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Festivais

50. Brasília (2017) – noite 8

Adirley Queirós relativiza a ficção científica pop para falar da realidade política nacional.

Por Julio Cavani | 24.09.2017 (domingo)

*em foto de Júnior Aragão, equipes de Era uma vez Brasília; Chico;  Cordeiro de Ouro.

BRASILIA – Adirley Queirós reafirma que é um cineasta rebelde com Era uma Vez Brasília, exibido no Brasil pela primeira vez em sessão lotada um mês depois de ter sido premiado com uma menção especial no Festival de Locarno. A rebeldia do filme não está apenas na abordagem sobre a política nacional, mas também na forma, já que o diretor recusa-se a seguir os mecanismos do entretenimento pop ao fazer a plateia encarar longos planos estáticos onde muitas vezes parece não acontecer nada.

Assim como em Branco sai preto fica, filme anterior de Adirley, Era uma Vez Brasília tinha tudo para ser uma ficção científica pós-apocalíptica vibrante com ritmo de videoclipe. A vibração do hip hop, no entanto, está apenas nos personagens, já que o longa-metragem segue um caminho lento que o deixa impregnado de seriedade e de um incômodo marasmo. É uma opção que gera mais desconforto do que prazer e talvez seja essa mesmo a intenção, diante da desanimadora situação política de um país em crise de representação parlamentar e presidencial.

Com um original estilo visual de ferro-velho tecnológico, a ficção científica funciona como alerta sobre até que ponto o estado das coisas pode piorar. Os elementos de cinema fantástico, afinal, não estão ali para animar. A montagem desafiadora lembra que aquilo tudo não é brincadeira. Ao som de discursos de Temer e Dilma veiculados por rádio, o filme mostra uma Brasília sombria em clima de guerra, onde chega um alienígena para descobrir o drama vivido principalmente pela população negra. O recurso da viagem no tempo proporciona um distanciamento sobre o momento atual do Brasil que converte-se em uma alegoria das perspectivas e pontos de vista elaborados pela periferia, já que os heróis revolucionários da trama são da cidade satélite Ceilândia e não da capital federal.

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