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Críticas

Que Viva Eisenstein! 10 Dias que Abalaram o México

Você nunca verá Eisenstein na posição que Greenaway o colocou

Por Luiz Joaquim | 07.01.2016 (quinta-feira)

Em 2007 o diretor britânico Peter Greenaway veio a São Paulo participar da 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica Sesc Videobrasil e em uma entrevista polêmica disparou: “O cinema está morto”. Bobo é aquele que lê uma assertiva assim de modo literal. Até porque “cinema”, essa coisa cada vez mais difusa, está além da capacidade de sintetizar que qualquer crítico, pesquisador ou cinéfilo possa oferecer.

O fato é que o Cinema do Museu do Homem do Nordeste inicia seu 2016 estreando “Que Viva Eisenstein! – Dez Dias que Abalaram o México” (Eisenstein in Guanajuato) o mais novo trabalho cinematográfico deste homem, Greenaway, que já nos encantou com obras como “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante” (1989) e “O Livro de Cabeceira” (1996).

Com forte apelo para a força da plástica que cada imagem pode oferecer, o cinema de Greenaway sempre apropriou-se dela para reforçar sua dramaticidade. Mas, no novo filme, o cineasta não apenas permanece em seu rigor imagético como também agrega a ele um texto refinadíssimo e lancinante para nos contar – em ritmo divertido – um momento pouco discutido na biografia do diretor russo Sergei Eisenstein (1898-1941), responsável pelo clássico absoluto “Encouraçado Potemkin” (1925), entre outros.

O enredo concentra-se inteiramente na passagem Eisenstein (o finlandês Elmer Bäck, ótimo) pelo México, nos anos 1930, quando lá chega para rodar um projeto inacabado- “Que Via México!”. Originalmente iria para os EUA a convite da Metro-Goldwyn-Meyer (MGM), mas ele mesmo decide não associar-se a Hollywood e daí parte para o México.

Aos 33 anos, já mundialmente aclamado pelos títulos revolucionários, o diretor é apresentado aqui como um jovem excêntrico e ao mesmo tempo ingênuo em seu puro e único terno branco, em sua primeira viagem fora da União Soviética. No México, um virgem Eisenstein vive um deslumbre de excessos gastronômicos e a descoberta sexual. Homossexual, para ser mais exato.

Para estabelecer o impacto tanto para a vida do cineasta quanto para a pequena cidade de Guanajuato, no México, Greenaway não poupou seu talento e, alicerçado pela fotografia de Reinier van Brummelen (parceiro de Greenaway desde “8 1/2 mulheres”, 1999), abusa, num bom sentido, com travellings de cair o queixo, com a divisão da imagem na tela em quatro, três ou dois quadros com ações simultâneas, e ainda com o movimento do próprio cenário num balé com a câmera.

É o caso da forte sequência em que Eisenstein perde a virgindade, numa cama giratória, sendo currado enquanto lhe é sussurrado no ouvido a potência do México para o mundo . Tudo acontece com o casado Palomino Cañedo (Luis Alberti) dominando a situação. Ele é seu guia e homem que passa a amar naquele país quente.

O que teria sido, na história real, uma troca de cartas por um inebriado cineasta pelos sabores latinos e em êxtase pelas descobertas sexuais no México, transforma-se no filme em confissões por telefonemas internacionais feitas para aquela que seria sua futura esposa ao voltar à terra natal. Greenaway, entretanto, empresta credibilidade ao que conta interpondo em sua composição ficcionalizada alguns filmes e fotografias de arquivo.

NA AMERICA – Graças ao sucesso de “O Encouraçado Potemkin”, Eisenstein embarcou para os Estados Unidos. Só que seus projetos não decolavam, apesar de ter amigos poderosos como Chaplin e Flaherty. Eisenstein resolveu então afastar-se de Hollywood e fazer “Que Viva México”, em dezembro de 1930, uma obra ambiciosa sobre a história de um país e sua cultura. As filmagens foram interrompidas por problemas financeiros.

BOI NEON – O cinema São Luiz reabre hoje com seu novo projetor digital e nova programação. Em caráter de pré-estreia, exibe às 19h30, todos os dias (segunda-feira é fechado), o filme pernambucano “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro. O espaço projeta diariamente outros dois filmes inéditos. O ótimo colombiano “A Terra e A Sombra” (às 15h35), e o brasileiro “O Fim e Os Meios” (17h30), com Hermila Guedes. Há ainda, diariamente às 13h50, o infantil “Hotel Transilvânia 2”. No domingo, este último exibe apenas às 10h. Ingresso custa R$ 10 e R$ 5 (meia). Na terça-feira os preços são R$ 6 e R$ 3.

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