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Críticas

Meu Tio Matou um Cara

Paixão adolescente

Por Luiz Joaquim | 29.12.2004 (quarta-feira)

Nao há nenhuma novidade na temática que Jorge Furtado
leva às telas com “Meu Tio Matou um Cara” (2004), e
isso não é um problema. Pelo contrário. Com o novo
trabalho, Furtado aguçou seu talento em desenhar com
tintas fortes e convincentes anseios adolescentes.
Tudo o que circunda isso no filme são ornamentos.
Talvez mais que ornamentos. São sustentáculos de
dramaticidade para o menino Duca (Darlan Cunha, o
Laranjinha de “Cidade dos Homens”) conseguir o amor de
sua melhor amiga, a inatingível Isa (Sophia Reis,
filha de Nando Reis, em sua primeira experiência no
cinema). Esse sustentáculo é recheado com crime, com
malandros e, principalmente, com gente inocente. Mas
neste novo longa, o diretor gaúcho não passa tão perto
da precisão no roteiro que atingiu em “O Homem que
Copiava” (2003) e da leveza que alcançou em “Houve uma
Vez Dois Verôes” (2001).

Alguns dados sobre a produção de “Meu Tio…” podem
jogar luz sobre o perfil final que o filme adquiriu.
Baseado num conto homônimo escrito pelo próprio
cineasta, o filme sofreu adaptação a quatro mãos. O
par que trabalhou com Furtado foi Guel Arraes, que já
desenvolve trabalhos para TV com o diretor gaúcho há
15 anos. Daí a idenficação imediata de algumas
passagens burlescas e satíricas em alguns diálogos
relâmpagos, marca explícita (e talvez já cansada) da
escrita de Arraes. Outro dado: além da Casa de Cinema
de Porto Alegre, produtora de Furtado, “Meu Tio…”
teve co-produção da Natasha Filmes, de Paula Lavigne.

Essencialmente responsável pelo lançamento do filme, a
Natasha também influiu na participação de Caetano
Veloso (e esse infuiu na participação de André Moraes)
para formatar a trilha sonora do longa. É na voz de
Caetano (de quem mais?) que ouvimos a música de
trabalho: “Pra te lembrar”, sucesso antigo do também
gaucho Nei Lisboa. “Pra Te Lembrar”, nos próximos
meses, deve impregnar o Brasil (para o bem e para o
mal) assim como aconteceu com “Você Não Me Ensinou a
Te Esquecer”, sucesso antigo na voz de Fernando Mendes
que foi recauchutada por encomenda pelo mesmo Caetano
para “Lisbela e O Prisioneiro”, de Guel Arraes.

Com essas informações, pode-se discorrer sobre a
“autoria” (palavra que Furtado não gosta) de “Meu
Tio…”. Para o cineasta, o filme é da equipe, e não
dele. Por essa lógica, podemos identificar fácil que
seu terceiro longa tem muito de seus novos parceiros
disputando espaço com o que seria da Casa de Cinema.
Uma pena. De qualquer forma, a direção de “Meu Tio
Matou um Cara” tem a assinatura de Jorge Furtado, que,
mesmo que ele não queira, atesta, como um selo,
eloquência e fluidez narrativa como poucos filmes
brasileiro conseguem alcançar.

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