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Festivais

33° Festival de Gramado – 2

Gramado abre em com bons filmes

Por Luiz Joaquim | 16.08.2005 (terça-feira)

Gramado (RS) – Com suas ruas decoradas por esculturas
temporárias fazendo menção a personalidades do cinema
nacional, a bela cidade serrana deu início, na noite
de anteontem, ao 33° Festival de Gramado Cinema
Brasileiro e Latino. Sob uma temperatura de 14 graus
centígrados (índice alto para a região e decepcionante
para os turistas que lotam a cidade durante o evento),
um amontoado de fãs se apertavam por trás das grades
na frente do tradicional Palácio dos Festivais
enquanto tentavam capturar alguma imagem de sua
celebridade preferida.

Ladeado por duas esculturas gigantes do Kikito (trófeu
do festival), Tarcísio Meira e Glória Menezes (que
receberam ontem o Troféu Oscarito como homenagem)
desfilaram pelo tapete vermelho, sendo as figuras mais
concorridas pelos fãs. Na platéia, ou melhor, no
palco, antes da execução de trilhas sonoras pela
Orquestra do Conservatório Pablo Komlós, Vicente
Ferraz, diretor do documentário “Soy Cuba: O Mamute
Siberiano” (foto) comentou que a idéia de fazer um registro
sobre a espetacular obra cubano-soviética “Soy Cuba”,
de Mikhail Kalatozov, nasceu ainda quando estudava
cinema em Cuba.

Recebido com reverência pelo público gaúcho (assim
como o recifense no último Cine-PE), o documentário de
Ferraz tem como concorrentes “Do Luto a Luta”, de
Evaldo Morcazel (hoje), “Doutores da Alegria”, de Mara
Mourão (amanhã), e “Em Trânsito”, de Henri Arraes
Gervaiseau (sexta-feira).

Já a ficção “Carreiras”, de Domingos Oliveira, foi
precedida por uma vinheta-manifesto enaltecendo o que
chama de Cinema BOAA (de Baixo Orçamento e Alto
Astral). Captado e projetado em digital (assim como
seu anterior “Feminices”, 2004), “Carreiras” abre com
Oliveira e uma turma, de madrugada numa mesa de bar no
Baixo Leblon, discutindo quem tem mais força: o cinema
ou o teatro. Claro que ninguém vence nessa discussão,
mas o prólogo serve para o cineasta brilhantemente
extrair qualquer intenção da crítica em comentar a
teatralidade na mise-en-scene de seu “Carreiras”.

Nos 72 minutos, Priscilla Rozenbaum (companheiro do
diretor) é Ana Laura, âncora de uma TV cujo único
interesse e neurose na vida concentra-se em duas
carreiras: a profissional (em decadência), e a que
suga pela narina desenfreadamente para delirar em sua
“longa noite de loucuras”. Nessa noite, Priscilla
expurga seus demônios – “é o aniversário dele” – diz
ela, contra o sistema que a cerca. Envolta numa
solidão profunda, a atriz demonstra sua versatilidade
numa espécie de monólogo, contracenando quase que o
filme inteiro com um telefone. Rodado em apenas oito
noites, “Carreiras”, no discurso de Oliveira antes da
projeção, é a maneira de se fazer filmes mais radicais
contra o sistema sem a dependência do incentivo
fiscal.

Ontem à noite, a expectativa girava em torno do
primeiro longa-metragem de Paulo Betti como diretor.
“Cafundó” (co-dirigido com Clóvis Bueno), em
interessante reconstituição de época, mostra os
acertos e desacertos de uma ex-escravo no final do
século 19 tentando encontrar seu rumo até acabar se
transformando numa referência do sincretismo religioso
dos anos 1940 e ficar conhecido como o “Petro Velho
João de Camargo”. Ainda ontem, o festival gaúcho viu
com boa acolhida “O Cerro do Jarau”, longa dirigido
por Beto Souza no Rio Grande do Sul. A noite encerrou
com uma sessão promocional de “2 Filhos de Francisco”,
de Breno Silveira, com muito alvoroço pela presença da
dupla sertaneja aqui cinebiografada.

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