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Críticas

Em Nome da Lei

Tele-thriller com ambição cinematográfica

Por Luiz Joaquim | 22.04.2016 (sexta-feira)

30 anos separam o primeiro grande sucesso – O homem da capa preta(1986) –, do diretor Sérgio Rezende para este seu mais recente trabalho:Em nome da lei (Bra., 2016), com Mateus Solano, Paolla Oliveira, Chico Diaz, Eduardo Galvão, Silvio Guindane e Emílio Dantas, desde ontem (21) em cartaz nos cinema do País.

Em comum entre eles, a política nacional caminhando de braços dados com a violência. Na verdade, um tema que costuma pautar a já vasta (e irregular) filmografia de Rezende ao longo destas três décadas, principalmente no árido final dos 1980 e início dos 1990, quando emplacou sucessos interessantes como Doida demais (1989) e Lamarca (1994).

Para o regular Em nome da lei, Rezende ainda conta com um outro atrativo além de sua grande marca cinematográfica – que é a tentativa de uma construção realista do universo marginal, mas em ritmo de thriller. Seria algo próximo (mas hoje, como Rezende constrói, anacrônico) ao legado que o cinema brasileiro realizou muito bem nos anos 1970.

Esse outro atrativo que mencionamos no Em nome da lei é o triste momento político que vivenciamos recentemente, tendo o juiz federal Sérgio Moro, no Paraná, como protagonista dos encaminhamentos pelaOperação lava-jato, cumprida pela Polícia Federal.

No filme temos o juiz federal Vitor (Mateus Solano, cumprindo bem o que lhe pedem para a papel) como protagonista de uma história inspirada num fato vivido pelo real juiz Odilon Oliveira, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai.

O jovem e inexperiente Vitor chega de São Paulo para assumir o tribunal da fictícia cidade chamada Fronteira. Assim com Odilon, Vitor está decidido a por fim a uma viciada e milionária prática de tráfico de drogas entre as fronteiras dos dois países, na qual há um intocável chefão, El Hombre (Diaz, sempre ótimo), que é praticamente o dono da cidade.

Lembrando a estrutura da série Narcos, da Netflix, temos em El Hombre o equivalente a um Pablo Escobar, enquanto Vitor acompanhado pela promotora Alice (Oliveira, esforçando-se) e o policial federal (Galvão) equivalem-se a equipe norte-americana que investiga o colombiano da série.

No filme, o trio da lei esforça-se para fazê-la ser cumprida por meio de uma investigação que habitualmente é prejudicada pelas ações vaidosas e equivocadas do juiz Vitor (na ficção, causada pela sua inexperiência).

A favor de Em nome da lei, credite-se um roteiro cuidadoso – também de autoria de Rezende -, no qual cabe espaço para um romance entre Vitor e Alice (atrai espectadoras, diz a cartilha da indústria) e no qual também encontramos dramas paralelos vividos pelo capanga preferido de El Hombre, Hermano (Dantas) – na verdade um filho bastardo de El Hombre -, além de seu piloto de confiança, Cebola (Guindane).

Apesar do esmero para que tudo se encaixe harmonicamente neste enredo com ritmo bem conduzido, Em nome da lei traz muito pouco traço cinematográfica. Se vendido como um telefilme que foi parar na tela grande, seria mais compreensível em suas ambições.

Rezende merece mérito por ter criado uma gama de personagens satélites interessantes e com histórias próprias dentro da trama maior. E ainda por não deixar arestas soltas sobre eles no enredo. Tal resultado faz pensar que a produção poderia ter fôlego para virar uma telessérie no estilo, por que não, de Narcos, só que com sotaque brasileiro.

Não nos espantemos se inclusive, qualquer dia desses, a tevê Globo anunciar a exibição de Em nome da lei dividido em quatro capítulos.

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