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Festivais

51. Brasília (2018) – Abertura

O terceiro ano das novas robustez e vitalidade no Festival de Brasília

Por Luiz Joaquim | 14.09.2018 (sexta-feira)

É como uma ilha. Todo grande festival de cinema é uma ilha para quem dele participa intensamente. São ilhas, tais festivais, formadas por um punhado de projeções de sons e imagens em movimento, recheados de discursos político-artístico (alguns mais artísticos, outros mais políticos) acontecendo em salas de cinema habitadas por pessoas que por ali circulam, num específico raio geográfico. Circulam realizadores, críticos e o público ordinário, habitual, integrando-se (e também, por que não, “desintegrando-se”) entre eles. São atritos, positivos e negativos, cuja fricção deve(ria) alimentar o que há de melhor, em primeira instância, aquilo que forma o pensamento cinematográfico.

Hoje (14), tem início a 51º edição do mais tradicional e influente festival do País, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, onde a ilha se formará, mais uma vez, por dez dias.

Com mais de 140 obras brasileiras importantes na conta da programação deste ano – a projetar até o domingo 23/9 – o Festival de Brasília vem notavelmente ganhando mais robustez e vitalidade desde a edição de 2016, quando o curador Eduardo Valente foi convidado a assumir a direção artística do evento.

A robustez não se traduz apenas nos números de títulos e na criação de novas mostras paralelas, mas também pelo volume de debates e seminários ali oferecidos, assim como a criação de homenagens celebrativas que merecem atenção, sugerindo reflexões.

Ismail Xavier

Haverá neste 2018, por exemplo, a 3ª edição da entrega da Medalha Paulo Emílio Salles Gomes (mestre da crítica cinematográfica, e figura fundamental na criação deste Festival). Medalha que é dedicada a personagens indiscutivelmente importantes para a construção histórica do audiovisual brasileiro. A terceira edição do prêmio será entregue hoje na abertura – no Cine Brasília, às 19h – para o crítico e professor de cinema Ismail Xavier e ao arquivista Walter Mello. Os dois unem-se ao crítico Jean-Claude Bernardet e Nelson Pereira dos Santos, agraciados com a medalha em 2016 e 2017, respectivamente.

2018 vê nascer, também em Brasília, o Prêmio Leila Diniz a ser concedido a duas mulheres marcantes do nosso cinema: a atriz Íttala Nandi e a montadora Cristina Amaral. De novidade também há o Prêmio Zózimo Bulbul (nome do cineasta – 1937-2013 – que abriu uma frente fundamental para o cinema negro no Brasil). O prêmio deverá contemplar “o corpo negro na frente e atrás das câmeras; e a inovação estética e narrativa na abordagem das subjetividades negras”; com seu julgamento ao cargo da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e do Centro Afrocarioca de Cinema.

Prêmios como o “Zózimo Bulbul” só nascem no Festival de Brasília porque estão diretamente atrelados à vitalidade do evento, que é o segundo aspecto vinculado ao trabalho de seu diretor artístico. Ainda que essa vitalidade venha emergir apenas pelo movimento e questionamento levantados pelo seu público pós-sessão, o vínculo ao trabalho de Eduardo Valente existe na medida em que é ele quem decide os colegas que irão trabalhar, ao seu lado, na seleção dos filmes. E são estas obras escolhidas que irão (ou não) incendiar o debate artístico e social pela voz pública de seus espectadores.

O prêmio “Zózimo Bulbul”, por exemplo, surge no ano seguinte àquele em que Vazante, de Daniela Thomas, protagonizou o mais tenso e polêmico debate – a partir da representatividade do negro na tela – em anos na história recente do festival.

“Lance Maior”, de Sylvio Back, exibe na ‘Sessão Homenagem’

FILMES – Passando rapidamente pela programação do festival, hoje contam-se nada menos que 15 programas de filmes. Estão lá a Mostra territórios audiovisuais indígenas; o 4º Festival das escolas públicas de Brasília; o FestUni; a Sessão homenagem (exibindo Lance maior, 1968, de Sylvio Back); o Festivalzinho; as paralelas A arte da vida (com filmes desafiando fronteiras da criação audiovisual), Festival dos festivais (exibindo pela primeira vez no Distrito Federal títulos que foram recentemente premiados em outros festivais importantes), e Onde estamos e para onde vamos? (com filmes que espelham objetivamente o momento presente e apontam um futuro provável); as sessões especiais com a mostra Caleidoscópio (traduzida mais facilmente pelo que Jairo Ferreira chamou de “Cinema de Invenção”), e a Futuro Brasil (chamando a atenção para novos nomes); a mostra Brasília (formada por curtas-metragens e longas da região); a mostra competitiva oficial (12 curtas e nove longas); e, finalmente os títulos hors-concours, abrindo e encerrando o festival.

A propósito, quem abre a noite de hoje é Cristiano Burlan, com seu curta Imaginário – que, às vésperas de uma eleição, faz um apanhado de discursos marcantes sobre a vida política do País desde os anos 1940 –, e o longa Domingo (já exibido no Festival de Veneza), ficção de Clara Linhart e Fellipe Barbosa (de Casa Grande, 2015) – quando apresenta a vida de uma família no interior do Rio Grande do Sul no 1º de janeiro de 2003, dia de posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Isso significa que, mais uma vez, o fogo não queimará baixo no Festival de Brasília.

No meio dessa fogueira de robustez e vitalidade cinematográfica durante os próximos dez dias, não faltarão, é certo, tensões de toda ordem, numa pauta interminável de discussões aguerridas. Resta apenas conseguir que tanta energia não deixe de abarcar também o prumo de questões cinematográficas, de ordem artística e estética, durante as discussões. Elementos que são também caros ao nosso cinema em constante construção.

Confira a seleção competitiva do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro clicando aqui.

Confira o site do festival, com toda a programação, clicando aqui.

E acompanhe a cobertura jornalista do evento acessando diariamente o CinemaEscrito.

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