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Festivais

9º Olhar (2020) – Para Onde Voam as Feiticeiras

½ crítica sobre ½ filme

Por Luiz Joaquim | 08.10.2020 (quinta-feira)

Deverá nada valer essa ½ crítica a partir da ½ sessão de um filme, mas a registramos mesmo assim. Antes da ½ crítica, explicamos a ½ sessão: durante o visionamento online (não usaremos o termo ‘exibição’) de Para onde voam as feiticeiras, filme de abertura do 9º Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, iniciado ontem (7), nossa conexão de Internet foi interrompida aos 44 minutos da extensão do documentário, cuja duração total é de 89 minutos.

Com a normalização de nossa conexão, e o consequente acesso ao filme por meio de uma necessária atualização da página do Olhar, já não era mais possível visualizar o documentário do ponto em que foi interrompido, a não ser que todo o processo de visionamento da sessão fosse reiniciado do princípio (movimento que incidiria num novo investimento – e não nos referimos a valores financeiros aqui).

Vale explicar que, ainda que o processo técnico de visionamento seja burocrático, o defeito técnico não é de responsabilidade do festival, mas sim do ‘dono do cinema’. Em outras palavras, do indivíduo que está do lado de cá da ponta com o seu hardware e a sua rede de Internet, ainda que o seu equipamento seja moderno e a sua conexão de qualidade. O problema é, enfim, do usuário (não vamos usar o termo ‘espectador’) do sistema que consome… ou seria o sistema que consome o usuário? Boa pergunta, se levamos em consideração a indignação registrada em Para onde voam as feiticeiras.

½ CRÍTICA – Se fosse uma partida de futebol, seria apenas sobre o 1º tempo do jogo que estaríamos a falar aqui. A analogia ajuda a deixar claro o quão desimportante será o texto a seguir. Mas seguimos assim mesmo, e o leitor pode parar aqui, no último ponto desta oração.

Para onde voam as feiticeiras (2020) de Eliane Caffé, em codireção com Beto Amaral e Carla Caffé (com estes assinando um longa pela primeira vez), soa, em sua primeira metade, como uma tese sem conclusão.

Introduz um dado social – há racismo, há preconceito de gênero sexual, de classe social e opressão contra os indígenas, com tudo isso banhando por toda natureza de violência (há séculos) – e, dado social colocado, Para onde voam as feiticeiras vai às ruas, ou melhor, a uma rua no centro de São Paulo, capital, para comprovar esse fato. Para exibi-lo, demonstrá-lo.

A equipe técnica e artística do filme o faz observando (e eventualmente entrando em quadro com) dinâmicas propostas por um grupo de performers LGBTQI+ pela qual interagem com os transeuntes da rua, incluindo moradores de rua. No elenco temos Ave Terrena Alves, Fernanda Ferreira Ailish, Gabriel Lodi, Mariano Mattos Martins, Preta Ferreira, Thata Lopes, Wan Gomez.

No princípio, o ódio. Séculos de opressão podem se sintetizados no grito de revolta “p** no c*” que Preta Ferreira manda como resposta para um mendigo miserável que perambula por ali e, entre um xingamento e outro contra o grupo, pede um cigarro (ou um dinheiro?).

Na sequência, a alegria e as cores dos performers interagindo com os transeuntes. Incluindo-se aí personagens guaranis contrastando com o concreto e a sujeira da metrópole, além de registro de rappers (muito bom!) e uma apresentação oriunda de um ritual musical e coreográfico do sincretismo religioso afro – aparentado com o Maracatu pernambucano.

Para onde, daí, segue Para onde voam as feiticeiras, não sabemos. Sabemos que nesta sua primeira metade, o que há de atraente é a cidade de São Paulo na forma de seus invisíveis que são visibilizados pelo filme. Falamos dos mendigos, dos transeuntes, dos curiosos, daqueles para quem o documentário quis encontrar. Fosse provocando o esgarçamento do seu ódio, fosse provocando a exposição de sua graça, estimulada pela alvoroçada performance do grupo LGBTQI+.

Entretanto, é pequeno o espaço dado aos invisíveis no 1º tempo desse jogo. Nesse sentido, essa ½ obra que tivemos acesso é feita de um acumulo de intenções e, por elas, parece que não chegaremos a algum lugar claro, ou a um lugar novo, distinto daquele que conhecemos. É só.

Encerramos reforçando: deverá nada valer essa ½ crítica a partir de uma ½ sessão de um filme.

Que estranho, esses tempos modernos.

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