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Críticas

O Amigo Oculto

Filme tem gosto de um coquetel insosso, misturando ‘sobrenatural’ e ‘psicanálise’

Por Luiz Joaquim | 12.07.2018 (quinta-feira)

publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco em 25 de fevereiro de 2005.

Antes de ontem Dakota Fanning completou 11 anos. E, mesmo antes de entrar na adolescência, a atriz mirim já contracenou com Sean Penn, em Uma lição de amor, com Denzel Washington em Chamas da vingança, e agora está ao lado de Robert DeNiro em O amigo oculto (Seek and Hide, EUA, 2005), estreando hoje. Fanning é esforçada e talentosa, e é uma pena ver que seu trabalho venha sendo obscurecido nestes filmes por conta de roteiros mediocremente chorosos, policialescos ou assustadores.

Quem sabe não possamos ver a garota em todo seu potencial ao lado de Tom Cruise, sob a batuta de Steven Spielberg, quando estrear Guerra do mundos em 29 de junho. Enquanto a data não chega, Fanning pode ser vista em O amigo oculto como uma criança com a aparência de uma depressiva mulher de meia-idade. Sua personalidade envelheceu rápido assim depois que testemunhou seu pai, o psicólogo David (DeNiro), tentando evitar, sem sucesso, uma tragédia.

Tentando recuperar do trauma, ambos vão morar numa pequena cidade onde a garota, para a preocupação do pai, cria um amigo aparentemente imaginário. Até aí tudo bem, pois o pai-psicólogo acha que pode consertar a cabeça da filha. O problema é que situações estranhas começam a acontecer na casa. O que leva o pai, e o público, a acreditar que a menininha realmente tem uma conexão com o sinistro, com forças misteriosas ou até mesmo com algum pedófilo.

Levando e trazendo o público para onde bem quer, o roteiro de Ari Schlossberg parece não querer nada mais além do que isso. Assim sendo, O amigo oculto parece menos com um filme e mais com um jogo pobre de adivinhação no qual o espectador precisa pegar as migalhas de informações soltas pelo seu decorrer para poder decifrar o mistério no final.

Nenhum problema nessa fórmula se toda a estrutura do roteiro não fosse tão primária, tentando sugerir ao espectador que a explicação de tudo está no sobrenatural. Sobrenatural que o diretor John Polson insiste em representar através da iconografia clássica do susto, ou seja, com portas entreabertas e/ou rangendo, o olhar de peixe-morto de Fanning, a musica subindo enquanto uma mão se aproxima de uma maçaneta, e tantos outros clichês já vistos em centenas de filmes assim.

A desinteressante narrativa extra-lenta de O amigo oculto também pode deixar alguém cansado antes que chegue o fim do filme. Para passar o tempo, talvez seja interessante contar quantas vezes o nome Emily é pronunciado até o acender das luzes. Pode ser divertido.

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