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Críticas

Balzac e a Costureirinha Chinesa

Uma adaptação literária romântica que encanta

Por Luiz Joaquim | 10.09.2018 (segunda-feira)

– publicado originalmente em 19 de Julho de 2004 no jornal Folha de Pernambuco

A Sessão de Arte do Grupo Severiano Ribeiro exibiu Balzac e a costureirinha chinesa (Balzac et la petite tailleuse chinoise, França/China, 2002). O filme foi adaptado para o cinema por Daí Sijie, autor do romance homônimo. A obra virou um fenômeno na França, tendo vendido 250 mil exemplares. Já a versão cinematográfica abriu a mostra “Um Certo Olhar” em Cannes 2002 e concorreu ao Globo de Ouro na categoria “estrangeira”. O enredo tem uma pitada de autobiografia quando fala de uma Revolução Cultural liderada pela mulher de Mao Tsetung, na China; Época em que indivíduos eram enviados a campos para terem a perspectiva sobre o mundo reeducada.

Por essa enredo Balzac… apresenta-se como uma espécie de “conto de uma nova era chinesa” condimentada por um leve romance bem-humorado. Essa combinação, emoldurada por cenários paradisíacos, conquistou e encantou boa parte da crítica mundial. O filme leva aos anos 1970, quando a maioria dos ocidentais está usufruindo os frutos da liberdade cultural, e dois jovens chineses, filhos de “intelectuais da  burguesia reacionária”
encontram-se relembrando a época em que viveram numa comunidade montanhesa para sofrer um realimento ideológico.

O tratamento incluía trabalho árduo regado a educação política para limpar a alma dos desgarrados. Mesmo perturbados com o choque imposto pela nova vida, Luo (Kun Chen) e Ma (Ye Liu) são espertos o suficiente para conseguir autorização do chefe da comunidade onde vivem para serem os representantes oficiais da vila nos acontecimentos promovidos pela cidade principal. A situação gera uma das belas sequências do filme, na qual, por exemplos, os garotos reproduzem a história que viram no cinema para os camponeses embevecidos com a narrativa das história mirabolantes.

Em meio a essa movimentação, aparece na vila a tal da costureirinha (Zhou Xun), com toda sua vivacidade, e imediatamente encanta os dois jovens presos políticos. Armados de seus secretos e ilegais romances estrangeiros (entre eles, de Honorè de Balzac), Luo e Ma elegem a iletrada costureirinha como seu objeto de afeição e começam a conquistá-la pelo poder do escapismo da literatura. E tudo começa a correr mais suave na vida dos três.

Numa bela sintonia entre roteiro, atores e cenários Balzac e a costureirinha chinesa ganham respeito no trio protagonista com destaque para Zhou que sustenta a atmosfera agridoce na relação do triangulo de amigos. É sua personagem que, num futuro, desperta nos rapazes o estímulo para uma autodescoberta. Mas é no talento do diretor Dai Sijie que parece residir todo o triunfo do filme.

Ao converter seu romance em filme, Sijie dá mais uma prova que filmes adaptados podem transcender a cansada idéia de “transformação de palavras num livro em imagens em movimento”. Ao final da sessão é possível que alguém saia correndo para comprar alguma obra de Balzac, ou qualquer outra boa literatura. O encanto no filme de Sijie é para qualquer um que já esteve apaixonado ou simplesmente já passou pela experiência de ler um bom romance.

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