
As Praias de Agnès
A originalidade de Agnès
Por Luiz Joaquim | 13.04.2012 (sexta-feira)

É revigorante assistir “As Praias de Agnès” (Les plages d’Agnès , Fra.,2008), seja pelo ponto de vista cinematográfico, artístico, humano, enfim. O filme, em cartaz a partir de hoje no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Recife), é uma revisão humorada da diretora Agnès Varda, à época das filmagens com 80 anos, sobre sua própria vida.
Pouco conhecida no Brasil, Varda era uma figura bastante presente, mas discreta, no efervescente cinema francês dos anos 1950. Foi uma das poucas mulheres que tiveram voz no masculino universo da Nouvelle Vague. Casou-se, inclusive, com Jacques Démy (1931-1990) um dos filhos daquela Nova Onda francesa.
Mas por que ‘praias’? Agnès abre seu filme com uma intervenção repleta de espelhos numa praia, pelos quais os diversos reflexos apontam para o infinito horizonte ao qual foi levada sua vida de artista sempre pronta a experimentar.
De maneira muito livre, ela refaz o trajeto cronológico de sua vida. Revisita a casa onde passou a infância em Bruxelas, rememora os hábitos da família de origem grega, além dos tempos de escola; relembra as inquietações e descobertas com a fotografia, até chegar ao envolvimento com o cinema, que gerou seu primeiro longa-metragem “La Pointe Courte” (1954). Obra que se passa numa praia e é o debut no cinema do ator Philippe Noiret.
Com sua liberdade de captar imagens e mostrar os hábitos na praia de “La Pointe Courte”, Agnès fazia a Nouvelle Vague subir mais um degrau na escada que queria conceituar um cinema mais autoral.
A mesma liberdade a fez criar um de seus filmes mais reconhecidos, “Cléo das 5 às 7” (1961) pelo qual acompanhamos, forjando um trajeto em tempo real, a protagonista que espera o resultado de um exame medico.
Suas passagens pela China e Estados Unidos informam um pouco mais sobre seu envolvimento com a contracultura e seu discurso politico-artístico, que a fez gerar o virulente “Os Renegados” (vencendor em Veneza, 1985), com Sandrine Bonaire estreando no cinema como uma viajante sem rumo que foi assassinada.
Mas, emociona na verdade, a maneira como Varda apresenta aquela que foi a figura mais importante em sua vida, o marido Démy. É relembrando das filmagens de “Jacquot de Nantes” (1990), filme memorialista do marido que ela dirigiu enquanto Dèmy estava em estado terminal, que Agnés revela um pouco mais o que está no íntimo de sua alma.
O melhor entretanto em “As Praias de Agnès” é a liberdade narrativa que a jovem senhora impõe ao seu roteiro. Ela não se importa em abrir um parenteses em meio ao seu retorno nos dias de hoje aos EUA, para falar de quando esteve com Jim Morrinson em Paris no passado, ou sobre o que almoça atualmente nas terra do Tio Sam.
Seus artifícios dão alegria a história que quer contar e fazem de “As Praias de Agnès” algo realmente livre, como toda arte deveria nascer e crescer.
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