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Festivais

1º FestCine (1999) – Ary Severo e Firmo Neto

Hilton Lacerda e Marcos Enrique Lopes recebem, cada, R$ 60 mil para iniciar carreira solo no cinema

Por Luiz Joaquim | 21.09.2019 (sábado)

–  publicado no Jornal do Commercio (Recife). Caderno C, 12 de novembro de 1999 – sexta-feira. Na foto, Clara Angélica e Hilton Lacerda, iniciando carreira solo.

Na noite da última quarta-feira, durante o encerramento do I Festival de Vídeo de Pernambuco, foram anunciados os vencedores do concurso de roteiros Ary Severo e Firmo Neto. Hilton Lacerda, pela ficção O visitante, e Marcos Enrique Lopes, pelo documentário A composição do vazio, foram os premiados e vão receber, cada um, R$ 60 mil do Governo do Estado e da Prefeitura do Recife (respectivamente). Também receberam título de menção honrosa os projetos Eletrodomésticas, de Maria Lacerda Gonçalves,  Os seios de minha mãe, de Valdir Oliveira e O mensageiro, de Osman Godoy.

Em A visita, Hilton Lacerda traz para o cotidiano de uma dona de casa o enredo de Fausto, de Goethe. “O filme vai mostrar em um único diálogo, do começo ao fim, uma mulher sendo cortejada pelo seu visitante, o diabo em pessoa”, adianta o co-diretor de Simião Martiniano: O camelô do cinema. Segundo o cineasta, o concurso exige que o curta esteja pronto até seis meses após a celebração do contrato, que deve acontecer em dezembro. “Pretendo começar a rodar logo, aí no Recife, e lançar o filme até agosto do próximo ano”, diz Hilton, pelo telefone, de São Paulo.

Apesar do rolo de fita de 35mm durar apenas 4 minutos e, consequentemente, ser mais dispendioso que o de 16 mm, o roteirista contemplado diz que vai optar pela primeira alternativa. Para aproveitar ao máximo o valor do prêmio ele explica que vai trabalhar com uma equipe enxuta e tentar arregimentar gente como Mônica Lapa, para a produção, com quem fez Simião (ao custo de 75 mil).

DOCUMENTÁRIO – Já Marcos Lopes arriscou sua participação no concurso extrapolando o limite de dinheiro financiado pelo prêmio. “Calculei um orçamento de R$70 mil para realizar A composição do vazio. O documentário versa sobre a obra e a ideologia de Evaldo Coutinho – um pernambucano de 88 anos, autor de 9 livros sobre a estética da arte, publicados pela editora Perspectiva, da Universidade de São Paulo. 

Entre os títulos desse senhor, que escrevia críticas sobre cinema para o Jornal do Commercio [Recife] na década de 1920, está A imagem autônoma. No livro, Coutinho busca referência no cinema mudo para defender uma tese a respeito da independência comunicativa contida na imagem. “Quando encontrei Walter Salles Jr, perguntei se já tinha ouvido falar do livro e ele me respondeu que não só já tinha ouvido falar como o procurava há bastante tempo”, lembra. Outra obra de Coutinho mencionada pelo vencedor do concurso fala sobre arquitetura e, segundo Marcos, é colocado por Oscar Niemeyer entre os dez melhores livros do mundo que versa sobre o assunto.

Para chegar ao formato final do roteiro que ganhou o Firmo Neto, seu autor diz que foram gastos três anos depurando-o. “Já havia inscrito o projeto em concurso do Ministério da Cultura, Itaú, mas foi até melhor ser contemplado agora, pois tenho pronto exatamente a ideia que planejei para o documentário”, revela.

O desejo de realizar um documento sobre a obra de Evaldo Coutinho surgiu quando, em 1996, Marcos soube que seu personagem ainda morava no Recife. “Saber que ele é pernambucano e reside aqui me estimulou ainda mais”, concluiu.

Novos e notórios talentos – Após uma maratona de três dias, na qual foram apresentados 31 vídeos produzidos no Estado, dentre documentários, ficções, experimentais e institucionais, foram anunciados os 11 vencedores do 1º Festival de Vídeo de Pernambuco. O resultado foi divulgado na noite de quarta-feira, no Teatro do Parque. No geral, viu-se confirmado o trabalho de conhecidos realizadores locais, além de uma boa revelação.

A categoria que pareceu mais unânime, avaliada pela reação do público presente, foi a de Ficção. O primeiro lugar ficou com Matarás, de Camilo Cavalcante, que ainda arrematou o terceiro lugar com o já premiado Leviatã. O segundo lugar ficou com Indigestão, comédia de gosto duvidoso – mas bem recebida pela platéia –, do estreante Pedro Severien Loureiro.

Lírio faturou 2º lugar com o clipe “Bob”

 Entre os documentários, sobressaíram-se duas produções de núcleos independentes, mas bastante profissionais, do Estado. Em primeiro, Luiz Gonzaga: A luz dos Sertões, de Rose Maria e Anselmo Alves, produção viabilizada em parceria com a TV Jornal e  que rendeu um SBT Repórter, transmitido para todo o Brasil. O sofisticado O ciclo do caranguejo, rodado em película, ganhou o segundo prêmio. Produzido pela Luni, conta com narração de Lenine e direção de Adolfo Lachtermacher. Mas a surpresa ficou por conta de Delírios de camorion carmin, trabalho interessante (e experimental) sobre a loucura, da jornalista Alessandra Barbosa, que ficou em terceiro.

Mas Alessandra não surpreendeu apenas na categoria Documentário. Entre os experimentais, ela se sagrou em primeiro lugar, com Se parede tem ouvidos, por que rua não tem boca?. Único trabalho realmente experimental, foi seguido dos videoclipes de Lírio Ferreira (Bob, com o músico Otto), e de Mário Rios (Festa brasileira, com Alcimar Monteiro).

Somente a categoria Institucional – que contava com três concorrentes – ficou apenas com dois premiados: Gerência costeira, de Raquel Barreto, e Noronha: A força da vida, de Germano Coelho Filho. Para um festival que se pretende uma forma de incentivo à produção local, incluir uma categoria como a de institucionais – vídeos já pagos para celebrar a imagem de uma empresa ou instituição – vai totalmente contra a proposta cultural. Algo para ser repensado, tendo em vista a segunda edição.

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