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Festivais

8. Panorama Suíço (2020) – Praça Needle Baby

Festival abre com filme forte, duro sobre a vida, mas pela perspectiva esperançosa de uma menina

Por Luiz Joaquim | 29.08.2020 (sábado)

Começou bem, na quinta-feira (27), a 8a edição do Panorama digital de cinema suíço. Disponível gratuitamente, online, em formato streaming pela primeira vez, o Panorama está com a programação da edição 2020 aberta na Internet, e segue assim até 6 de setembro pelo endereço do evento (clique aqui).  Ao todo, são 14 longas-metragens e dez curtas-metragens com obras de ficção e documentários. É uma excelente oportunidade de se atualizar com o bom recorte social do atual cinema feita na Suíça.

E Praça Needle Baby (Platzspitzbaby, Sui., 2020), segundo longa-metragem de ficção assinado por Pierre Monnard, é um material naturalmente rico, envolvente e comovente no sentido de destacar a imbricação de relações sociais à familiares (e vice-versa).

Estamos em 1995 e a perspectiva sobre aquele ano em Zurique, e em uma outra pequena cidade próxima àquela, é a da menina Mia (a maravilhosa Luna Mwezi), de 11 anos de idade. O ponto de partida é a praça que dá título ao filme – sendo ‘needle’, em inglês, a tradução para ‘agulha’, a qual, aqui remete ao consumo de drogas.

No caso, a praça foi fechada naquele ano pela prefeitura de Zurique, por ter se tornado um gigantesco ponto de consumo e tráfego de drogas. Uma frequentadora habitual ali é Sandrine (a igualmente excelente Sarah Spale), mãe de Mia, que a cria sozinha, separada do marido que não pôde ter a custódia da menina uma vez que, pela lei local, à época, ela ficaria com quem expressasse o desejo de ficar. E essa pessoa é a sua mãe, Sandrine.

Com a praça fechada. Sandrine e Mia vão morar em uma pequena cidade próxima, sendo ambas subsidiadas pelo poder público. Mas, para manter os benefícios, Sandrine precisa comprovar que está em processo de recuperação, coisa que, na realidade, vai num sentido inverso, com ela afundando cada vez mais na dependência química.

O foco, entretanto, é Mia. Vemos a tudo pelos olhos da menina. Nesse sentido, Praça needle…  demora um pouco até sedimentar todas as informações  do enredo (adaptado do romance campeão de vendas na suíça, escrito por Michelle Halbheer e Franziska K. Muelle) mas, uma vez estabelecido o contexto geral – ali pela metade do filme –, o que se tem é um retrato devastador de um criança que não apenas está abandonada, em sua própria casa e vida, pela mãe (que vive fora da realidade em função da dependência), mas de uma garota, essa mesma garota, Mia, que toma para si a responsabilidade de curar a mãe.

Em resumo, vemos a luta de uma menina de 11 anos, que incutiu para si a responsabilidade de salvar a vida de Sandrine. Uma dependente que escoa diariamente, mais e mais, sua vida para o esgoto, pelo abuso da cocaína e da heroína. É particularmente doloroso acompanhar o autoisolamento involuntário a que Mia se mete, a partir das mentiras que inventa para o pai e para a assistente social, tudo para, em sua visão, proteger a mãe.

A criança tem certeza que sem a sua presença na vida de Sandrine, a mãe sucumbiria definitivamente em pouco tempo. A variação do humor de Sandrine – amorosa quando perto de sóbria, violenta quando em abstinência -, só confunde a cabeça da menina que, numa determinação tocante, insiste e insiste em permanecer ao lado da mãe.

 

O diretor Pierre Monnard tem mão firme e dinâmica ao contar essa história, apresentando as percepções do mundo infantil de Mia, seja pelo seu amigo imaginário (que a certa altura ela terá de ‘matá-lo’ para continuar salvando a mãe), seja pela nova amiga no novo endereço, ou pelo primeiro namoradinho que conhece no bairro de sua nova cidade.

Mas o maior trunfo aqui é a pequena atriz Luna. Com seu rosto duro e ao mesmo tempo meigo, a pequena consegue estabelecer empatia imediata no espectador, com uma presença cênica forte, por meio de seu corpo frágil e desprotegido – mas ao mesmo tempo sempre altivo – em quadro.

Infelizmente, a disponibilidade de Praça needle baby ficou aberta apenas por 24h. No caso, esteve entre às 20h da quinta (27) até às 20h de ontem (28). Mas o espectador tem mais tempo para acompanhar os outros títulos. Reforçamos, a programação segue até 6 de setembro, conforme o quadro abaixo. Vale conferir.

 

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