quando pensar em ilustrar uma aula sobre o domínio de suas emoções. Isso porque o filme questiona a velocidade das coisas contra o ritmo natural da vida contida na infância, puberdade, no amadurecimento, no casamento, nos filhos e na morte.

Afora um excesso melodramático, como numa seqüência envolvendo uma morte, Click poderia ser um dos melhores filmes do gênero – lembrando o já clássico Feitiço do tempo (1993), que é outra brincadeira séria sobre o tempo. E atenção para a seqüência em que Michael vê seu pai pela última vez. Acredite, Adam Sandler nos faz lembrar que tem talento (como em Embriagados de amor, 2002) e poderá tirar alguma lágrima de você.

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