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Festivais

22a Tiradentes (2019) – “Tempestade” + “Nzinga”

Fellipe Fernandes constrói um retrato de angústias dos dias de hoje em seu “Tempestade”.

Por Luiz Joaquim | 24.01.2019 (quinta-feira)

acima, Kildery em cena de Tempestade.

TIRADENTES (MG) – Nasceu ontem (23) para o mundo, aqui na 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, um curta-metragem pernambucano. Falamos de Tempestade, de Fellipe Fernandes, projetado no terceiro e último bloco do programa competitivo oficial “Foco”.

Fellipe está de volta à Mostra mineira dois anos após o seu belo O delírio é a redenção dos aflitos – exibido aqui no programa “Panorama”. O tom dramático deste filme mostrado em 2017 era bastante personificado na protagonista vivida por Nash Laila, construído a partir de um conflito em sua vida pessoal.

Era “personificado” mas, ao mesmo tempo, facilmente identificável por qualquer espectadora que, sozinha, precisasse correr atrás de soluções imediatas contra urgências para preservar primeiro, sua filha(o), e, segundo, sua sanidade.

 

Em Tempestade temos também outro protagonista mergulhando numa situação limítrofe (aqui vivido por Jorge Kildery) e, assim como em O delírio…, acompanhamos a construção deste personagem a partir de dois ambientes (o profissional e o pessoal), sendo aqui o profissional aquele que o oprime.

Interessante como as dinâmicas do ambiente profissional é parte definidora nas obras de Fellipe, ganhando em Tempestade uma outra matiz diferente da vista em O delírio…

A obra anterior dá o trabalho da protagonista como algo resolvido para a mesma. Já na obra atual aquilo a ser “consertado” vem das condições de trabalhos no emprego do protagonista, no caso, como um operário de um mercado chamado “Quitandinha”.

Não há duvida que Tempestade reflete muito o seu tempo, em que a urgência do brasileiro em 2018/2019 está no campo do trabalho. “São 13 milhões de desempregados!”, alerta, a certa altura, o personagem do ator Fábio Leal (que hoje, 24, exibe aqui o seu Reforma).

No programa “Foco” de ontem (23), Tempestade foi acompanhado pelo curta paulista Negrum3, de Diego Paulino. A obra conta com a montagem da pernambucana Amanda Beça.

O filme encerrou o programa, excitando a pateia com uma narrativa dividida em três partes – sendo todas multicoloridas e de um dinamismo sedutor, principalmente pela montagem, pelo figurino de Igor Bibiano e pela direção de arte de Maiara Del Pino.

Conduzido pela presença marcante de Eric Oliveira, Félix Pimenta (com o rosto provocadoramente pintado de preto) e Euvira Aretha Sadick, todos estão aqui colocando seu corpo em função de uma emancipação ou exigência por respeito, contra o racismo e a transfobia. O terceiro e final momento de Negrum3, em ritmo videoclipitco, hipnotizou a todos por aqui.

No mesmo programa, projetou-se ainda o paraibano A ética das hienas, dirigido e (muito bem) roteirizado por Rodolpho de Barros; e o fotofilme paulista Antes de ontem, de Caio Franco.

AURORA – O terceiro longa-metragem pelo programa “Aurora” – mostrado ontem (23) – foi o documentário A rainha Nzinga chegou, de Junia Torres e Isabel Casimira Gasparino.

Still de “A Rainha Nzinga Chegou”

A obra nos trás o contexto de uma entidade africana – a Rainha Nzinga – a partir da apresentação de três gerações de rainhas ativas na tradição cultural-religiosa do Congado no Brasil.

Numa segunda parte do filme, há a visita ao Congo feita pelos descendentes da rainha da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário (em Minas Gerais) que lá no outro continente apura as semelhanças e diferenças entre as duas culturas (africana e brasileira), incluindo também uma busca por outras referências históricas da mítica rainha.

Mesclado com algumas imagens de arquivos da própria Guarda, A rainha Nzinga chegou revela-se um documentário de pouca ousadia e certo tradicionalismo em sua forma. Entretanto, ele atrai a partir da exposição de um universo carinhoso entremeado pela crença de uma matriz religiosa africana. Algo tão pouco representado pelo nosso cinema.

*Viagem a convite da Mostra.

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