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Críticas

A Chegada

O tempo não existe.

Por Luiz Joaquim | 23.11.2016 (quarta-feira)

Não era pouca a curiosidade por trás de A chegada (Arrival, EUA, 2016), filme que estreia amanhã no Brasil (24/11). Muito em função do nome que assina sua direção, o já comprovadamente talentoso diretor canadense Denis Villeneuve, 50 anos.

Primeira razão da curiosidade: esta seria uma produção com ares de gigante sob as mãos de Villeneuve – mas, na verdade, A chegada custou apenas US$ 47 milhões, só um pouco mais que os US$ 46 milhões de Os suspeitos (o primeiro filme de Villeneuve nos EUA e já indicado ao Oscar 2014 pela fotografia).

Segundo motivo da curiosidade. A chegada é uma ficção científica e, com não pouco estardalhaço, foi anunciado em fevereiro do ano passado que Villeneuve iria dirigir a sequência de uma das obras de ficção científica mais cultuada da história do cinema. O projeto Blade Runner 2049, que está sendo filmado hoje.

Então… A chegada seria uma espécie de prévia do que podemos esperar do ‘Villeneuve sci-fi’. E a resposta é: fiquemos tranqüilos.

Baseado no conto Story of your life, do novaiorquino Ted Chiang, A chegada tem sido comparado com o abobalhado Interestelar (2014), de Christopher Nolan. O que é uma maldade com o filme de Villeneuve.

Sua postura aqui (a de Villeneuve) está mais próxima a de um Terrence Malick, com seu A árvore da vida (2011), quando quer compor o fluxo de ritmo, tempo e sensações da sua protagonista.

Ela é a Dra. Louise (Amy Adams), especialista em lingüística, que precisa, de forma compulsória, unir-se ao físico Ian (Jeremmy Renner, Gavião Arqueiro de Os vingadores) e aos militares norte-americanos (entre eles, Forest Whitaker) para tentar se comunicar com os extraterrestres cujas naves estacionaram silenciosamente em 12 pontos distintos da Terra.

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No roteiro de Eric Heisserer (de Premonição 5), dois aspectos ajudam a conquistar o espectador, deixando-o constantemente atento ao porvir. A relação com o tempo, que, como contextualiza o filme, é utilizada de maneira particular pelos ETs, e também é aproveitado (o tempo) de forma muito particular para nos apresentar a trama e à sua protagonista.

Villeneuve não tem pressa (ainda que o faça rápido) em nos situar no que é a vida de Lousie. Uma professora que dá aulas sobre a origem da língua portuguesa – e essa deixa na abertura do filme já indica porque a tal profissional é tão importante num filme com ETs -, e que, por flashbacks, somos sabedores que Louise carrega a dor de ter perdido uma filha. Mas será isso mesmo?

 

A graça de A chegada, além do mistério bem administrado em mostrar a face dos ETs, e a muito bem elaborada metodologia para tentar fazer uma humana, especialista em lingüista tentar se comunicar com os aliens, está nesta informação de dor de Louise, que Villeneuve nós dá como certa mas torna-se no decorrer da história como duvidosa. Tudo em função do tempo.

Exceto pela música de abertura e encerramento – On the nature of daylight, de Max Ritcher – que já ilustrou muitos filmes, colando em si uma vasta relação com outras imagens e daí perdendo um tanto de sua força para a sugestão visualmente dramática, a trilha sonora original de A chegada lhe empresta sobriedade. Quem a assina é Jóhann Jóhannsonn, indicado neste 2016 ao Oscar pela trilha de Sicário, de Villeneuve, e em 2015 por A teoria de tudo, de James Marsch.

Em tempo – No Brasil, Denis Villeneuve começou sua fama a partir de Incêndios (2010), por conta da indicação ao Oscar 2011 na categoria língua estrangeira. Mas seu trabalho anterior, baseado numa história real ocorrida em Montreal no ano de 1989 quando um garoto misógino entrou numa escola e matou dezenas de meninas estudante de engenharia, é uma obra assombrosa no domínio da câmera e do controle do tempo. Polytechnique (2009) foi eleito o melhor filme canadense no Festival de Toronto daquele ano e abriu, merecidamente, as portas para Villeneuve.

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