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Reportagens

‘A Cor Branca’ estreia online na Rede Minas

Diretor Afonso Nunes participa também de bate-papo online com o editor do CinemaEscrito, Luiz Joaquim

Por Luiz Joaquim | 28.07.2020 (terça-feira)

– com informações da assessoria do filme. Na foto, Afonso Nunes no set de A cor branca.

O realizador Afonso Nunes preparava a estreia de seu filme A Cor Branca (2019) nos cinemas, quando a pandemia do Covid-19 chegou e o fez mudar os planos. A estreia para o público será nesta sexta-feira (31), às 23h30 na Faixa de Cinema da Rede Minas de Televisão, online para todo pelo site redeminas.tv

Antes, às 20h da noite anterior (quinta-feira, 30/7), o cineasta participa de bate-papo com o crítico e editor do CinemaEscrito.com, Luiz Joaquim, que pode ser acompanhada por sua conta no Instagram “@afonso.nunes.33”

Afonso já trabalhou com diversos atores e atrizes em seus filmes como Zezé Motta, Inês Peixoto. A Cor Branca é o primeiro longa-metragem sob sua direção e tem no elenco Regina Mahia, o músico e artista Kdu dos Anjos, Dona Laíde e Verinha Silva. A produção é da Orapronobis filmes.

O realizador começou sua carreira em Minas, 2001, com curtas-metragens em Super-8, posteriormente em 35 mm numa década (a de 2000) em que os meios digitais estavam se impondo no cinema independente em larga escala. “Talvez esta seja a origem de uma certa teimosia em ir contra a corrente das tendências do cinema e das novas tecnologias”.

O surgimento de A Cor Branca também é resultado desta postura artística. Afonso Nunes foi buscar na mineração o mote de dois de seus trabalhos: além do longa-metragem, o curta Desvio que foi uma espécie de embrião do que viria a seguir.

Ao trabalhar como engenheiro, se viu diante do ambiente hostil das minerações. Mas também encontrou uma ideia de filme: “Precisei adentrar em locais de difícil acesso ao público em geral e fiquei impressionado como o ambiente era opressor, claustrofóbico e muitas das vezes insalubres, no sentido da poluição sonora e visual”.

A partir daí começou a imaginar como seria o elenco do filme, pois “a partir dessa estratégia comecei a pensar nos atores. Queria profissionais e não profissionais. Um elenco com pouca experiência no cinema e de teatro”.

Em 2012, época em que Afonso Nunes começou a imaginar o filme, já estava bem amadurecida a maneira de possibilitar a construção do curta Desvio e de A Cor Branca: planos fixos e longos em que coubessem cenas inteiras, atravessadas pelo fora-de-campo através de sons e ações “exteriores” o tempo todo, e que influenciam esses verdadeiros “tableaux” (ou quadros) em movimento. Esta opção, arriscada cinematograficamente, foi uma aposta alta para ressaltar essas vidas retratadas, marcadas pela mineração e suas consequências terríveis. “Em A Cor Branca tudo é estático e com poucos movimentos bruscos. Confesso que essa decisão me deixou tenso até o corte final, pois não sabia se dessa loucura toda sairia um filme. Foi cruel” esclarece Afonso.

 

Crueldade que reflete a crueza da vida de uma família dependente de um tipo de trabalho tão bruto, mas ao mesmo tempo tão imprescindível para a economia do país e para as nossas vidas. Para amplificar este aspecto, Afonso investigou a fundo como os ruídos do entorno dessas vidas ajudavam a exprimir uma sensação de opressão muito grande: “Para ser sincero, foi o que me manteve no filme. Inclusive foi um objeto de pesquisa muito grande. Procurei construir um espaço-tempo marcado pelas rotinas dos seus personagens e de uma certa frequência sensorial capaz de tocar ou ativar memória do espectador e o levasse, talvez, a outras leituras fílmicas”.

O longa rodou em alguns festivais: ganhou Menção Honrosa no Construir Cine (Festival Internacional De Cine Sobre El Mundo), Argentina; foi exibido também no Festival Internacional de Cinema de Curitiba (8º Olhar de Cinema)  e também na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2019.

Influenciado por Glauber Rocha, Ozu, Maria Augusta Ramos e Jia-Zhang-ke, ressalta aos olhos do espectador esta visão altamente crítica do progresso e de suas consequências. A falta de rumo dos personagens num ambiente marcado pela destruição da natureza e pelo sacrifício diário. A Cor Branca possui afinidades com o melhor do que o cinema contemporâneo tem a oferecer desde dez ou quinze anos até hoje.

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