O Cine Rosa e Silva finalmente põe em cartaz aquele comentando filme argentino que tirou das mãos de Michael Haneke a estatueta do Oscar de filme estrangeiro 2010 pela obra-prima “A Fita Branca”. O filme é “O Segredo dos Seus Olhos” (El Secreto de Sus Ojos, Arg., 2009), de Juan José Campanella, que ficou conhecido mundialmente por “O Filho da Noiva” (2001), tendo depois partido para os EUA onde dirigiu episódios para algumas series de TV como, por exemplo, “Law & Order” e “House”.

A experiência que adquiriu, principalmente no assunto ‘investigação policial’, dá a esse seu novo filme um tom bem mais sofisticado do ponto de vista narrativo e temático, diferente do que foi a (boa) crônica da classe-média argentina em crise chamada “O Filho da Noiva”.

Na nova trama, o foco fica em Espósito (a maior estrela do atual cinema argentino, Ricardo Darin). Ele é um recém-aposentado funcionário público judicial que decide expulgar as dores do caso mais marcante de sua carreira, que investigou em 1974, através de um livro que tenta escrever.

Trata-se do assassinato brutal de uma jovem recém-casada, cujo sofrimento do viúvo deixa Espósito ávido pela captura dos responsáveis. A investigação corre pararelo a chegada da nova superior de Espósito, Irene (Soledad Villamil, ótima), pela qual ele guarda um amor velado (que todos sabem), acompanhando o casal até a velhice. Outra figura essencial e doce, como o contemporâneo cinema argentino sabe fazer bem, é seu colega de trabalho de Sandoval (Guillermo Francella), como o bêbado divertido mas infeliz.

Numa alternância de situações entre presente e passado, Campanella vai amarrando situações de hoje e ontem em tensão fluída que só faz crescer a atenção e o interesse do espectador pela trama e pelos seus personagens.

Agregue-se a isso diálogos afiados – “Como está, Espósito?”, perguntam. “Cansado de tanta felicidade”, responde -, mais virtuosismo narrativo e cinematografia elegante. À propósito, impossível deixar de falar da incrível sequência no estádio de futebol, com a imagem que vem do céu e penetra entre os torcedores até chegar no interior do estádio. O melhor de tudo é que a sequência tem sentido narrativo e não é apenas um capricho de vaidade.