É possível notar, por exemplo, que se a estrutura do filme segue movimentos não óbvios, que precisa ser entendida a partir dos diálogos desimportantes e  principalmente, a partir do quanto evolui a percepção que temos da personagem que  faz visitas, principalmente aquela que faz à amiga que se isola longe da agitada Seul.

Ainda sob o impacto do Oscar e a enxurrada de prêmios para Parasita, é difícil não sermos tentados à comparação. Se em Bong Joon-ho temos uma tese sobre a sociedade sul-coreana, em The woman ho ran não temos qualquer ideia generalizada do país. Trata-se de um recorte, de um estudo sobre personagens com dificuldade de entrosamento em suas relações. Não representa a solidão na sociedade sul-coreana. Até porque, foge desta pretensão.  

Hong Sang-soo é um cineasta chegando aos 60 anos, que demonstra um profundo respeito e sensibilidade para com personagens femininas. Na praia à noite sozinha (2017) é seu trabalho mais recente exibido no Brasil e é ilustrativo também desta capacidade do diretor de falar sobre coisas aparentemente pequenas e irrelevantes, porém com uma carga de sentimento que de alguma maneira seduz espectadores de diversas origens. 

E para não ficar apenas nos gatos, é preciso registrar sua expertise na direção de atrizes. Aqui ele volta a trabalhar com as premiadas Kim Min-hee e Seo Younghwa.

A maneira como o naturalismo é desenvolvido em seus filmes, com diálogos rotineiros, é o grande trunfo  de um diretor em coautoria com seus elencos, juntamente com o tratamento dado à solidão nestes tempos sombrios. Não é pouco.