
A Profecia (1976)
Um crítica escrita em 2024, como se fosse em 1977, para figurar em “O Agente Secreto”
Por Luiz Joaquim | 06.11.2025 (quinta-feira)
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, DOMINGO, FEVEREIRO 20, 1977
Carnaval do jeito que o diabo gosta
Luiz JOAQUIM
O reinado é do Momo, mas quem está mandando no São Luiz a partir desta segunda-feira de carnaval é o diabo, ou melhor, o filho dele. Já celebrado nos Estados Unidos como um sucesso, “A Profecia” (The Omen) inicia sua temporada amanhã nos cinemas das principais cidades brasileiras. No Recife, a produção de Hollywood estará assombrando os espectadores do espaço na rua da Aurora.
Estrelado por Gregory Peck, interpretando Robert Thorn, um embaixador norte-americano na Inglaterra, Lee Remick, como a sua esposa Katherine, e Harvey Stephens, como o menino Damien adotado pelo casal, “A Profecia” já arrecadou 50 milhões de dólares na América do Norte durante os seis primeiros meses desde a sua estreia por lá, em junho do ano passado.
Quem assumiu a direção deste campeão de bilheteria foi Richard Donner, conhecido apenas por produções de séries (como “Kojak”) e filmes especificamente realizados para a TV, dando grande felicidade, também, aos estúdios da Twenty-Century Fox, que carecia de um sucesso dessa dimensão há bastante tempo.
E com Gregory Peck também voltando aos holofotes com um reconhecimento que vinha lhe fazendo falta. Sem falar em Remick, atriz que estava em baixa e que agora poderá cobrar mais pelos próximos convites que receberá.
Conforme o anúncio feito há cerca de duas semanas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, a produção também estará concorrendo à estatueta dourada do Oscar no próximo 28 de março em duas categorias: a de melhor canção e melhor trilha-sonora, assinada por Jerry Goldsmith (lembrado também pelas inesquecíveis melodias em “O Planeta dos Macacos”,“Papillon” e “Chinatown”)
Ainda que “A Profecia” não receba nenhum prêmio, a crítica internacional já o vaticinou como uma obra que supera a seita assustadora de “O Bebê de Rosemary” e o fascínio tenebroso de “O Exorcista”. De fato, quem viu o filme de Roman Polanski irá encontrar pontos de conexão bastante curiosos.
A ESTÓRIA
A começar pelo enredo, extraído de um romance de David Seltzer, o assunto é a chegada do demônio à Terra, conforme diz uma profecia bíblica no Livro das Revelações do Antigo Testamento. Com a instalação do Armagedon, o filho do demônio estará entre nós, em forma humana. A estória na fita atualiza a previsão bíblica do final dos tempos associando o ressurgimento do Império Romano pelo crescente modelo do Mercado Comum Europeu, e com o fim dos tempos tendo início por meio da política profissional.

extraído de um romance de David Seltzer: A chegada do demônio à Terra
Tudo inicia em Roma, com o diplomata lamentando a informação de que o seu primeiro e único filho veio ao mundo natimorto. Abalado, recebe a sugestão do padre Spiletto de adotar o filho de uma mãe que faleceu ao dar à luz naquela mesma data: 6/6. Sem confiar a informação à esposa, o diplomata segue com a sugestão sem desconfiar que Damien é na verdade a encarnação do filho de Satã.
Pulamos cinco anos e vamos à Inglaterra, onde Thorn está assumindo o cargo de embaixador americano naquele País. É quando situações sobrenaturais começam a suceder sempre ligadas ao menino Damien, com seu olhar vazio.
O sobrenatural está desde a primeira babá do garoto, que tira a própria vida, e passa pela chegada da nova babá, enviada pelo demônio para proteger Damien contra qualquer ameaça, sem que Thorn tenha conhecimento exato da origem da moça. Há ainda o “acidente” que faz desaparecer o padre Brennan ao tentar alertar o diplomata do risco que corre a humanidade se Damien não for exterminado em solo sagrado.
Túmulos profanados, cães violentos, mortes previstas por meio de fotografias e até uma marca de nascença com os três números da besta (666) apontam a relação dos acontecimentos sobrenaturais vinculados à criança. Uma criança que poderia muito bem ser o filho da Rosemary do filme de Polanski.
A fita de Richard Donner procura ficar entre a proposição artística do diretor polonês e o espetáculo tenebroso dos efeitos em “O Exorcista” (e mesmo de “O Anti-Cristo”, espalhafatosa produção italiana de Alberto Martino).
Ainda que tenha ritmo dinâmico e estrutura dramática envolvente, “A Profecia” é claramente artificialista, e está longe de se tornar um fita memorável no campo do horror, mesmo sendo desde já um marco nas bilheterias. Seu custo de menos de 3 milhões de dólares já se pagou para além de todas as expectativas, e seus produtores já anunciaram que desejam alcançar a cifra total dos 100 milhões de dólares. Vamos ver até onde vai o poder de Damien.















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