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Críticas

Hana-Bi – Fogos de Artifício

Kitano educa o olhar

Por Luiz Joaquim | 18.06.1998 (quinta-feira)

Quando se fala em cinema japonês, Akira Kurosawa, seu ícone maior, é logo lembrado. Pois preparem-se, o japão já tem um novo mestre da sétima arte, e a partir de amanhã (19.jun) ele estará sendo apresentado aos recifenses via Cinema da Fundação Joaquim Nabuco. Hana-Bi – Fogos de Artifício (Hana-Bi, 1997), sétimo filme do diretor, produtor, roteirista e ator Takeshi Kitano, foi o primeiro longa-metragem nipônico a ganhar o Leão de Ouro em Veneza, 47 anos após Rashomon, de Kurosawa.

Hana-Bi em japonês é a combinação das palavras flore fogo, e talvez não exista melhor título para resumir a disparidade de elementos com a qual Kitano ilustra sua história. Aqui, o próprio Kitano interpreta o introspectivo policial Nishi, que se vê perseguido pela Yakusa, a máfia japonesa, por conta de uma dívida de dinheiro.
Além de acompanhar essa medonha relação entre polícia e bandido, somos apresentados a um outro lado do detetive Nishi.

Ao mesmo tempo em que toma conhecimento da doença terminal que sua esposa carrega, recebe a notícia de que seu melhor amigo, Horibe (Ren Osugi) foi baleado numa emboscada preparada pelos mafiosos. Começa, então, a poesia de contrapontos do diretor japonês. Esforçando-se para passar uma borracha no passado marcado por uma vida ultra-violenta, Nishi procura estar presente aos últimos dias de vida de sua mulher. Simultaneamente, seu amigo, Horibe, procura um sentido para sua existência através da arte e começa a criar quadros que curiosamente retratam o mesmo momento vivido por Nish e sua companheira.

ENXERGAR – Todo o filme é pontuado por uma estrutura fragmentada e uma narrativa obscura sob a ótica da indecifrável expressão de seu protagonista, o policial Nishi. O esqueleto preparado por Kitano para contar a viagem espiritual proporcionado por Hana-Bi, exige do espectador uma nova maneira de olhar. O filme reeduca esse olhar. Quando o lacônico Nish toma uma iniciativa para quitar sua dívida com a Yakusa, dar uma rumo à vida do seu amigo e amenizar a situação melancólica de sua esposa, o diretor Kitano dá uma aula de como contar uma boa história sem usar palavras.

Também é sem o uso das palavras como vemos a relação de Nishi e sua esposa. Mesmo com um rosto duro e impenetrável, Kitano consegue mostrar o lado terno e cômico do seu detetive, o que nos levar a refletir, embalados pela encantadora trilha de Joe Hisaishi. Essa capacidade de fazer rir, chorar e pensar num intervalo menor que duas horas não é tarefa facil.

Enquanto isso, o personagem de Horibe também nos convida à reflexão com seus quadros – intercalados durante todo o filme – contrastando e dando um ritmo peculiar ao impacto violento proporcionado pelo oficio do detetive Nish. Todas as pinturas dispostas no filme são de autoria do próprio Kitano, que já é considerado hoje pela crítica internacional como um artista renascentista.

Funcionando como a explosão de fogos de artifício, que corre no céu para todos os lados, Hana-bi atinge a todos seus espectadores indiscriminadamente. E da mesma forma que cada braço desse fogo espalhado pelo céu tem trajeto é cor diferentes, cada um que for ver Hana-Bi será atingido por uma poesia diferente, que melhor combine com sua subjetiva idiossincrasia. A sentença final é que ninguém sai ileso desse filme universal. Imperdível.

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