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Festivais

8. Olhar (2019) – 2 brasileiros

Pontuações sobre o mineiro “A Cor Branca” e o paulista “Espero Tua (Re)Volta”

Por Luiz Joaquim | 09.06.2019 (domingo)

– acima, still de A cor branca, de Afonso Nunes

CURITIBA (PR) – Como são talentosos, esses mineiros. O dia de ontem (8) viu surgir mais um longa-metragem daquela terra aqui no 8o Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba. Quem o assina é Afonso Nunes (não confundir com Affonso Uchoa, de Arábia que, a propósito, lança um novo curta-metragem hoje por aqui – Sete anos em maio).

Nunes exibiu A cor branca, seu primeiro longa-metragem. Apesar da estreia em 2019, o diretor está envolvido em realizações desde 2001. O mineiro é um personagem curioso dentro atual contexto cinematográfico de Belo Horizonte e redondeza. Sua formação é na engenharia civil e no bate-papo após a projeção de ontem contou, numa felicidade quase incrédula, que deve se aposentar por essa profissão em no máximo três anos.

Sem firulas na fala, o discurso verbal e cinematográfico de Nunes é mais sofisticado do que talvez ele possa acreditar. Quase que se desculpando, no debate, pelo particular ritmo das coisas que estabeleceu para A cor branca, Nunes não esconde a sua influência de uma estética pautada pela longa duração de planos fixos e que se estabeleceu de maneira esmagadora no contemporâneo cinema mineiro.

O bom aqui é que Nunes não é um imitador. Longe disso. Ele tem já uma assinatura e o aproveitamento ao máximo dos corpos de seus personagens dentro desses planos fixos, assim como seus deslocamentos precisos numa geografia muito bem marcada, apresentam uma beleza e inteligência raras no uso do cinemascope em filmes brasileiros.

O fio narrativo aqui segue o personagem de Regina Mahia (ótima), funcionária de uma das dezenas de mineradoras naquele estado, com condições insalubres e, logicamente, prejuízo ambiental. A propósito, o filme ganha uma nova camada após os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho (o argumentou nasceu antes disso tudo), e ainda dá espaço para uma realidade social que inclui os médicos cubanos e condenados convivendo com suas tornozeleiras eletrônicas.

Uma curiosidade, o título do filme – A cor branca – toma toda a tela em seu início e também no meio de sua duração. O melhor é não procurar respostas, muito embora a dada por Afonso Nunes no bate-papo tenha sido muito boa. Queremos mais Afonso Nunes.

Para ver o trailer, clique aqui.

ESPERO TUA (RE)VOLTA – Dirigido pela paulista Eliza Capai, Espero tua (re)volta teve suas primeiras notícias vinculadas ao Festival de Berlim deste 2019, onde foi premiado com o Amnesty International Film Prize e o Peace Film Prize do Festival de Berlim. O primeiro diz respeito a aspctos relacionadas aos Direitos Humanos aborados pelo filme e, o segundo, chama a atenção para a mensagem de paz do filme combinada a uma proposta estética original sobre esse tema.

Os dois prêmios traduzem bem o que é Espero tua (re)volta, terceiro longa da diretora. Aqui, quem nos conduz pelo o que há a ser dito são três jovem – Marcela Jesus, Lucas “Koka” Penteado e Nayara Souza – secundaristas. Com um texto um off, que se alterna igualitariamente entre eles, somos apresentados às inquietações sociais do País a partir de 2013 sob suas perspectivas.

“Espero Tua (Re)Volta”

Logicamente, o foco são as manifestações que eles participaram como secundaristas na ocupação das mais de 200 escolas em São Paulo. Fala sobre as conquistas e conscientizações que eles alcançaram ao longo dos cinco anos retratatados (2013-2018). A grande beleza, força e sedução do filme está em saber aproveitar a juventude e o dinamismo desses personagens, a começar pelo roteiro de Capai e da montagem dela com Yuri Amaral. Vê-se claramente uma pesquisa gigantesca no material aproveitado e imagina-se o pesadelo na edição para aprumar o ritmo azeitado que o documentário, com um linguajar visual tão fluido quanto o que sai da boca de Marcela, Lucas e Nayara.

Espero tua (re)volta é uma excelente trabalho não apenas para retratar essa juventude feliz e conscientes, mas também para conquistar aqueles iguais que ainda não entenderam a força que possuem. Para ver o trailer, clique aqui

* Viagem a convite do festival

 

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